— Antes de mais nada, embora a minha reação inicial seja de perguntar o que eu fiz de errado, devo dizer que o trocadilho do nome foi genial. 'Seu' Moura, Moros, como eu te chamo daqui por diante?
— Eu gosto de Moura. Não sou exibido como Eros. – respondeu o pobre senhor cego, que de pobre não tinha nada. Ele simplesmente era Moros, o deus da sorte e do destino, da morte e das criaturas do tártaro. Seu poder estava acima mesmo do de Zeus.
— Da última vez que vi um de vocês, eu tinha feito uma coisa de um jeito muito errado e, ainda por cima, descobri que fui um acidente de percurso na vida de outras pessoas. O que foi agora?
Moura terminou sua refeição, limpou os lábios em um guardanapo de papel. Encarou o jovem, ainda com um sorriso:
— Você já ouviu falar em Efeito Borboleta?
— Se você fala da série de filmes, acho uma droga. Mas se fala da teoria de que uma borboleta pode influenciar outra coisa em qualquer parte do mundo, conheço sim.
— Pois é. O bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo. Quer saber a verdade por trás disso tudo?
— Sim, claro. – disse o jovem, aproximando mais a cadeira da mesa para ouvir melhor. O senhor cego olhou para um lado, depois para o outro, como se assegurando de que ninguém prestava atenção à conversa deles. Aproximou de Caio e lhe disse baixinho:
— Porra nenhuma. Isso tudo é balela que vocês inventaram para justificar o acaso. Que, aliás, parece ser uma preocupação natural da raça de vocês: querer explicação pra tudo. Não vejo o problema em vocês terem perguntas. Eu não gosto das justificativas que vocês usam para as respostas.
— E o que isso tem a ver comigo?
— Você usou a Lágrima de Cronos para voltar no tempo e desfazer o seu namoro com Alberto, pelo simples fato de você ter sido um erro de percurso no relacionamento dele com Leonardo. Achou que isso ia te fazer se sentir melhor.
— Foi o mais sensato para mim na hora. Se eu era o problema na equação, a única maneira de resolvê-lo era saindo da vida dele. Mas eu também queria parar de sofrer por um amor que nunca seria correspondido.
— E agora você tem um Alberto com uma crise matrimonial e supostamente apaixonado por você. Você continua sendo o erro de percurso, certo?
Caio não tinha o que responder. Não havia maneira melhor de definir aquela situação. Se antes na Terra Prime ele fora um contratempo que atrasou Alberto e Leonardo de ficarem juntos, agora ele estava sendo o principal responsável pela separação do casal. Mas ele ainda tinha um trunfo...
— Você deve estar pensando se deve usar o segundo salto para voltar e tentar desfazer o que fez aqui, refazendo as coisas como eram antes. – comentou o velho senhor, como se adivinhasse os seus pensamentos.
— Como você sabe que eu não usei o segundo salto? – disfarçou.
— Porque fui eu que criei a Lágrima de Cronos.
— Oi?
— Reza a lenda que, eras atrás, eu peguei três flechas de Eros. E passei uma parte da minha energia para elas. Elas ficaram conhecidas como Flechas do Destino. Possuem o poder de fazer o tempo voltar até o Caos, fazendo com que tudo começasse novamente. O que vocês chamam de Big Bang.
— Sério? – perguntou o jovem, boquiaberto de incredulidade.
— Para isso, tudo o que é necessário é que a pessoa dispare as três flechas juntas, no mesmo arco. Mas fique tranquilo que Eros só possui uma delas. A segunda está num dos meus templos perdidos e a terceira presa em alguma árvore no planeta. Talvez na Amazônia, ou Fiorland. Quem sabe em Bwindi? – sorriu, dando de ombros.
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Caio não acredita no amor
General FictionDepois de uma desilusão amorosa, Caio decidiu não mais mais acreditar em amor. O que ele não imaginava eram as consequências dessa atitude.