O chato de saber como as coisas vão acontecer, é de reviver os dias chatos. Caio lembrava que aquela sexta-feira havia sido tranquila, porque estava com todos os trabalhos em dia. Mas como dessa vez usara a vantagem de já saber como algumas coisas iriam acontecer, seu trabalho estava excessivamente adiantado. Custou até o ponteiro do relógio chegar às cinco e meia. Mas lá estava ele, livre leve e solto, em direção ao Café Geek, ao encontro de Mauro, Mário e Marlon - os Três Marias.
Chegando lá, os mesmos abraços calorosos. Mesmo pedido ao atendente. Mesma empolgação do trio.
— Bom, como diria Shakira, estoy aqui. Qual é a novidade?
Mesma sincronia para mostrar os três anéis de noivado. Realmente eram muito bonitos. Caio de indagava quantas vezes os três haviam ensaiado a coreografia para aquele momento. Encarou os anéis por longos instantes e disse, empolgado:
— TRIFORCE! Que maneiro!!! Mandaram muito bem!
— Não é? – falou Marlon, também empolgado. – Como nós amamos Zelda, resolvemos imortalizar o nosso amor pelo jogo em nossas alianças!
— Acho digno. E quando é o casório?
— Vamos realizar a cerimônia lá na cobertura do meu tio, na Barra. – disse Mário. - Apesar do Marlon ser ateu, ele aceitou numa boa que uma amiga da minha mãe, que é espírita, formalizasse a união.
— Vai ser uma coisa simples, só uns amigos chegados — continuou Mauro — Vai ter uns comes e bebes.... E nós te chamamos aqui porque temos um convite especial para te fazer....
— Nós queremos que você seja o nosso padrinho, Caio — terminou Marlon, sorridente.
Os segundos se arrastaram por longos instantes. Matematicamente falando, era como se a empolgação do trio fosse inversamente proporcional à reação de Caio. Até que Marlon quebrou o silêncio:
— E então?
— Tava absorvendo a informação. Rapazes, vai ser uma honra!!
Os três se jogaram num abraço coletivo pra cima de Caio, que ainda sentado na cadeira, sentiu-se como naqueles desenhos animados antigos que, nas partidas de futebol americano, os grandalhões se jogavam encima de quem estava com a bola.
— Ah, e tem mais uma coisinha... Gostaríamos de pedir um presente.
— Sabia! E eu achando que seria padrinho só pela amizade. – respondeu Caio, fazendo uma cara de desconfiado.
— Gostaríamos que escrevesse algumas palavras para falar na cerimônia.
— É moleza para você. E ficaríamos muito felizes.
"Safados!" – pensou Caio. "Não havia 'punição' coisa nenhuma! Desde o início, brigando ou não eles iam pedir o discurso! O que a gente descobre quando viaja no tempo!". Fez uma cara de pensativo e por fim aceitou dar o presente aos noivos, que vibraram ainda mais de alegria!
— Então está combinado. Vai ser nesse domingo. Tô te mandando uma mensagem com o endereço. – falou Marlon, começando a digitar no smartphone. Logo os pedidos chegaram e o quarteto papou por mais algum tempo. Foi inevitável para Caio ficar prestando atenção ao redor, para uma repentina aparição de Eros. Ou, pior ainda: de Alberto e Leonardo. Resolveu perguntar num ar inocente, enquanto os pedidos chegavam a mesa.
— E quem mais vocês chamaram para a cerimônia?
— Bom tem o Max, o Pedro... – respondeu Mário, olhando para Mauro.
— Chamamos a Carol, a Aline... - completou Mauro, olhando para Marlon.
— Tem também o Leonardo. Mas esse eu não sei se você conhece. Ele é lá de Porto Alegre, como você. – completou Marlon, olhando para Caio.
Leonardo. Claro que era o Meia Tartaruga Ninja.
— Lembrando que eu nasci aqui no Rio, mas meus pais se mudaram cedo pra Poá. E tipo, Porto Alegre não é uma cidade de interior em que todo mundo conhece todo mundo.
— Leonardo Rafaelo. – explicou Mário – A gente conheceu ele numa Campus Party, em Sampa. Hoje em dia ele está casado. Achei que conhecesse porque ele trabalha como designer Gráfico e é casado com um dono de uma agência.
Caio deu de ombros.
— Ah, claro. É que nós redatores, designers gráficos e publicitários temos uma conexão telepática que faz com que todo mundo conheça todo mundo. – rindo. – Mas não sei quem é esse sujeito, não.
— Eles estão visitando a cidade. O Leo é padrinho de casamento da irmã, que vai ser no sábado. - explicou Mauro – E parece que eles vão aproveitar e ter uma segunda lua de mel.
Algumas coisas não mudaram nessa linha temporal. Nada daquilo que lhe foi dito era novidade, mas mesmo assim foi incômodo para Caio saber, ou melhor ressaber, daqueles detalhes. De certa maneira sentiu-se aliviado em ver que já não doía tanto quanto antes. Que em vez de não acreditar que algo como o amor não existia, hoje em dia pensava que, se ele existisse, apenas não funcionava com ele.
O papo continuou por mais algum tempo, mas o rapaz resolveu se despedir dos três amigos e ir para casa. Estava chegando ao fim os quatro anos de spoilers. A partir daquele domingo, ele voltaria a ser como todo mundo e não saberia o que o amanhã lhe reservaria.
Mas até lá ainda teria o sábado para aproveitar!
E dormiu o dia todo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caio não acredita no amor
General FictionDepois de uma desilusão amorosa, Caio decidiu não mais mais acreditar em amor. O que ele não imaginava eram as consequências dessa atitude.