Não fui eu e já estava assim quando eu cheguei

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Caio custou a pegar no sono naquela noite. Estava sentindo-se confuso e com raiva. Aquele beijo roubado que Alberto lhe dera no carro havia mexido com ele. O seu coração pulsou numa intensidade como há tempos não sentia. E sentia raiva de si mesmo por causa disso. Ficou durante anos se blindando e na primeira oportunidade já está caidinho de novo pelo ex. E olha que dessa vez Alberto nem era o seu ex-namorado nessa linha temporal.

"E esse papinho de apaixonado? O cara vem e diz que só porque viu uma foto sua há quatro anos e trabalha comigo há pouco mais de um mês e vem com essa de estar apaixonado? Faça-me o favor!" – indagava o jovem, revolto em seus pensamentos. "Me usar como desculpa para uma foda só porque o casamento dele está em crise? Vão se foderem!!" - pensou, do jeito errado que costumava usar por brincadeira.

E sentiu-se idiota por todos esses anos pela raiva que sentia de Leonardo, o Meia Tartaruga Ninja. Pensando bem, o certo seria Dupla Tartaruga Ninja, já que o nome dele era Leonardo Rafaelo. "Nem para apelidá-lo fui feliz." – riu de si mesmo. Mas a verdade era que, durante anos, culpava o rapaz por sua infelicidade. Aquele que tinha destruído a sua vida amorosa. Que piada. No fim das contas o errado nessa história não era ninguém senão ele mesmo.

Mas uma coisa que não mudava era que ele, Caio, foi um erro de percurso de Eros na vida do casal. Então, no final, o seu afastamento fez mais bem do que mal para todos. E, parando para analisar friamente, depois de hoje, teve a certeza que o seu relacionamento com Alberto não teria durado muito além. Se não fosse Leonardo, seria outro cara, outro motivo...

Quando finalmente conseguiu pegar no sono, subitamente o alarme do telefone toca, anunciando o novo dia que se iniciaria.

"Chega de lamentações." – disse a si mesmo enquanto levantava da cama.

- - -

Mal entrou no metrô e as primeiras mensagens do whatsapp de Max pipocavam na tela do seu iPhone.

"Bom dia, flor do dia!"

"Modo Zumbi. Mal dormi essa noite."

"O que aconteceu? Que horas você saiu do escritório ontem?"

"Lá pras 11. Você já chegou?"

"Já sim. Snape tb."

"Como está o humor dele?"

"Entrou na sala e não saiu nem falou com mais ninguém desde então."

"Ok, devo me atrasar um pouco."

"Bjo."

Saindo do metrô passou em um mercadinho e comprou seis latas de energético. Ia precisar para aguentar o dia. Com certeza, os chineses iriam pedir uma ou dez alterações no material enviado. Para complementar, foi até a cafeteria e pediu um cappuccino triplo e uma dose extra de pão de queijo.

No elevador, mais uma mensagem de Max pelo whatsapp:

"Snape pediu para que assim que vc chegasse, fosse direto pra sala dele."

"Ok, estou no elevador."

"Aconteceu algo?"

"Que eu saiba, não." – mentiu.

Como era bom poder entrar no escritório e ver que o ar-condicionado estava funcionando a pleno vapor! Era como adentrar num paraíso. A primeira coisa que Caio fez foi guardar os energéticos na geladeira. Deixou o cappuccino e os pães de queijo em sua mesa e foi a sala de Alberto.

Bateu três vezes na porta antes de abrir. Ao entrar, Alberto estava sentado em frente a sua mesa, digitando algo em seu Macbook.

— O senhor queria falar comigo?

— Sim, por favor. Sente-se.

Ao sentar-se, pode reparar no estado do seu chefe. Apesar do terno impecável, as olheiras não disfarçavam o cansaço. Pelo visto ele também não tinha tido uma boa noite de sono. Foi encarando o rapaz que ele começou:

— Olha, sobre ontem...

— Eu sei o que você vai dizer. – interrompeu Caio. – Você agiu por impulso, estava confuso e queria pedir minha discrição e que nada do que aconteceu fosse comentado, certo?

Alberto, encarou o rapaz, perplexo. Por fim, sorriu.

— Incrível como até nessas horas você tem uma explicação.

Dessa vez foi Caio que teve que disfarçar sua perplexidade. Já ouvira aquelas mesmas palavras antes, na Terra Prime.

— Mas eu não ia dizer nada disso. – continuou.

"Oi?" – surpreendeu-se Caio.

— O Leonardo vem na segunda aqui para o Rio. Então, vou conversar com ele e terminaremos tudo.

"Isso não está acontecendo...".

— Como assim? – perguntou Caio, se fazendo de desentendido.

— Não é obvio? Você falou ontem sobre eu pesar minha relação e fazer escolhas. Eu escolhi você.

Caio não acredita no amorOnde histórias criam vida. Descubra agora