Mal Caio chegou do almoço e já foi chamado a sala do chefe. Seu novo chefe, que numa linha espaço-temporal diferente fora o seu namorado. O jovem já esperava por esse primeiro contato. Pensou bastante enquanto devorava três Double Damage Morango no almoço, mas não havia decidido se usava o segundo salto da Lágrima de Cronos – e com isso voltaria de novo no tempo para evitar mais essa situação ou pedir demissão ali mesmo e recomeçar a vida em outro lugar.
Bateu na porta do escritório do chefe. Ouviu um "entre" com aquela voz grossa, porém suave, que conhecia tão bem e entrou a sala. Alberto estava sentado na cadeira que outrora foi de Paulo em frente a sua nova mesa. E ao seu lado Sérgio, um dos meninos do TI, explicava na tela de um MacBook o funcionamento dos servidores na agência. Fez um sinal para que Caio sentasse na cadeira a frente.
— Bom, Sérgio, amanhã você continua a me pôr a par de como as coisas funcionam por aqui, ok? – Mal terminou de falar e o rapaz saiu da sala. Alberto então voltou a sua atenção para Caio. — Então, Caio... me diga: a gente já se viu antes?
A princípio estranhou a pergunta, tão direta. Pensou em paradoxos no espaço-tempo, realidades alternativas e por fim, batata frita. Achou que tinha que ser o simples e direto, sem transparecer nervosismo:
— No casamento dos Três Marias. O senhor elogiou o meu discurso.
— Por favor, nada de "senhor". Mal cheguei nos cinquenta. – respondeu, sorrindo. - É que eu achei que já tínhamos nos visto antes.
— Difícil... vai ver porque sou um tipo bem comum.
— Pode ser.
O jeito que Alberto fitava o jovem era desconcertante. De certa maneira ele sabia o que aquilo significava. Se como namorado Alberto era um Daddy Bear, todo atencioso, carinhoso e protetor, como chefe ele era um urso sanguinário e impiedoso, porém justo. Esse era um dos motivos para Caio nunca ter trabalhado com ele enquanto estiveram juntos, embora Alberto tivesse insistido várias vezes. Se não soubesse que o namoro dos dois foi um erro de percurso, diria que esse foi um dos fatores dele ter se interessado por Leonardo.
Naquele exato momento, sabia que estava sendo avaliado por Alberto. E com certeza, ele começaria com uma pergunta do tipo:
— Então me fale... quais são as suas perspectivas aqui na empresa?
— Enquanto eu me sentir bem, pretendo continuar aqui.
— Hum... Eu vi na sua ficha que você morava em Porto Alegre. Por que se mudou para o Rio?
"Para fugir de você, pois em outra linha temporal o próprio cupido me disse que o namoro que tivemos foi um erro de percurso e como eu não soube lidar bem com isso voltei no tempo e reescrevi a nossa história".
— Eu meio que me enjoei de Poá. E fora isso, eu nasci aqui no Rio. Não gosto de me fixar em um lugar, entende?
Alberto fitava Caio, pensativo.
— Por que escolheu social media? Você é um ótimo redator. Aquele discurso no casamento dos meninos foi excepcional.
— Gosto de desafios. E fora isso posso usar o que sei de redação.
— Hum. E seu quisesse remanejar você para alguns projetos que necessitem das suas habilidades de redator, teria algum problema?
— Acho que não, senh-quer dizer, Alberto.
— Ok. Acho que terminamos. Pode voltar a sua mesa. E por favor, mande aquele rapaz, o Max vir aqui, por favor.
Caio saiu da sala, aliviado. Porém ainda sentia pairar uma sensação ruim no ar. Talvez fosse paranoia, medo de surpresas. Foi até a mesa de Max para lhe avisar que o chefe queria lhe falar.
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Caio não acredita no amor
General FictionDepois de uma desilusão amorosa, Caio decidiu não mais mais acreditar em amor. O que ele não imaginava eram as consequências dessa atitude.