CAFÉ QUENTE.

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As escadarias do Colégio Blue Coat nunca vão parecer tão desafiadoras como agora. Meu estômago se embrulha quando percorro o olhar pelos degraus. Lá no topo está Sophia, sentada em um canto, enrolado seu cabelo loiro nas pontas dos dedos.

— Hey, Soph!

Eu a chamo, mas no mesmo instante alguém começa a saudar os novos alunos com um mega fone.

Subo todas aquelas escadas e antes de me sentar ao lado dela, vejo o que não vi quando estive aqui pela primeira vez: há várias barracas e foodtrucks espelhados pelo pátio, e uma cafeteria bem próxima de nós, tão próxima, que sinto o cheiro bom de café.

— Esse cheiro me faz lembrar de Manchester e de como o café de lá é bom — comento.
— Esqueça Manchester. Vamos entrar.

Ela levanta e me estende a mão para que eu faça o mesmo.

Meu armário era no canto direito, e o de Soph na parede oposta da minha. Comparamos nossos horários de aulas e só teríamos a aula de educação física na quarta-feira juntas.

Comecei a repetir a senha do meu armário "3682" mentalmente enquanto caminhávamos até o fim do corredor. 

— Minha primeira aula é de espanhol, e você? — ela pergunta.
— Álgebra.

Nós duas viramos em corredores distintos. Começar o ano letivo com espanhol e álgebra era decepcionante.

Mas havia sim, algo muito pior e  decepcionante que parecia me esperar propositalmente na porta da sala: Alice.

— Bem vinda ao Blues! — Ela ergue os braços, e todos da sala olham para nós.
— Obrigada — digo, forçando um sorriso e entro na sala.

Passei mais de 40 minutos com ela em silêncio no mesmo ambiente, era um recorde.

A melhor parte do intervalo era poder comprar um daqueles cafés com creme. A moça parecia muito feliz para quem levanta cedo para preparar café para um bando de adolescentes que precisam de energia. Talvez ela não ache ruim servir adolescentes. Eu que não via o lado bom. Adolescentes podem ser legais quando querem.

Coloquei a ponta do canudo na boca e puxei o plástico em volta dele. Enquanto isso, vi Sophia atravessando o pátio. Ela não me viu, mas pensei em entrar na fila para pelo menos guardar seu lugar.

— Olá!
Hola! — ela arrisca no espanhol.
Aceita um café com creme delicioso?
— Claro, mas será que eles injetam cafeína na veia?
— Eu acho que não...

Ela sorri e joga cabelo para o lado, metade da fila olha quando ela se junta a eles, e eu posso ter certeza que todos a acham a garota mais bonita desse lugar.

Com nossos copos fumegantes, e um pouco de curiosidade, começamos a andar pelo colégio. A procura de tudo que ainda não tivemos a chance de ver, como por exemplo, o refeitório, que estava tão cheio, que sair de lá eram impossível. Soph estava logo a minha frente, e segurava meu pulso com uma mão e seu copo de café ainda cheio com a outra.

Algo bateu nela e ela bateu em mim. O café quente dele respingou no dorso da minha mão, e sujou a manga do meu suéter. Mas com Sophia foi pior. Ela gritou algum palavrão e passou entre as pessoas que começavam a abrir espaço quando percebiam o incidente.

— Me desulpe, eu juro que não te vi.

Foi quando vi a figura de um garoto alto de cabelos castanhos claros e ondulados parado diante de nós.

— Meuz peitos estão queimando! — Ela passava a mão incansavelmente por cima do suéter.
— Vamos limpar isso! — falei.

O garoto olhou para mim e eu curvei os lábios em um sorriso contido, afim que ele entendesse como um "está tudo ok".

A Teoria da DamaOnde histórias criam vida. Descubra agora