O PAR DO PRÍNCIPE.

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Não quero saber dos termos médicos complicados que ouço enquanto eu continuo piorando a cada segundo. Não quero eles me dizendo para resistir se eu não sei o que fazer. Há algo que eu possa fazer por mim mesma? Estou em coma, certo? No grau sete. Será que realmente eu tenho chances?

Ouço uma moça dizer que é a "dona do meu caso" ela se apresenta como Alissa e é uma assistente social. Me senti um nível a baixo das pessoas normais por saber só agora que hospitais contam com assistentes sociais. Fico sabendo também que tenho um tubo enfiado dentro da minha garganta, que eu não estou respirando sozinha e que há muitos exames a serem feitos.

— Foi um acidente de carro. E pela gravidade, ela me surpreende. Alguns no lugar dela já estariam no IML.

— E quais são as chances dela?

— Nós vamos fazer de tudo por essa menina. Então são grandes, enormes se ela colaborar conosco.

Sempre me considerei uma pessoa agitada o suficiente para não conseguir me manter sentada por mais de uma hora sem quase morrer de agonia. Deve ser exatamente por isso que eu roou minhas unhas durante as aulas. Mas pelo incrível que pareça, eu fiquei ali. Sem sentir meu corpo, mas ouvindo tudo e respondendo mentalmente cada pergunta e afirmação.

Fui transferida para um quarto mais completo — assim como a moça que cuidava de mim me contou, enquanto ia empurrando e eu ouvia as rodinhas da maca fazem barulho.

Pensei na minha mãe e no quanto eu queria que ela não passasse por isso, nem ela, nem ninguém. Fico imaginando a reação de todos que ficaram sabendo que eu estou no hospital. Será que vão poupar alguém da notícia?

A equipe médica me instalou no novo quarto, e meu médico, me contou brevemente como o lugar era. Sim, ele e as enfermeiras conversavam comigo como se soubessem que eu estava ali, e ouvindo tudo. Foi quando eu recebi duas notícias que julgo serem as mais importantes de toda a minha vida: eu estava respirando sozinha e logo eu vou poder receber visitas.

Quando a última enfermeira se despediu, eu esperei ouvir os passos dela, e quando foram ficando cada vez mais longe até não serem possíveis de ouvir, me senti horrivelmente sozinha.


XXX

Ouço alguém fungar, e então uma respiração rápida se aproxima.

— Eles dizem que você pode me ouvir.

Mãe?

— Se você estiver mesmo me ouvindo, eu quero que você saiba que ainda tem muito para viver.

Eu sei.

— Não precisa se preocupar com o Noah. Ela está ótimo... por que você não estava de cinto como ele?! Por quê?!

Porque eu queria pegar a revista da Soph, mãe.

— Seja como for, eu espero que você não esteja sofrendo. Do fundo do meu coração, você é muito nova para passar por isso tudo.

Idade não significa nada. Nada mesmo.

— O seu médico é o melhor. Eu acreditei nele quando ele me disse que você vai conseguir sair dessa. Eu queria poder ficar aqui com você, mas já tem gente me mandando sair.

Mãe, fica!

— Eu volto. Te amo, tchau.

Ouço os passos de Abby e um pouco da conversa dela com Alissa. Alissa pergunta se veio alguém com a minha mãe, e ela responde que todos que são importantes para mim estão ali. E então eu me lembro de Mark, não que eu não tenha lembrado dele enquanto estou imóvel aqui. Ele é a parte mais legal da minha existência e mais conturbada também. Pensando bem, eu gostaria de receber a visita dele agora, e o ouvir dizer o que eu já decorei. Essa seria a nossa prova final. Ou passamos por ela juntos ou ele será apenas o passado pelo qual eu tento não ser apaixonada.

A Teoria da DamaOnde histórias criam vida. Descubra agora