Eu não sabia por onde começar, na verdade, nada saiu como o planejado, mas ainda bem, porque eu planejei tudo errado.
Decidi arrumar meu quarto naquela tarde de sábado, antes de dar hora de Noah me buscar para comprarmos CDs novos no shopping da cidade. Mas eu não planejava achar caixas abandonadas em cima do meu armário, uma série de cartas que eu escrevi quando tinha de 5 anos até quando escrever cartas se tornaram infantis demais. Eu dizia que tinha a melhor mãe do mundo e que meu pai era um herói. As coisas não mudaram muito, só as acho muito brega. Espero que Abby e Parker saibam o quanto eu os amo mesmo sem escrever cartas quilométricas com incansáveis "eu te amo!" todos os dias.
A campainha tocou e eu sabia que era ele, minutos depois, Soph para no batente da porta e me avisa que ele está me esperando na sala.
Do topo da escada, eu chamo sua atenção e digo:
— Acho que estou um pouco atrasada.
— O que houve?
— Nada. Eu só estava arrumando algumas coisas e não vi o tempo passar, mas é só um banho super rápido e eu já desço, ok?
— Ok, eu espero por você.
Eu sorri para ele e pedi que Sophia fosse minha fashion stylist por um dia para poupar meu tempo escolhendo uma roupa.
XXX
— Uau! — Sorri segurando o fone nos meus ouvidos, sentindo o quanto era incrível ouvir a minha música favorita em fones com alta qualidade.
Se mais alguém além de Noah pudesse me ver ouvindo os primeiros 30 segundos de todas as músicas dos The Vamps naquela loja, provavelmente me achariam louca. Mas talvez eu seja.
— Eu quero que essas músicas toquem no meu funeral.
Falei podendo ler os lábios de Noah se moverem em um "não fala isso"
No fim, eu comprei os fones ultra maravilhosos, e quatro CDs dos The Vamps para deixar em lugares diferentes. O primeiro no som do meu quarto, o segundo no som da sala, o terceiro no carro do meu pai, e o quarto no carro da minha mãe.
Demoramos alguns minutos para achar o carro no estacionamento do shopping e mais alguns minutos testando os nossos CDs. Noah havia comprado os discos do The Neighbourhood e o novo do Troye Sivan. Durante metade do caminho fomos escutando sua nova aquisição.
— Você já viu a matéria que a revista fez com a Soph? Ela fotografou em Los Angeles!
— Eu comprei a revista, mas ainda não tive tempo de ver. Tá no banco de trás, eu acho.
Olhei para trás e vi que ali tinha de tudo. Uma bagunça que ia de condicionador de cabelo a um par de patins azul.
— Vou procurar — avisei e Noah aumentou o som da música.
We are runnin' so fast (nós estamos correndo tão rápido)
And we never look back (e nós nunca vamos olhar para trás)
And whatever I lack, you make up (e tudo o que falta em mim, você tem)
We make a really good team (nós fazemos uma boa equipe)
And though not everyone sees (e embora nem todos vejam)
We got this crazy chemistry (temos essa química louca)
Between us (entre nós)
Soltei o cinto de segurança e passei para o banco de trás, mas algo me dizia que eu não deveria ter feito isso. A freada brusca do carro me fez olhar para frente e me dar conta em milésimos de segundos que perdemos o controle.
Literalmente.
Troye cantava "for him" repetidamente: "you don't have to-o-o-o say I love you to-o say I love-e-e-e you-u-u"
Meu celular e a revista em minhas mãos voam atravessando o vidro já em cacos junto comigo. Tudo ia girando, girando, girando, até eu perder a consciência, e nem me sentir mais viva.
XXX
— Ela é Lily Brandt. Acidente de carro. Chamem o traumatologista.
— Paciente entubada.
— Sedada.
— Coma.
— Grau sete.
Eu achava que estava acordada. Mas a verdade era que eu não imaginaria estar consciente de novo.
Eu não via, não sentia, não falava, não me movia. Apenas estava ali, ouvindo e entendendo tudo o que se passava ao meu redor. Como uma estátua, porém, viva... Eu estava viva, certo?
Meu corpo contraiu e eu ouvi "bipes" incessantes. Acho que estou morrendo.
Esperei que a minha vida passasse diante dos meus olhos como dizem por aí. Mas nada aconteceu durante intermináveis minutos ou segundos, eu não sei. Então, comecei a acreditar na teoria de que a minha vida era — ou foi — isso mesmo: nada.
Todas as pessoas que eu amo não precisariam se preocupar comigo. Mark não precisa de mim para viver a vida luxuosa que sempre quis. Lauren tem Sophia, mas ainda assim, eu queria estar por perto quando ela dissesse a primeira palavra. Sophia é mais independente que muitas pessoas por aí. Bradley vai ter fãs, e vai dizer a elas o que me dizia. Noah vai ser para outra tudo o que foi para mim. Meus pais não vão repetir os mesmos erros. E eu vou assistir tudo daqui, ou de onde eu estiver.
— Continue calma, mas nunca pare de lutar — ouvi claramente a voz masculina me dizer, me fazendo acreditar que eu poderia sair daqui viva.
Alguém pode me ajudar?
Existem várias formas de morrer, mas acredito que essa seja uma das piores. Talvez eu esteja em uma maca, em um hospital movimentado, sem saber o que está acontecendo comigo e muito menos com Noah e isso torna tudo assustador, não saber de nada é muito assustador.
Sinto minhas entranhas se contraírem outra vez. Se esse for o processo de morte, nunca achei que fosse tão agoniante.
— Ela está estável, agora é questão de tempo.
— Os parentes ainda estão aqui, posso liberar a visita?
— Não. Ainda não.
Consigo até ouvir os "bipes" e a respiração das pessoas ao meu redor. Quero sair daqui, quero muito ir embora.
— Ela vai resistir, não vai princesa?
Isso é comigo? Se sim, eu preciso resistir.
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A Teoria da Dama
Novela JuvenilVocê pode pensar o que quiser sobre o amor. Pode até acreditar na teoria de que ele realmente não exista. Mas Lily sabe o quanto amar foi divertido e doloroso para ela. Depois de se mudar da magnifica cidade de Manchester, no Reino Unido, Lily come...