1º.☪

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Consigo listar as diferenças que adquiri tanto fisicamente quanto mentalmente desde meus seis anos. O crescimento e amadurecimento é um ciclo tão natural que não me dei conta quando aos poucos fui evoluindo.

Existem aqueles que mudam para melhor, porém existem os que retardam no tempo, perdendo sua real face, e a nova está coberta por tantas camadas que complica o processo de evolução.

Eu não estive presente para listar as diferenças que ele adquiriu, no entanto não precisava de muita observação para perceber suas mudanças tão drástica que hoje me fazem ver como outra pessoa.

Guardo memórias de uma alma perdida, e essa alma fez parte da minha.

Amber preencheu meu campo de visão assim que sai de meu quarto. O dia mal havia começado, porém seu rosto já estava pintado repleto de maquiagem. Minha irmã sorri para mim, um sorriso que mostra todos os seus dentes e revela a felicidade da mesma. Não entendia o motivo de tal felicidade, pois para ela pode ser legal gemer a noite toda de seu quarto, mas para minha pessoa, seus sons me davam uma grande dor de cabeça.

— Bom dia, Rosie — disse ela, puxando uma pêra da fruteira que se encontrava em cima da ilha existente na cozinha.

— Bom dia, uh? — arqueie a sobrancelha, fazendo assim uma pergunta em relação ao cumprimento da manhã.

Amber apenas corou levemente, dando uma mordida em sua fruta e tentando esconder o sorriso pervertido de seu rosto. Foi mais uma noite em que seu namorado tivera ido até seu quarto, e eu tentei abafar os sons com fones de ouvidos, mas era muito complicado não escutar os ruídos devido a parede fina de cor branca que separava nossos quartos.

Arrumo a pequena franja em minha testa, observando as marcas no pescoço de minha irmã. O relacionamento dela e seu namorado era algo muito confuso para minha compreensão, éramos para sermos mais unidas que irmãs normais visto que somos gêmeas. No entanto, a nossa história era um pouco complicada de lidar.

Voltar a minha cidade natal me deixou animada apenas por um motivo; meu único amigo que deixei em Cambridge assim que fui levada para o Canadá, pois meu pai havia sido transferido para trabalhar em uma das províncias do país; Quebec sendo mais específica. Não tive tempo para fazer amigos em Saguenay - a fria cidade na qual morava - meus dias eram corrido e fazia trabalho de casa sem ajuda de Amber, ela saia quase todos os dias e deixava as atividades de casa apenas para minha pessoa. Então assim Amber desenvolveu grande facilidade em conversar com pessoas, já eu, continuo sem amigos.

— Qual seu primeiro horário? — minha irmã pergunta.

— Física

— Ew! Mesmo horário que o de Harry.

Tenho certeza que era o mesmo horário que o de Harry, pois há dois anos atrás, justamente em uma aula de física fui obrigada a cortar meu cabelo por conta do rapaz em que minha irmã citou.

Naquele dia eu sentei na primeira carteira como de costume, retirei todos os meus materiais organizando tudo devidamente em seu local. Estava chamando um pouco de atenção antes mesmo da aula sequer começar, por conta do fraco barulho que o apontador automático fazia enquanto apontava meu lápis de cor cinza.

Eu tinha quinze anos, e me assustei bastante ao perceber que estava tão atenta ao apontador que não percebi quando revelaram que senhor Traylor não pôde comparecer à aula marcada da segunda. Pareceu eternidades, porém, após longos minutos consegui fazer com que o lápis obtivesse a ponta que desejava.

Os verdes de seus olhos sempre me traziam algum tipo de sentimento e, ao notar a sala vazia e apenas um par de esmeraldas postos sobre mim, o sentimento que se apoderou em meu corpo era puro medo. Eles estavam mais escuros e não possuíam mais o brilho que continham quando Harry possuía sete anos, fora que ainda era intrigante observá-lo com a pele marcada com tinta e o piercing situado a cima da sobrancelha escura do mesmo. Os cachos que enfeitavam sua cabeça estavam mais desenvolvidos, chegavam a passar muito mais do que seu ombro.

Harry estava bem na cadeira ao meu lado, me observando descaradamente sem ao menos tentar disfarçar. Comecei a guarda todo os meus materiais, rezando para que ele não gozasse com minha pessoa mais do que já fazia.

Desde o dia em que voltei de Saguenay o primeiro contato que tentei fazer com ele, não ocorreu muito bem, e ainda lembro perfeitamente do empurrão proposital que o mesmo me lançou enquanto passava bruscamente por mim, ao mesmo tempo que meus livros caiam sentia a confusão me assustar friamente. Ele foi meu melhor amigo de infância, e foi desta forma que me deu boas-vindas?

Não preciso contar no susto que tomei assim que ele levantou-se da cadeira, vestido com roupas de cor escura e com o olhar tenebroso que causava frio em minha espinha.

— Olá, Angel — ele proferiu com sua voz que agora era bem mais rouca e abruptamente imobilizei meus movimentos.

Pensei em responder, mas não conseguia falar, após nove anos era a primeira vez em que Harry direcionava a palavra para mim, porém, em todas as manhãs o seu modo de me falar bom dia era com um enorme esbarro em minha estrutura.

— Tenha um bom dia. — ele falou.

Lembro que fiquei estática ao sentir seus lábios em meu cabelo, depositando um longo beijo. A respiração me foi cortada ao perceber que talvez ele não tivesse mudado tanto quanto havia pensando. Assim que Harry foi embora com um sorriso de lado maquiavélico, levei minha mão até o topo de meus cabelos e percebi que os mesmos estavam emaranhados em algo que os fazia grudar.

Naquele manhã Harry colocou um chiclete em meu cabelo e Amber demonstrou seu carinho por mim, me alegrando para que eu parasse de chorar e ela cortou meus cabelos dando o jeito para que não tivesse que os cortar por completo, mas a parte da frente foi necessário cortar, contudo, minha irmã conseguiu arruma-los e deixou uma franja a cima de minhas finas sobrancelhas.

— Harry nunca mais fará isso com você — ele me abraçou enquanto sorria tocando minha franja — É só ignorar ele. — completou.

— Eu prometo que as coisas vão melhorar — completou ela, novamente.

Eu acreditei fortemente em suas palavras, me deixando dormir enquanto Amber fazia carícias em meu cabelo.

Hoje, vejo Harry até fora da escola, em minha própria casa, pois o mesmo, é o namorado de minha irmã.

Memories » H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora