14º.☪

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Amber está de castigo. Realmente acreditei que talvez ela pudesse omitir a história da festa caso eu não contasse nada a meu pai, porém minha irmã foi idiota o bastante para deixar de arrumar a bagunça da festa pela tarde, e quando papai e eu chegamos perto do sol cruzar a linha do horizonte se partindo, encontrámos Amber juntando copos do lado de fora da casa.

Duas semanas sem celular para mim não faria diferença, muito menos estar proibida de ir em festas, mas a Amb, aquilo foi como jogá-la no inferno, e quando papai pronunciou seu regime de ações e objetos do castigo dela, Amber gritou furiosa que o odiava. Fiquei encolhida no canto da sala enquanto presenciava a cena. Minha irmã não devia jogar sua raiva em cima de alguém que só quer protegê-la, afinal, ela nunca ouviu nosso pai falar que nos odeia quando fazíamos algo extremamente errado. Não que eu ache que seja certo segurar as palavras e fingir amor onde existe ódio, porém, ao menos que tenha certeza absoluta sobre os sentimentos é melhor repensar antes de liberta-los. Acredito firmemente que os sentimentos são coisas difíceis de lidar, então jogá-los aos ventos é como segurar uma forte arma. Além do mais, alguns "eu te amo" são mais perturbadores que "eu te odeio" e vice-versa.

Lado ruim da briga é que Amber se trancou em seu quarto e não desceu nem para jantar. Ainda tentei levar um pouco de comida a ela, mas ela gritou para que eu parasse de ser tão burra. Desentendi o que ela quis falar, e desci para ajudar meu pai a arrumar a sujeira. Este era o lado ruim: pegar resto de pizza de locais mais loucos possíveis, recolocar todos os vasos no lugar, retirar a comida que grudaram nas paredes. Sério! Quem estraga comida para isso? Acima de tudo, ter que ver embalagens de preservativo em cada canto de minha casa, e escutar o comentário não muito necessário sobre preservativo:

– Pelo menos esses adolescente andam se protegendo.

Ao escutar isto enquanto meu pai segurava aquela coisa com o cabo da vassoura, tive que fazer careta e resmungar:

— Eca!

Mas ele não parou por aí:

— Daqui há dois meses é seu aniversário — aquilo não podia ser o que imaginava. — Dezoito anos heim? – era exatamente o que pensava — Sua irmã não conversa muito sobre os rolo dela.

Eu ri varrendo a casa de ouvir meu pai tentar falar em gírias.

— Não começa, pai.

— ...Porem, queria que você conversasse isso comigo. Existe algum garotinho em sua escola que você esteja.. – ele segurou a vassoura pela perna, e então fez aspas com as mão: — Pegando?

Minha pele esquentou. Eu não "pegava" ninguém, mas só o fato de ter que ouvir meu pai tentar agir como adolescente e me questionar algo do tipo, fazia meu calor subir até as bochechas.

— Isso é ridículo! – nós rimos ao mesmo tempo que eu desconversava.

— Tudo beleza então? Sem garotos na área?

Meu pai achava muita graça me deixar constrangida, e eu achava graça em ouvi-lo falar como adolescente. Quis falar a ele que tinham alguns garotos que até tentavam algo comigo visto que mesmo que fosse minimamente, existia alguma cosia em mim que os agradava. Não sei bem o quê.

Só que essa coisa de gostar muito de alguém nunca aconteceu, não em minha adolescência, mas sim em minha infância. Só que meu amor por Harry era amor de irmão, nós fomos criados juntos, tomávamos banho na chuva junto, até mesmo nossas doenças chegavam juntas. Como da vez em que ele me passou catapora, e ambos ficamos cheio de manchinhas vermelhas.
Anne e papai viviam comentando que tínhamos tudo para viver o resto da vida juntos. Talvez o problema foi esse, acreditaram no futuro, e tudo que sei do futuro é que ele é incerto demais para planejar.

Memories » H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora