Houve dias em que peguei no sono tarde da noite por manter pensamentos zanzando em minha cabeça com uma velocidade rápida demais para ser digerida. E quanto mais eu pensava, mais notava que nada se encaixava onde devia encaixar.Na terça-feira tenho certeza que fiz Amber pensar que tenho alguma deficiência mental. Não a culpo. Simplesmente não consegui acreditar que meus números de sardas batiam com o mesmo valor que Harry afirmara, então assim que varri os pensamentos que foi uma coincidência, fui até o quarto de minha irmã enquanto ela dormia, e com uma lanterna tentei contar suas sardas.
Teria saído tudo perfeito, se duas coisas não tivessem saído do controle. Primeiramente, Amber não possuía nem dez sardas, presumi que ela deve passar algum produto para o sumiço, ou qualquer coisa que as façam desaparecer. Segundamente, nunca, jamais, em hipótese alguma posicione uma lanterna no rosto de alguém que está dormindo, isso espanta, e assusta, exatamente o que aconteceu com Amber. Ela deu um grito assim que notou minha face no escuro, e devido ao facho de luz ter ofuscado sua visão, em um movimento de defesa ela me lançou um soco bem em meu olho esquerdo por não ter percebido que era eu.
Assim que a terça encerrou, e eu segurava uma compressa de gelo no rosto encarando o branco de meu quarto, procurei um lado positivo para aquela história: Amber pelo menos sabia lançar um belo murro caso alguém tentasse a machucar.
Nem mesmo hoje — sexta-feira – fui capaz de deixar meus pensamentos não dominarem minha mente. Os últimas dias tenho traçado uma batalha cansativa com as coisas que ando pensando, contudo, é inevitável não divagar com o fato intrigante de Harry possuir uma arma, dele saber o número de algo que nem eu mesmo sabia, ou de seus transtornos bipolares de um dia para o outro.
Recuso admitir, mas tudo isto me assustava muito, tanto que decido assim que abotoou os últimos botões de meu suéter, que tenho que ter uma conversa com meu pai. Era o que iria fazer.Amber saira mais cedo para escola, sem nem tocar no café, porém eu, somente em situações extremas faria um gesto desse tipo, por isso sento-me tranquilamente pondo os componentes de meu café-da-manhã próximo de mim.
Termino de passar geleia em uma fatia de pão quando meu pai desce.— Bom dia – disse ele.
– Bom dia – respondo de boca cheia.
Ele pergunta por Amber, e respondo dando de ombros que a mesma saiu mais cedo. Consigo notar a preocupação refletida na expressão cansada de meu pai. Não deve ser fácil, tentar proteger alguém estabelecendo limites e ter como consequência o desgoto da pessoa. Papai sempre recuava dar castigo para Amber pois sabia que traria angústia para ele - a falta de comunicação entre os dois – e eu teria que arrumar um modo de fazer com que eles dialogassem. Então todo mundo saia prejudicado com um simples castigo.
— Eu estive pensando.. — começo a murmurar hesitante.
Tenho que controlar a forma que pronuncio, as palavras que iria usar, o tom de voz, tudo isso para que meu pai não perceba que existe algo me tirando o sono.
— Prossiga – dá um gole no café.
— Aquele assassino do caso da Anne, ele nunca foi encontrado? – decido começar por este lado da conversa.
Não posso simplesmente revelar a meu pai que estou com medo de Harry por ter encontrado uma arma na mala dele. Meu pai jamais deixaria sequer Harry aproximar-se de nossa rua, e quem sabe até me transferia para outra escola.
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Memories » H.S
FanfictionAngel Rosie assim como toda adolescente normal, guardou grandes memórias de sua infância, algumas de suas memórias viraram lembranças distantes. Ao voltar em sua cidade natal, as memórias que ela continha daquele pequeno vilarejo continuava quase m...