24º. ☪️

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Particurlamente, evito qualquer uso de mentiras. Não acho que seja algo saudável, entretanto, me vi utilizando de mentiras durante quase uma semana e para piorar a situação, mentiras direcionadas ao meu pai.

O peso em minha consciência era forte, mas não forte o bastante para rondar meus pensamentos enquanto fazia bom uso de minha falsa história, aliás até esquecia que estava fazendo algo errado – mentir ao meu pai — quando encontrava com Harry todo fim de tarde.

A desculpa que dava era de que estava revisando conteúdo com uma amiga que estava tendo dificuldade na matéria e meu pai acreditava em mim, pois eu jamais fui fã de mentiras, não até precisar delas.

O sol já  havia cruzado a linha do horizonte quando enfiei a chave na fechadura da casa que me encontrava com Harry. No começo, foi uma total coincidência encontrar ele aqui, mas depois de uma semana sabia que não era mais nenhuma surpresa vê-lo na casa colorida em vários tons.

— Oi. — Harry falou assim que destranquei a porta.

— Hey. — Devolvi, jogando minha bolsa de escola no sofá.

Coloquei meu tênis em um canto junto ao dele notando a diferença de nossos pés. Desde que começamos a nos encontrar diariamente ficou mais difícil segurar meus constantes devaneios sobre Harry. E jamais lutei tanto para controlar algo, estava tentando, tentando mesmo não pensar nele de uma maneira romântica, mas falhava miseravelmente, pois meus sentimentos estavam em chamas.

Minha visão entrou em foco gradualmente e avistei um Harry de sobrancelhas erguidas para mim. Eu devia mesmo parar de mergulhar em pensamento e esquecer o que estava ao meu redor.

— O quê? – questionei.

— Estava perguntando o que prefere para o jantar.

— Ah... Me surpreenda.

E ele sempre me surpreendia. Minha primeira surpresa foi descobrir que ele cozinhava, enquanto eu não conseguia fazer isso, só que Harry não apenas cozinhava, ele ainda fazia isso muito bem.

Sentei na cadeira alta atrás do balcão. Era a segunda vez que um rapaz cozinhava enquanto assistia, mas não posso deixar de assumir que na presença de Harry me sinto mais acolhida.

Ele picou algumas batatas – de costa para mim – que seriam o acompanhamento ao frango que já estava temperado. Tinha medo de fazer perguntas a Harry e obter uma resposta vaga, no entanto, ao longo dos dias sentia que o espaço entre nós estava se juntando aos poucos, portanto, questionei:

— Onde aprendeu a cozinhar?

— Com minha tia. Precisei aprender a me virar sozinho depois da... — ele parou, só então se dano conta do que iria falar.

Em minha cabeça, quase me ouvi gritar:

Se abre comigo, Harry!

Porém, não queria força-lo a nada, então continuei calada torcendo para ouvir sua voz no grito do silêncio.

Alguns minutos depois, ele suspirou.

—... Depois da morte de minha mãe.

Mesmo que Harry não pudesse ver, abri um pequeno sorriso agradecida pelo seu voto de confiança.

Memories » H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora