VIII- De volta

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Andaluzia, Sul da Espanha, início do verão.

Enquanto o fogo dançava, tremeluzindo em labaredas, ao som de crepitantes estalos, as chamas da fogueira iluminavam a atípica madrugada congelante em campo aberto. Todos estavam divertindo-se, numa celebração tradicional, comemorando a chegada da nova estação.

Em sua primeira lua, o estreante verão já se instalava imprevisível, deixando claro que não nos daria tréguas em suas oscilações noturnas. Bebíamos rum e vinho, tornando impossível saber se tínhamos os rostos tomados de um rubor intenso, por excesso de álcool ou pelas queimaduras que a geada inesperada e surreal fazia questão de entalhar a cinzel.

Havia comida suficiente, para que os homens pudessem sentar-se exaustos e enfastiados por tanta carne que carregavam no estômago, o que fazia-os à imagem e semelhança dos antigos Bárbaros nórdicos.

Enquanto ruminavam, riam e brindavam alegres, a mulheres divertiam-se em dançar para entretê-los, rodando e ziguezagueando suas saias, tal qual um toureiro a ludibriar o touro com seu capote.

A parca iluminação, que o fogo proporcionava, tornava mesmo as senhoras de idade avançada, em sedutoras damas da noite.

Exalavam sensualidade e beleza ao redor dos braseiros, num jogo de sedução, mexendo seus corpos como serpentes perniciosas encantando a presa antes do bote, de um jeito peculiar que faria qualquer outra mulher que não fosse uma cigana, parecer principiante nas artes da conquista.

Com uma viola em punho, um jovem rapaz unia com destreza os acordes das melodias que compusera, tornando a noite agradável e completando o clima festivo.

Todos divertiam-se. Exceto eu, que parecia externar o frio e a incompletude que trazia no peito, influenciando o tempo.

Meus pensamentos não me pertenciam mais, ela os tomara para si por completo. Não podia afastar sua imagem, com os olhos fechados, a pele branca como porcelana, o brilho dourado dos seus cabelos sob o sol do meio dia, enquanto eu me aproximava para beijá-la. Sentia que ela se entregara à mim e aproveitando-me disto, no momento oportuno roubei seus lábios para torná-los apenas meus. Ao tocá-la, senti sede. Como o beduíno que explora o deserto em busca do oásis, sede de seus beijos, que há tantas existências já foram meus.

Essa luta não será fácil. Vou tê-la novamente em meus braços, não importa o que precise fazer. Alice é minha e eles se enganam ao pensar que vou desistir.

As Crônicas de Ostara.  Livro 1- UM CONTO DE BRUXAS (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora