X- Segredos

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O dia amanheceu cinzento e as espessas nuvens que encobriam o céu, pareciam imóveis à observar-me sair de casa.

O relógio ainda não marcava oito horas e eu já estava entrando no táxi à caminho da casa de meu pai, como de costume para aproveitarmos o máximo do tempo livre em nossas manhãs de domingo.

Seu Leo já me esperava no portão de casa, com sua xícara de café, sempre fazendo-lhe companhia e não disfarçou o largo sorriso ao me ver chegar.

Assim que pus os pés fora do carro, ele me abraçou como se não nos víssemos há meses.

- Quanto tempo meu anjinho?! Que saudades de você!

- Pai, nos vimos domingo passado! Também senti saudades. - Falei sorrindo. -

- Vá na frente, entre e deixe que eu pago o taxi e não senhora, nem pense em recusar...

-Tudo bem, não vou comprar essa briga. - Respondi birrenta, já em direção à porta de entrada da casa de meu pai. -

Ao entrar, percebi tudo metodicamente organizado, enquanto sorvi com gosto o delicioso aroma de café passado que me esperava quentinho.

A sala não era grande, porém tinha tamanho suficiente para ser ao mesmo tempo confortável e aconchegante. Os móveis eram semelhantes aos da nossa antiga casa, que haviam sido todos escolhidos por minha mãe e ele procurava manter a decoração o mais fiel que pudesse conforme ela faria.

O sofá era de madeira escura, com almofadas de couro marrom e no canto ficava uma mesinha de vidro fumê com um abajur de um tom rosa chá e alguns porta-retratos.

Havia também uma estante com muitos livros e um toca-discos que já não devia funcionar mais.

Nas janelas, grossas cortinas de linho cru que mesmo fechadas mantinham boa iluminação natural.

A casa inteira me era nostálgica e seria impossível estar lá sem lembrar-me a todo instante de minha mãe, como se sua presença fosse palpável, eu tinha impressão que logo entraria sorrindo à procura de algum livro.

- Pensativa minha menina? - Perguntou-me, interrompendo as lembranças inevitáveis que me amoleciam o espírito. -

- Pensar mantém a sanidade sabia? - Respondi, sarcástica -

- Nem sempre Alice...nem sempre. Pensar demais nos causa excesso de passado ou de futuro e acaba por roubar-nos do presente. Lembranças às vezes são boas para matar as saudades, porém, viver no presente causa menos dor e preocupação.

- Talvez tenha razão. Tenho vivido muito no passado, especialmente nos últimos dias...

- E por quê?

- O senhor não faz ideia das coisas que tem me acontecido.

- Sente-se enquanto eu busco um café pra você e logo conversaremos então...

Logo Seu Leo voltou da cozinha, com um prato de rosquinhas de milho das que eu adorava desde criança e uma fumegante xícara de café e acomodou-se ao meu lado no sofá.

Os anos e a ausência da dona Louise, Lolla, como a chamava, pesavam cada vez mais sua expressão e nos últimos meses, em que estivera sem trabalhar por ter se aposentado, me pareceu ter envelhecido um tanto mais.

Eu sempre lhe encorajei a casar-se novamente e recomeçar, mas ele sempre se recusou, alegando que só se pode amar de verdade uma vez e que seu amor sempre pertenceria à minha mãe, o que me marejava os olhos e arrancava suspiros ao ouvir, dando-me a esperança de algum dia ser amada assim.

As Crônicas de Ostara.  Livro 1- UM CONTO DE BRUXAS (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora