Senti como se o estampido do tiro tivesse rompido meus tímpanos e um zunido incessante me roubara a audição.
As luzes do bar se apagaram no exato momento em que meus ouvidos falhavam, deixando-me também sem poder ver.
Eu só sentia o sangue quente me encharcar as mãos de forma abundante enquanto tentava socorrer o homem desconhecido, que eu sabia estar morrendo em meus braços...
Eu gritava em pânico clamando por socorro sem poder ouvir meus gritos, tal qual a vítima desesperada que foge do assassino sem conseguir mover as pernas durante o pesadelo noturno.
Me sentia impotente. Cada segundo parecia eterno e me fazia perder de forma crescente as esperanças.
Minhas entranhas eram consumidas por um estranho tremor que não sei ao certo onde se originava... Se em meu peito que pulsava freneticamente aterrorizado precedendo à fibrilação ou no corpo do homem recém baleado gravemente, desmaiado sobre minhas pernas que entrava em choque hipovolêmico à medida em que perdia grande volume de sangue.
Em pouquíssimo tempo, o líquido carmesim que escapava de seus vasos dilacerados já empoçava o chão e seu estado convulsivo dava lugar à inercia, denunciando a falência do corpo morto.
-Nãooooo!!! Por favor não morra! - Gritei ao sentar bruscamente na cama.-
- Acalme-se Alice! Foi apenas um sonho... -Dizia Diego enquanto me abraçava ternamente, na gentil intenção de que eu me sentisse protegida. -
- Agora eu lembro. Meu Deus ele morreu no bar! - Exclamei incrédula. -
- Quem? De que você está falando?- Indagou preocupado. -
- O capitão Müller. -Respondi, com certeza vibrante na voz. -
- Quem é capitão Müller Alice? Você deve ter ficado impressionada com o apagão no pub, por isso talvez, tenha desmaiado.
- Não Diego, estou em perfeita sanidade eu juro, ouça... Acabo de lembrar tudo que aconteceu no bar. Nós dançávamos e nos divertíamos e de repente o som forte de um tiro irrompeu muito próximo à nós, ao mesmo tempo em que às luzes se apagaram completamente, então o Capitão Müller, que havia levado o tiro, caiu sobre mim, empurrando-me violentamente, fazendo com que eu caísse sentada no chão, sustentando seu tronco em meu colo. Então perdeu todo sangue do corpo ali, enquanto falecia em meus braços sem que eu pudesse socorrê-lo. - Relatei, convicta do ocorrido, porém um tanto incrédula de minha sanidade. -
- Não, meu anjo... Você está confusa. Acredite. O que de fato aconteceu, foi que as luzes todas se apagaram e você instantaneamente desmaiou em meus braços. Carreguei você no colo até o carro, e após percorrermos algumas quadras você despertou. - Explicou doce e pacienciosamente, enquanto pegava o controle da televisão no criado mudo de madeira ao lado da cama, na intenção de ligá-la para aumentar a iluminação escassa que cobria o quarto. -
Após a noite quente e intensa que tivéramos, dormimos abraçados até o momento em que eu acabara de despertar aos gritos.
Faltava pouco tempo para amanhecer e essa fora a primeira vez que dormimos juntos uma noite inteira.
Assim que Diego ligou a televisão, ao mesmo tempo em que mudava de assunto, no desejo romântico de que retomássemos o clima, o noticiário que ilustrava a tela roubou de súbito sua fala.
Ambos em silêncio e abismados assistimos à reportagem que narrava o homicídio ocorrido no Shamrock Irish Pub, em que a vítima se chamava Sebastian Müller, Capitão do Exército.
- Como assim?! - Balbuciou Diego, com timbre quase inaudível. -
Eu permanecia perplexa e sem reação, tentando colocar as idéias em ordem.
Mais uma vez a voz cruel que me invadia a mente houvera acertado.
Como isso era possível e por quê isso acontecia comigo eram apenas algumas das questões que me ocorriam até que, de forma irônica e quase maliciosa, a mesma voz, sinistra e agourenta que já passara dos limites aceitáveis atormentando-me, mais uma vez se fizera presente, como se o simples fato de recordá-la à atraísse.
-" Você é uma Shuvani... E não pode escapar de sua natureza."
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As Crônicas de Ostara. Livro 1- UM CONTO DE BRUXAS (Em Revisão)
RomanceLivro 1 - O passado é mentira, o presente é caos e o futuro não está escrito nas linhas das mãos. Registrado na Biblioteca Nacional. Plágio é crime! Seja criativo, não copie!