Ashley acendeu uma vela, colocou-a sobre o pequeno bolo que conseguiu arranjar e assustou-se ao ouvir o barulho da porta. Lá estava Tyler. Já era considerado um homem quase formado e estava definitivamente mais forte que antes. Ambos estavam crescidos e muito belos.
A garota tinha os cabelos ondulados na altura da cintura. As voltas dele mostravam as mesmas nuances avermelhadas e lustrosas. Seu rosto era fino, porém não magro, possuindo pequenos pontos cobre em ambas as suas maçãs. Seus lábios não eram tão vermelhos nem muito grandes, mas davam um ar muito belo à jovem, como morangos quase maduros. Seus olhos continuavam com o mesmo tom verde-claro que sempre brilhava e queimava. Seus traços mostravam delicadeza e ao mesmo tempo força e brutalidade. Seu corpo bem desenhado e estatura mediana, sendo pelo menos dez centímetros mais baixa que seu amigo Tyler, que devia ter 1,65 m, deixavam-na de certa forma fofa. Era teimosa, determinada, possuía um humor que, mesmo não sabendo contar piadas e estragando-as, conseguia fazer os outros rirem. Sempre contagiava os lugares por onde passava sendo marcante, mesmo que se sentisse constantemente indecisa sobre tudo.
— Então você não ia me esperar — disse Tyler, tirando a neve do cachecol e sorrindo para ela.
Sua voz havia se tornado grave, mas sedosa como a de um jovem pronto para se tornar um homem.
— Claro que ia. — Deu uma pausa, afastando o bolo, e retomou: — Por onde esteve?
— Fui comprar algo para você. Não podia vir comemorar sem ter algo para dar para a minha irmãzinha. — E entregou uma pequena sacola a ela, sentando-se na cadeira que ficava em frente à escrivaninha.
— Obrigada, Ty. Você sabe que não precisava — afirmou, mas feliz por ter ganhado algo de seu amigo.
— Claro que precisava. Não viria sem trazer algo. Agora, pare de tagarelar e apague logo essa vela.
Ashley olhou para fora. Mal conseguia enxergar o céu, pois era noite e estava muito frio. A neve que caía tampava a maior parte de sua visão e causava um bafo dentro do cômodo, deixando a janela embaçada pelo calor que emanava de sua boca. Segurou então o bolo e apagou a vela, pegando a sacola em seguida. Dela, tirou um belo cachecol branco e felpudo.
— Obrigada, Ty, é perfeito — respondeu com um sorriso, colocando-o ao redor do pescoço. Então, de olhos fechados, sentiu os macios pelinhos. Seus dedos iam e vinham, e era como se nada pudesse tirá-la daquele momento apenas seu.
— Imaginei que iria gostar — disse Tyler sorrindo e tirando-a de seu transe. — Está tarde. Vou me deitar. Nos vemos amanhã? — terminou, levantando-se da cadeira e já se afastando com seu pesado sobretudo cinza-chumbo.
Tyler não costumava ir dormir tão cedo quando estavam juntos, pois geralmente conversavam a noite toda. Eles haviam se tornado muito próximos e, à medida que foram crescendo, o garoto passou a sentir a responsabilidade de cuidar de sua irmã. Suas vidas monótonas iam de trabalho para algumas compras quando necessário, e de volta ao velho orfanato. Pelo menos tinham um ao outro, e era nisso que se apoiavam. Seus planos eram deixar aquele local e seguir os seus sonhos juntos. Então, quando ele terminou aquela frase, Ashley logo percebeu que algo estava errado, pois nem mesmo tirar o casaco ele havia feito quando adentrara ao recinto.
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Novael (VOL. 1) - O Conto de um Reino Perdido | EM BREVE DISPONÍVEL IMPRESSO
FantasyNovael não é apenas a história de um Reino desconhecido para lhe manter acordado durante a noite. Não é mais uma aventura onde as coisas são previsíveis, tampouco lineares. E se o tempo envolvesse cada detalhe, e desse uma pitada de mistério à medid...