A voz daquela mulher era simplesmente a voz mais bela que ambos já haviam ouvido, pois seu sotaque inglês definitivamente ajudava. A dama virou-se e se afastou deles, indo em direção à porta. Ashley imaginou que deveria ir se despedir de Laura o mais rápido possível, pois a pressa parecia apertá-la.
Por mais bela que fosse ou aparentasse ser, ela tinha uma estranha nuvem que a acompanhava. Tristeza, rancor, mágoa. Eram todos sentimentos quase palpáveis. Mas o que teria acontecido para que ficasse assim? Talvez tivesse a oportunidade de perguntar mais tarde, pois agora precisava se despedir de dona Laura o mais rápido possível. De certo modo, estava feliz; estaria deixando o orfanato para trás e Tyler estaria com ela, então não tinha por que se preocupar tanto. Ashley se pegou sorrindo depois que a moça lhes deu as costas e soltou-se da mão do garoto.
Imaginem só passar uma vida inteira em um orfanato onde era tratado como um estranho sem passado e provavelmente sem futuro. Não seria coisa fácil, seria? E finalmente estava deixando tudo aquilo para trás. Pegou as únicas coisas que possuía de maior valor, colocou-as numa pequena mala preta que tinha e foi até Laura.
— Seja uma boa menina. Sempre soube que você era destinada a muito mais do que eu poderia dar!
— Obrigada, dona Laura, se cuide — falou sorrindo.
Apesar de Ashley ter a capacidade de ser fria, também era muito sentimental em relação às pessoas que amava, e como eram poucas, se expressava até demais quando tinha a oportunidade. Nessa despedida, Tyler pôde ver que a garota se segurava para não chorar, mas a luz terna que entrava pela janela iluminava o quarto e fazia com que ele pudesse ver lágrimas escorrendo em seu rosto.
As duas se despediram, e a garota foi andando até o carro quando de repente sentiu um vento gelado atravessando-a. Tudo apontava que não deveria ir com aquela mulher. Não a conhecia e sabia que havia algo muito estranho e sombrio nela; não podia simplesmente confiar.
— Que é? — indagou para Tyler, que a encarava.
Ashley não havia se dado conta de que empacara junto com seus pensamentos e, ao perceber que todos os que estavam presentes ali a olhavam estranhando, continuou andando, forçando-se a lançar um sorriso para qualquer um que passasse. Olhou uma última vez para a enorme porta de madeira maciça e agradeceu pela vida que tivera ali, pelas oportunidades e aprendizados e principalmente porque aquele lugar a tornara em quem era.
A porta do carro foi aberta por um homem alto e robusto trajando terno preto, óculos escuros e algo parecido com um comunicador atrás da orelha. Tyler já estava sentado no banco de trás do lado oposto e olhava para fora com o queixo apoiado sobre o punho fechado. Os bancos de couro brancos eram aconchegantes e quentes. Devia ser um daqueles carros com aquecedor. Havia até mesmo lugar para pôr comidas e bebidas, tudo era fino demais. O motorista entrou, e agora ambos sabiam que Elizabeth os acompanharia em outro automóvel. Pela janela, olhava para fora com um tom de curiosidade implacável. O que poderia acontecer de ruim? Estava prestes a ter um lar! Deixe de bobagem, dizia constantemente para si, tentando se convencer de que seus instintos estavam errados.
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Novael (VOL. 1) - O Conto de um Reino Perdido | EM BREVE DISPONÍVEL IMPRESSO
FantasiNovael não é apenas a história de um Reino desconhecido para lhe manter acordado durante a noite. Não é mais uma aventura onde as coisas são previsíveis, tampouco lineares. E se o tempo envolvesse cada detalhe, e desse uma pitada de mistério à medid...