Um Desconhecido No Horizonte

INESPERADO

"Toda vez que toca o telefone

Penso que é você

Toda noite de insônia

Eu penso em te escrever"

-Engenheiros do Hawaii

Quinze dias se passaram desde o retorno de Cecília para sua cidade, sua vida seguia tranquilamente, embora Tiago a lembrança de Tiago fazia-se presente constantemente. Em seu interior Cecília acreditava que a cada paciente que entrava em seu escritório na clínica de psicologia, algum deles poderia ser Tiago a sua procura, cada vez que o telefone tocava ela imaginava poder ouvir aquela voz rouca ao outro lado da linha, mas todos as suas expectativas foram em vão. Tiago nunca telefonou, deu noticiais ou ao menos a procurou, estilhaçando assim o coração da jovem psicóloga sonhadora.

Era manhã de sábado, o calor do verão tornava o ar abafado, Cecília em sua casa, aguardava ansiosamente pela chegada de Clarisse, uma grande colega do tempo de ensino médio, que Cecília mantinha contato por muito tempo apenas através das redes sociais e alguns telefonemas mensais, pois Clarisse havia se mudado para outro estado em busca de uma especialização em sua área de trabalho. Clarisse estava novamente a cidade, mas dessa vez somente a passeio, devido a um feriado prolongado em sua cidade.

O relógio no pulso de Cecília marcava dez horas com sete minutos, quando a tão esperada campainha tocou Cecília prontamente levantou-se em um pulo do sofá onde estava aconchegada, sabia que era Clarisse quem havia chegado, rapidamente ela passou diante do pilar espelhado que havia em sua sala, e alinhou suas roupas e jogou seus cabelos sobre o ombro esquerdo e seguiu para a porta de entrada.

-Ual que gata! – Exclamou Clarisse dando um abraço caloroso em Cecília que sorria alegremente com a presença da colega, retribuindo o abraço.

-Entre! – Cecília disse convidativa, desfazendo-se do abraço.

Clarisse assentiu, adentrando a espaçosa e muito bem decorada casa. Cecília foi preparar um suco para elas, enquanto conversavam sobre as novidades e acontecimentos que ocorreram desde a última vez que se viram, o que já fazia mais de um ano.

Clarisse era um jovem linda, sua pele levemente era bronzeada devido ao fato de residir no litoral, seus cabelos antes castanho e lisos em um corte perfeitamente alinhado na altura da cintura agora eram loiros e desfiados em um corte Chanel, devido ao termino recente de um relacionamento, a mesma afirmou mais tarde a Cecília que quando se rompe um relacionamento é sempre bom inovar, para que marque a nova fase da vida, Cecília achava graça, mas a colega afirmava que eras essencial para qualquer mulher. Os olhos de Clarisse eram de um tom verde cintilante, seus lábios eram perfeitamente definidos, como se fossem esboçados em papel, seu nariz reto e ligeiramente achatado marcava perfeitamente seu rosto com as maças do rosto destacadas.

Cecília gostava de ter companhia de suas amigas, pois sua vida era solitária naquela cidade, resumia-se apenas em seu trabalho, embora por vezes viajava até a cidade vizinha, onde seus pais residiam.

Cecília convidou Clarisse para que almoçassem em um restaurante no centro da cidade, e prontamente Clarisse aceitou o convite, ambas partiram em na SUV de Cecília, pois Clarisse havia lhe informado que seu carro estava com falhas, e precisava de um mecânico.

O fim de semana de Cecília foi proveitoso na companhia de Clarisse, ambas fizeram compras durante a tarde de sábado, foram ao cinema na parte da noite. No domingo optaram por ir ao clube, para refrescar-se do calor.

Na segunda feira, como prometido antes que Clarisse partisse, Cecília a acompanharia até a mecânica, já que sua agenda estava vazia para aquela manhã. Cecília, tinha sua mecânica de confiança, mas dessa vez, preferiu levar sua amiga a uma mecânica que localizava no outro lado da cidade, ela havia conseguido o endereço na internet, após uma rápida procura pela MECANICA ARALDI onde ela acreditava que fosse a mecânica onde Tiago trabalhava.

Logo que Cecília e Clarisse chagaram a mecânica, em seus respectivos automóveis ambas seguiram para a loja de atendimento onde uma secretaria as recepcionou, Cecília pediu para falar com o dono da mecânica, a Secretaria as encaminhou para a sala do suposto dono, e Clarisse sem entender o porquê do pedido apenas seguiu a colega até a sala.

O dono da mecânica, logo se faria presente em sua sala, as mãos de Cecília transpiravam demonstrando ansiedade, sem dúvidas Tiago entraria por aquela porta, e Cecília esperava ansiosa por vê-lo ali.

Depois de alguns minutos, a porta se abriu, Cecília virou seu corpo em direção a porta, esperando pelo rosto de Tiago, mas ao virar-se deparou-se com um senhor de idade, vestido em uma calça jeans e uma camisa social perfeitamente alinhada, o coração de Cecília aquietou-se decepcionado.

Nem mesmo Cecília sabia por que estava ali, naquela sala. Não pensara na possiblidade de Tiago não trabalhar ali, não sabia o que falar, sua vontade era sair correndo, quão infantil fora em pedir para falar com o suposto dono de uma mecânica apenas por estar apaixonada por ele.

O senhor sentou-se em sua cadeira estofada atrás da mesa, após cumprimentar Cecília e Clarisse. Para a salvação de Cecília, Clarisse sempre muito espontânea, começou a conversar com aquele senhor, pois notara a aflição de Cecília.

Vagando entremeio os pensamentos, Cecília analisava a decoração do escritório disfarçando o desapontamento. Quando seus olhos depararam-se entre algumas miniaturas de carros, com um retrato de Tiago, juntamente com um mulher loira, porem não era a mulher da festa, mas ali no retrato também estava presente uma menininha sorridente igualmente loira.

Os olhos de Cecília começavam a marejar quando a porta da sala fora aberta e ouviu-se uma voz rouca.

-Pai eu pedi pra tu não deixar ela sair daqui! – Cecília imediatamente reconheceu o aquele timbre de voz, acompanhada pelo intenso perfume amadeirado.

Ao seu olhar encontrar-se com o de Tiago, ambos paralisaram, como se naquele exato momento o mundo parasse de girar.