Através do Espelho

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Vê-lo ali mexia com todos os seus sentidos, era como se ninguém mais se fizesse presente naquela sala.

-Bom dia! - Cumprimentou Tiago, adentrando a sala, com um aperto de mão e com um olhar feroz sendo atribuído a Cecília, que permanecia estática.

O silencio fez-se presente, até que uma garotinha loira de cabelos lisos com as pontas formando cachos, entrou a sala correndo, como se aquele não fosse um local de trabalho. A garotinha correu aos braços de Tiago, onde foi recebida com afeto e a mesma entrelaçou seus braços em volta do pescoço de Tiago, que por um instante parecia sorrir.

-Mas eu queria ficar contigo! - Disse ela, olhando fixamente para Tiago, de um modo carinhoso. Cecília logo reconheceu que menininha ali presente era a mesma do retrato que ela estava observando anteriormente. Logo seus olhos encheram-se de lagrimas, a ponto de transbordar assim que ela piscasse involuntariamente, mas Cecília conteve-se.

O senhor que encontrava-se sentado riu observando a menina, aconchegando-se em sua poltrona.

-Ela puxou por ti, danada e esperta. - O velho comentou entonando orgulho. - Acompanhe as moças e resolva os problema para elas. - Ele disse, agora com uma expressão séria.

-Por favor, senhoritas! - Tiago disse convidando-as para retirarem-se da sala, em um gesto cavalheiro ele abriu a porta, para que Cecília e Clarisse retirassem-se antes dele. Deixando na sala a garotinha

Ambos seguiam em silencio pelo corredor, dessa vez, Tiago ia na frente, direcionando as jovens que o seguiam. Por vezes Clarisse lançava um olhar de desentendimento para Cecília, que por sua vez fingia não notar.

-Em que posso ajuda-las? - Tiago perguntou, quebrando o silencio.

-O carro está com falhas mecânicas. - Cecília apressou-se em responder.

-Já verificou a mangueira do radiador? - Ele perguntou, ironizando.

Clarisse sem entender o que estava acontecendo ali, cutucou Cecília rapidamente.

-O carro não é meu, é da minha amiga. - Cecília respondeu secamente.

O silencio voltava a se instalar, quando alcançaram ao fim do corredor, Tiago anunciou.

-Irei buscar o carro no estacionamento. Podem acomodar-se na sala de espera.

Rapidamente Clarisse vasculhou dentro da sua bolsa, as chaves do carro, entregando-as para Tiago. Assim que Tiago sumiu pelos corredores, Cecília e Clarisse seguiram para a sala de espera, que ficava logo ao lado, de frente ao espaço de conserto de carros.

Ambas acomodaram-se lado a lado nas poltronas estofadas em couro preto, a sala era aconchegante e estava vazia, exceto pela presença de Cecília e Clarisse, entre meio cada duas poltronas havia uma pequena mesa em formato de pneu, onde encontrava-se algumas revistas automobilísticas. Em um canto pouco mais reservado, onde não haviam poltronas, estava um bebedouro e também uma bandeja com suas garrafas térmicas, devidamente identificadas com plaquetas indicativas "café" e "Chá" na bandeja também encontrava-se adoçante e alguns copos descartáveis dispostos para servir as bebidas. As paredes eram de cor marfim, com alguns quadros dispostos aleatoriamente com retratos de carros antigos.

-Você o conhece? - Clarisse perguntou demostrando curiosidade.

-Sim. - Cecília respondeu, olhando para a amiga com um sorriso nos lábios.

-Pela sua carinha já entendi. - Clarisse disse animada. Cecília por sua vez apenas revirou os olhos e continuou a folhear a revista de carros importados.

O tempo passou rapidamente, e logo Tiago terminara o conserto do carro de Clarisse. Após retirar o carro da rampa de elevação o mesmo levou as chaves para a dona, que lhe aguardava na sala de espera, como ele havia recomendado.

Antecipando sua chegada, Cecília sentiu o cheiro amadeirado do perfume de Tiago invadindo o ambiente. Cecília não pode deixar de reparar em seu cabelo desgrenhado, e seu macacão de cor azul, sujo de graxa e lubrificante.

-Aqui esta as chaves, o dano foi reparado. - Disse ele entregando as chaves para Clarisse e ignorando a presença de Cecília.

-Obrigada! - Exclamou Clarisse em um sorriso simpático.

Tiago já dava as costas e se dirigia a saída quando a voz de Cecília o interrompeu.

-Por favor, onde fica o banheiro? - Disse ela quase em um sussurro, com a voz fraquejada. O modo que Tiago a tratava, aferia-lhe e naquele momento estava prestes a chorar.

-Ao fim do corredor a direita. - Disse ele, dessa vez fitando-a e seguindo.

-Irei acertar o conserto, te espero no escritório, Cicí. - Disse Clarisse apressando-se em sair da sala.

Assim, Cecília seguiu até o fim do corredor ao lado oposto do qual retornara da sala, onde havia encontrado o senhor, o qual ela havia suporto que fosse pai de Tiago. Logo ela encontrou o banheiro, que para sua sorte era amplo e com um enorme espelho, junto ao balcão de granito. Cecília apoiou-se no balcão, sem ao menos trancar a porta. Analisava-se diante daquele espelho, via ali, seu reflexo, seus cabelos presos em um rabo de cavalo, sua camisete jeans despojada, valorizando seus fartos seios, seu short branco com cinto em cor nude, aquele era o reflexo de Cecília, porem tudo parecia distorcido, seus olhos estavam marejados, uma lagrima solitária começara a escapar do canto de seu olho, e ela não a impediria.

Sem dar-se conta de como aquilo ocorrera, Cecília pode ver o reflexo de um homem no espelho, logo dera-se conta de que se tratava de Tiago, sem ao menos poder reagir, ela sentiu os braços fortes envolvendo-a e virando-a, puxando-a assim para um lento e carinhoso beijo, como se ambos necessitassem daquilo para aliviar a aflição.

Um Desconhecido No HorizonteOnde histórias criam vida. Descubra agora