RETORNO

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O sol começava a adentrar o quarto, pelas frestas da janela. O calor causado pelo sol, levava a presença da chuva que se fez nas noites anteriores. Cecília despertou-se com o seu telefone celular tocando, sobre o criado mudo ao lado da cama. seus olhos estavam abertos, mas seu cérebro não havia acordado totalmente. Preguiçosamente, ela tateou o celular sobre o criado mudo, derrubando alguns livros que estavam sobre o mesmo. Ao alcançar seu celular, identificou que se tratava de um numero desconhecido, sabia que se tratava de Tiago e por isso atendeu prontamente.

-Alô?- Disse ela tentando esconder sua voz de sono que saiu quase em um sussurro.

-Bom dia,  Cecília- ele respondeu em um tom seco.

-Tudo bem contigo?- Ela perguntou tentando ser educada.

-Estou ótimo.- ele respondeu em mesmo tom, dessa vez fazendo com que um silencio se iniciasse ali.

-Há que deve a ligação?- Cecília interrogou, quebrando o silencio após alguns segundo que parecia ser eternos.

-Retornarei para o interior daqui aproximadamente trinta minutos.- disse ele.

-Faça uma ótima viajem- Cecília disse sendo sincera, apesar de sentir uma pontada de aperto no peito.

-Pensei que talvez gostaria de me acompanhar para o retorno.- Tiago disse sem muito entusiasmo, aquilo parecia um convite, embora seu tom de voz não fosse tão convidativo quanto deveria, e não demonstrava entusiasmo.

-Isso é um convite?- Perguntou Cecília, sorrindo, mas se deixou mostrar entusiasmo ou animação.

-Se preferir!- Tiago respondeu com desdenho, o que deixou Cecília desapontada.

-Onde lhe encontro? - Cecília perguntou.

-Na saída da cidade. Se irá comigo, deverei esperar para que esteja pronta, então lhe esperarei lá daqui exatos noventa minutos.- Tiago disse, marcando o encontro para o retorno.

-Esta ótimo! Até logo. - Cecília respondeu não escondendo o entusiasmo.

-Tchau! - Tiago respondeu secamente, desligando a chamada.

Depois de ouvir o bipe de encerramento da chamada, Cecília resolveu levantar-se e fazer sua higiene matinal, mas antes disso fora se certificar de que horas eram, o relógio digital na tela do celular marcava seis horas com nove minutos.

-Esse cara acorda com as galinhas, não é possível!- Cecília resmungou, dessa vez levantando-se e arrastando-se para o banheiro.

Após fazer sua higiene matinal, Cecília vestiu-se de uma saia em tom goiaba, acompanhada de uma regata branca de cetim e uma sandália rasteira prateada. Ao sair do quarto, carregando suas malas com um pouco de dificuldade, Cecília notou que Kelly ainda não havia despertado. Cecília vasculhou em sua bolsa, seu bloco de notas com encadernação de estampas e uma caneta esferográfica de cor preta, e em letras perfeitamente arredondadas escreveu

Kelly, precisei retornar para o interior, desculpe-me por não lhe avisar.

Beijos, Cicí.

~*~*~

Ao chegar a avenida que dava acesso à saída da cidade, Cecília avistou a BMW que seguia no mesmo sentido. Após poucos minutos de transito, ambos, alcançaram a saída da cidade. Tiago estacionou a BMW no acostamento, seguido por Cecília. Tiago desembarcou do carro direcionando-se até Cecília, que por sua vez, ao vê-lo se aproximar, apenas abaixou o vidro.

-Seguirei na frente, e espero que dessa vez não queira me desafiar ou brincar comigo.- Sua voz era firme e soava como repreensão.

-Tudo bem.- Disse Cecília assentindo.

-Antes de partirmos, preciso lhe dizer: você fica linda assim, naturalmente.- ele silabava as palavras, e por sim mordeu seu lábio inferior mantendo os olhos fixos aos lábios de Cecília.

Assim ele retornou para sua BMW, Cecília desejava novamente aqueles lábios quentes colados aos seus. Cecília ligou o pisca alerta indicando a adentraria a pista, e assim seguiu atrás de Tiago.

Após saírem da cidade, o transito estava calmo, ambos andavam em uma velocidade de cento e vinte quilômetros por hora. A fome começava a tomar conta de Cecília, e então ela decidiu que deveria alimentar-se. Cecília pisou fundo ao acelerador e trocou de marcha, ganhando assim mais velocidade, ultrapassou Tiago, e pelo retrovisor pode ver os olhos azuis acinzentados sendo cerrados, e ele agarrava firme ao volante. porém, assim que encontrou um acostamento, Cecília sinalizou e encostou seu carro a direita. Tiago fez o mesmo, ainda sem entender, ele desceu do carro e seguiu até Cecília que havia desembarcado também.

-Antes que diga que eu tentei brincar ou te desafiar, só queria lhe informar que preciso fazer meu desjejum.- Cecília explicou-se.

-Tudo bem, conheço um local onde servem um café da manha ótimo.- Tiago respondeu já virando as costas para Cecília e retornando para seu carro. Cecília fez o mesmo, e ambos retornaram para a pista, Tiago fora seguido de Cecília até uma venda de produtos coloniais.

O local era simples e aconchegante, ali havia somente uma atendente, que servia como garçonete e também como caixa. A moça era simples e simpática, seus cabelos castanhos em tom médio estavam presos em um coque com renda de cabelo, sua pele era branca levemente bronzeada, ela vestia jeans preto e uma camiseta igualmente preta, a qual havia gravada no peito ao lado esquerdo em bordado o nome da venda.

Cecília serviu-se de suco  de laranja, juntamente com um sanduíche natural. Tiago optou apenas por um suco de maçã. O café da manha fora feito totalmente em silencio, por vezes Cecília sentia-se observada, e sabia que Tiago estava a fitando. Após alimentarem-se Tiago insistiu que deveria pagar a conta de ambos, contrariando Cecília, que teve de assentir. Assim retornaram para seus respectivos automóveis e seguiram viajem.

Era inevitável pensar em Tiago, muitas vezes ele se mostrara forte e inabalável, mas por algumas outras vezes e essas muito raras, ele parecia retirar a armadura e mostrar-se um companheiro, protetor e por que não, amável. Cecília lembrava-se de tudo que ocorrera na noite da formatura, o seu beijo, seu toque firme, suas mãos ásperas e aqueles lábios macios. Ela havia se entregado por inteira, e não se arrependia disso, sem duvidas fora uma noite inesquecível. Cecília gostaria de ter bis, aquele homem sabia como prender uma mulher e sabia trata-la da forma merecida.

Ao fim daquele dia, ambos estariam sem sua cidade residente, a incerteza tomava conta de Cecília, como seria dali pra frente? Tiago continuaria a encontrá-la? Cecília sentiu seus olhos arderem, uma agonia tomava conta dela, era preciso ser forte, engolir o choro e esperar que o tempo lhe trouxesse as respostas.

Cecília continuava a seguir Tiago. Logo ele sinalizou que estacionaria seu carro no Mirante da Serra da Dona Francisca, Cecília fez o mesmo. O Mirante estava vazio, o ar ali era fresco e gélido devido a altitude. Ambos caminharam até o assoalho de madeira que tinha vista para toda a Serra, a vista ali era linda, Cecília recostou-se ao parapeito feito com toras de eucalipto.

Tiago pousou uma mão, sobre uma das mãos que Cecília apoiava no parapeito. Logo um arrepio lhe correu seu corpo todo, aquele toque a eletrizava e deixava seu corpo todo em alerta, sua pele queimava com tal toque, aquilo a deixava em êxtase.

Um Desconhecido No HorizonteOnde histórias criam vida. Descubra agora