Capítulo 27 - A FUMAÇA.

151 14 0
                                    

Playlist:
🎶 Fallen - Imagine Dragons;
🎶 Natasha - Capital Inicial;
🎶 Reckoner Vitamin String - Quartet performs.

Talvez aquele fosse meu último evento como graduando de História. Há dois anos estive aqui e vivi algumas emoções. Outra vez a Kelly, o Jonatas e o Willan. Outra vez um AP. Na manhã do credenciamento, vi uma garota de cabelos curtos e pintados de azul com um cigarro entre os dedos, foi impossível não lembrar dela, até que a tal garota me acenou e não restaram mais dúvidas:

- E aí, rapaz!- Ela soltou uma baforada de fumaça bem na minha cara.- Fiz de propósito.
- Meus pulmões agradecem tanto quanto os seus.- Sorri para ela- Vanessa?
- Arthur!
- Que incrível rever você!
- Não espera que eu te abrace, né? Pode conter esse ânimo.

Ela usava uma camiseta que, com certeza, era uma blusa que ela mesma tinha cortado as mangas e pintado naquele tema psicodélico:

- Você cortou e pintou o cabelo! Ficou da hora!
- Olha só, você reparou. Sua mulher vai gostar que tenha alguém que repare nela quando cortar as pontas secas. Bem, eu resolvi pintar quando assisti aquele filme francês Azul é a cor mais quente.
- Pois é, lembrei justamente dele quando te vi. Assisti com a Flávia, minha amiga. Ficou muito legal.
- Então, o que fez durante esse tempo?

Agora estávamos sentados no banco daquela primeira vez, onde conversamos sobre fumaça e sermos quem somos.

- Eu? Eu vivi os dois anos mais intensos da minha vida: Descobri que tem gente que aceita a nossa fumaça, sim, essas pessoas existem! Ser quem você é não é tão duro quando existem pessoas que nos amam do nosso lado; descobri que um beijo de verdade provoca uma explosão boa aqui dentro. Ah, e que posso amar quem eu quiser, mas não posso forçar ninguém a sentir o mesmo por mim, além disso, me dei conta de que o mundo me aceita... E, sabe, o mundo não é esse formado por 7 bilhões e não sei quantos habitantes, é o meu em que cabem pessoas suficientes para nem precisar de censo anual.
- Uau! Parece muita coisa.
- Tenho certeza que você não ficou atrás.
- Nada de mais.- O cigarro entre os dentes, então pensei que aquilo seria como a metáfora do Augustus, mas ela deu o poder de matar: Acendeu.- Tranquei um semestre inteiro da faculdade, tive que cuidar da minha mãe, e com aquele bêbado nojento do meu pai nós nunca contamos. Antes que me pergunte, ela teve um tipo de câncer, aquela droga se manifesta de inúmeras formas. Lutamos juntas. Eu pensei que ela venceria, acreditei nisso ali do lado dela. Me disseram que eu era a pior pessoa do mundo porque não derramei uma lágrima. Queria que elas tivessem me visto lá na sala de espera a cada sessão de quimioterapia, cada cirurgia... Não, na verdade eu não queria ser vista. É bom ter a fama de dura, seca, má... Eu nunca havia me arrependido de nada, até dar um soco na cara do meu pai depois que ele vendeu umas coisas que eram da minha mãe para comprar bebida.- Ela me olhou- Ei, se chorar eu te dou um soco sem arrependimento.

Assenti.

- É, me arrependi, mas talvez fizesse de novo, sei lá. Então passei a sair mais que antes, fumar mais que antes... Na boca dos outros eu era "A perdida"... Perdida... Então fui encontrada. Eu acho que sempre gostei de garotas, mas daquela garota eu gostava mais. Hoje vivemos juntas e... Parece que foi fácil, não parece?
- Nem um pouco.
- Talvez eu tivesse dado outro soco no meu pai quando ele me disse aquelas coisas, quando ele disse que não me aceitava. Cada um tem a sua opinião... Minha fumaça não agrada a todos e nem a sua. Arthur... Ainda podemos ser felizes. A dor sempre vai existir, só é preciso saber equilibrar-se nessa balança.- Mais um sopro de fumaça.- Eu brinquei dizendo que sua mulher... Enfim, só pra ver se você já havia se aceitado.
- Mas, espera, quando te conheci eu não falei nada sobre isso. Falei?
- Não, mas eu já sabia que estava rolando uma grande confusão aí dentro. Até falei que tinha dois dos seus colegas que eu pegaria... Tudo mentira, eles não me atraíam. Você parecia firme em mostrar o contrário do que sempre foi.
- Eu... Tinha medo. Você é bem esperta, hein.
- Nem tanto... Mas devo deixar de falsa modéstia, porque sou esperta, sim! Aceita um legítimo Marlboro?
- Não, não. Eu odeio cigarro, esqueceu?
- Ah, é, você é um filho da mãe que tem medo de virar dependente com dentes amarelados.- Os dentes dela nem eram amarelos.
- Vamos pro nosso mini-curso? Vi no seu crachá que estamos no mesmo.
- Olha só- Reparando no meu crachá- É verdade!

Se aceita, vaiOnde histórias criam vida. Descubra agora