🎶 The Scientist- Coldplay
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Eu era aquilo, queria fazer aquilo... Mas tudo me parecia arriscado, porém não compreendia o motivo de ficar tão abalado com um beijo entre dois caras, enfim, sou produto do meio, o meu olhar enxerga de acordo com o que a sociedade quer ver, isso eu compreendo, e é por esse motivo que vou retirar estas lentes que deixam certas coisas embaçadas, irei me despir dessa capa de "Sou o que vocês gostariam que eu fosse", por mais que me esforce nunca serei o poço de perfeição que me cobra, nem nunca serei o que te faz feliz sem que eu também esteja bem... Não mais. Mas será que eu consigo?
***
Ela fazia uma cara de quem tomou café amargo com três gotas de limão quando via um casal gay se beijando numa série americana, eu me constrangia e acaba, involuntariamente, sentindo nojo daquilo também, mais para mostrar à Susie de que eu também não concordava com um beijo entre dois homens.
Eu temia que a Susie, que era uma irmã pra mim, soubesse que, eu já me apaixonei por um garoto e que, às vezes, eu sentia vontade de beijá-lo, o meu maior medo era de que algo mudasse; sempre pensei que ela nunca me aceitaria, suas atitudes totalmente contrárias me levavam a acreditar nisso, e olha que sempre estivemos tão próximos, melhores amigos, colegas de quarto, a dupla das melhores e maiores loucuras, dos melhores risos incontroláveis. Ela dizia que achava o Ed Westvick - com seu Chuck Bass - um gato enquanto assistia a um episódio de Gossip Girl, e eu concordava só com o pensamento, quando, na verdade, me dava vontade de falar aquilo pra Susie e então nós passaríamos um tempão falando sobre caras bonitos, quem a gente pegaria e... porém, eu não conseguia. Não dava.
Então a vida seguia, meus maiores medos eram naquelas noites em que apagávamos a luz do quarto e, deitados cada um em sua cama, a gente conversava sobre tudo e... Claro que se por algum acaso ela me colocasse contra a parede ou me fizesse alguma pergunta sobre isso, sobre eu ser gay, naquelas sessões de "Seja sincero" que a gente criou, acredita que eu não saberia como lidar nesse momento? Me dava até um nervosismo só de imaginar. Como eu poderia responder com sinceridade àquilo que eu tanto temia, que eu considerava o peso sobre meu castelo de cartas, considerando que esse castelo é meu mundo, minha vida.
Sempre comparei esse meu temor de contar para a Susie sobre minha sexualidade com o que sentia em relação a minha mãe, acho que a proximidade dificulta as coisas.
- Arthur.- A voz dela vinha do outro lado da linha logo após eu sair da aula para atender o telefone.
- Oi, Susie.
- Tá sentado?
- Não. - Me encostei na grade de ferro do corredor.- Encostado serve?
- Melhor sentado.
- Ain,fala logo,o que aconteceu?
- Ele te quer!Como assim ele me quer? Por entre os corredores onde passava um ou outro estudante com livros volumosos embaixo do braço, suas barbas por fazer e a camisa amassada, fiquei pensando se ela já sabia de tudo e até havia adiantado algo... Não, eu não estava preparado, mas sabe o que me deixou feliz por um milésimo de segundo? Supor que a Susie ia me aceitar, meu Deus, aquilo era incrível!
- Quem me quer? - Despertei daquele momento.
- O Márcio, pra você trabalhar aqui no Instituto Educacional.A própria Susie havia me indicado para o cargo, admito que, de início, não ficou muito claro como seria minha função, além de abrir o instituto pela manhã, depois comecei e a rotina tornara-se normal, até parecia que na minha vida eu sempre acordei exatamente às oito e saía para o trabalho quando no relógio marcava dez para as nove. O local ficava no segundo andar, contava com duas salas de aula separadas por um extenso corredor bem iluminado por conta das janelas de vidro; a sala onde ficávamos era mobiliada com mesas e armários no mesmo padrão e a janela nos proporcionava observar a avenida lá fora e lá no fundo o rio da cidade com a extensa ponte sobre ele. À tarde, Susie chegava com o rosto colado na porta de vidro, sempre lembrava do que ela me dissera:
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Se aceita, vai
RomansaArthur se apaixonou pelo melhor amigo e agora terá que lidar com isso buscando a aceitação dos outros e aprendendo a se aceitar.