Capítulo 4 - NOSSO PRÓPRIO TEMPO.

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🎶 Blue Jeans- Lana Del Rey

Não vi mais a Nina durante toda aquela semana, o que me deixou bastante tranquilo. Só de pensar na forma que ela me olhava ao repetir aquela pergunta, nossa, eu ficava totalmente nervoso. Um dos motivos de me sentir seguro ao lado de Susie, Kelly e Stella era o fato de elas nunca terem tocado no assunto, de me deixarem em paz quanto a minha escolha de não falar nada, não sabia se elas desconfiavam ou sei lá, mas o importante é que jamais chegaram a me questionar. E quem a Nina pensava que era? Se ela se sentia à vontade com suas preferências, Ok, mas eu não precisava pensar e agir da mesma maneira. Eram minhas escolhas!

***

Numa Segunda, Stella chegou empolgada falando de um show que iria acontecer Quarta-feira no centro cultural, um espaço onde haviam vários shows - a maioria de Rock e forró - que ficava num bairro da margem oposta à nossa:

- É uma banda cover da Legião Urbana! Vamos, né, Arthur, afinal, você adora Legião.

- Sim, gosto muito! Vamos, meninas? - Perguntei para Susie e Kelly.

- Com certeza. - Susie respondeu, assentindo.

- Kelly?

- Não gosto tanto, mas vou com vocês, sim.

Júlio, um amigo nosso, acabara de passar no vestibular e precisava se mudar para Universitária, claro que queríamos ele conosco, então nos organizamos para recebê-lo no nosso apartamento, e sua chegada foi justamente no dia do show, apenas nos abraçamos, perguntamos sobre a viagem de quatro horas e falamos a respeito do show à noite. Apesar de sermos muitos amigos, nunca tínhamos certeza se Júlio era ou não gay, era uma desconfiança nossa, talvez ele fosse como eu e, se fosse esse o caso, tinha todo o meu respeito, ninguém melhor que eu sabia o quanto era difícil conviver com aquela coisa de ser o que não se quer, de ser estranho e ter medo da não aceitação.

Eram quase nove quando saímos de casa e Stella falou que iria ligar para Nina, o que me deixou desconfortável e tenso:

- Ela vai com a gente? - Perguntei, deixando transparecer minha indignação.

- Claro, Arthur. - Do outro lado, ela atendeu. - Nina, a gente tá saindo. Ótimo! - Desligou - Vamos?

O show estava cheio e eu torci para que a Nina e a Stella não se vissem, mas alguma coisa nesse universo sempre conspirava contra mim e não demorou muito para que a garota mais inconveniente que já conheci aparecesse usando um minishort, botas pretas e camiseta cinza:

- Boa noite, galera! - Ela nos cumprimentou e Stella apresentou Júlio.

- Ah, esse é o Willan, somos amigos, ele mora no AP comigo. - Nina apresentou o rapaz que a acompanhara, ele usava várias pulseiras daquelas que os hippies vendiam na pracinha do lado do nosso apartamento e vestia-se muito bem com roupas que, sem dúvida alguma, eram de marca. Assim que ele falou já percebi que era gay, também notei o jeito que Júlio o olhou e me senti estranho de perceber aquilo.

A banda subiu ao palco umas dez e meia, foi ao som de "Que País é esse?", o que me levou à loucura. Olhei para a Kelly e ela cantava:

- Por favor, né, se você não cantasse eu ia perguntar de que planeta você é, Kelly.

- Mas essa todo mundo conhece, Arthur. Até eu!

O show continuou com "Pais e filhos", "Vento no litoral"...

- Onde está o Júlio? - Perguntei pra Susie quando o procurei ao redor e não o vi.

- Ih, ele sumiu praticamente no começo do show.

Se aceita, vaiOnde histórias criam vida. Descubra agora