Capítulo 15 - AS DORES DE SER O QUE SE É.

229 13 16
                                    

Com o fim das férias, tivemos que voltar para Universitária. O nosso bom e velho apartamento no segundo andar ao lado da praça do bosque deve ter ficado feliz em nos receber. Na verdade eu até que estava com saudade do nosso bom e velho "Nárnia"- O sofá engolidor -, saudade da mesinha de centro com livros; ali estava a lousa com os nossos nomes e as tarefas domésticas que cabiam a cada um naquela semana, a pintura verde descascando e revelando que as paredes já foram azuis, queria que voltasse a ter essa cor. Enfim, estávamos de volta.

O primeiro dia de aula na faculdade não era como na escola, eles não queriam saber sobre como tinham sido nossas férias. Já voltei pra casa com um artigo para escrever e um prazo bem curto para a entrega. Talvez estivesse mais seguro quanto a isso não fosse o fato de ter pensado tanto no Lucas durante aqueles dias. É que o cara sumiu , não respondeu nem minha mensagem que desejei feliz natal, nada! Aquela semana pareceu durar duas. Quando chegou a sexta-feira eu me sentia esgotado e muito, muito aliviado. Adiantei o artigo, coloquei algumas leituras em dia e pensei mais no Lucas.

- Vamos sair hoje? – Júlio, escolhendo qual camisa usar, me convidou.

- Qual o programa? – Perguntei sem ao menos tirar os olhos do livro.

Ele sentou bem do meu lado na cama e retirou das minhas mãos o exemplar de "A rainha vermelha".

- Uma baladinha GLS. – Ele respondeu. – Que tal?

- Balada gay, né? – Eu fiquei imaginando todos aos beijos, os caras se pegando sem a menor cerimônia e... Não, não me senti à vontade só de pensar naquilo tudo. – Não, eu vou ficar... Tô cansado. Semana intensa, sabe?

- Ai, Arthur... Vamos! Olha a frescura!

- Não é frescura, Júlio. Eu só não quero. Tudo bem?

Resumindo tudo, eu não fui. Resumindo mais ainda: Eu realmente não queria ir. Sei lá, e se um cara chegasse em mim e, pra ser sincero, eu não estava preparado para aquilo, para encarar esse mundo. As meninas e eu pedimos uma pizza e comemos assistindo a um filme no notebook. Eu queria cuidar da Stella, ela continuava tão triste por conta da volta da volta do Henrique pra cidade dele; ela passava o dia inteiro ou estudando ou desenhando ou assistindo Grey's Anatomy. Não queria sair e aquela não era a Stella de verdade.

- Vamos fazer alguma coisa amanhã? – Sugeri.

- Morta estou! O Arthur chamando a gente pra sair. – Susie brincou, mas com um real tom de surpresa.

- Eu tô ouvindo isso mesmo? – Perguntou Stella, pausando o filme.

- É, gente... Sair. Parem de bobagem.

- Ué, vamos. – Susie concordou.

- Stella?

- É, né?

Noite de um Sábado que tinha sido o dia inteiro de tédio e ociosidade.Como tínhamos combinado, nos arrumamos para sair. Fiquei pronto primeiro e assumi o papel de apressar as duas. Quando finalmente saímos de casa, decidimos ir a um daqueles barzinhos da margem, bem aconchegantes e onde tocam boa música Pedi algo bem fraquinho, por saber que sou igualmente fraco em se tratando de álcool.

- E então, felizes? – Stella perguntou.

- Em tirar você de casa? – Dei uma risada – Muito, mas muito mesmo!

- Eu não tirei ninguém de casa, não. A ideia foi toda tua mesmo, Arthur. Só vim junto.

- Susie sendo Susie. – Falei. – Mas olha, Stella, a gente quer, nós dois, que você fique bem, pois desde a ida do Henrique vemos você triste a maior parte do tempo. Não queremos isso, né, Susie?

Se aceita, vaiOnde histórias criam vida. Descubra agora