III

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       Eu teria ficado mais nervoso em relação a encontrar o Sr. Calum se soubesse que também iria conhecer algumas crianças da escola nova. Mas eu não sabia, então estava meio contente. Não conseguia parar de pensar em todas as piadas que o papai tinha feito com o nome do homem. Quando a mamãe e eu à Comprehensive School, algumas semanas antes do início das aulas, e vi o Sr. Calum nos esperando de pé no portão, comecei a rir imediatamente. Na verdade, ele não era nada do que eu imaginava, era um cara bem normal. Alto e magro. Velho, mas não muito. Parecia legal. Apertou primeiro a mão da minha mãe.
- Oi, Sr. Calum, que bom vê-lo outra vez - disse a mamãe. - Este é meu filho, Harry.
        Ele olhou bem para mim, sorriu e assentiu. Estendeu a mão para que eu a apertasse.
- Oi, Harry - falou em um tom completamente normal. - É um prazer conhecer você.
- Oi - murmurei, dando um aperto de mão fraco enquanto olhava para os pés dele, que estava de tênis Adidas vermelho.
- Então - disse o Sr. Calum, ajoelhando-se na minha frente, de modo que eu pudesse olhar para ele, e não para seu tênis. - Seus pais me falaram muito sobre você.
- O que disseram? - perguntei.
- Desculpe, o quê?
- Querido, você tem que falar mais alto - disse a mamãe.
- Tipo o quê? - falei, tentando não resmungar.
Reconheço que tenho péssimo hábito de fazer isso.
- Bem, que você gosta de ler - respondeu o Sr. Calum - e que é um ótimo artista. - Ele tinha olhos azuis e cílios brancos. - E que gosta de ciências, certo?
- É. - Fiz que sim.
- Tem algumas matérias eletivas de ciências ótimas aqui na Comprehensive School - informou ele. - Quem sabe você não pode fazer uma delas?
- É - respondi, mesmo sem saber o que era uma matéria eletiva.
- Então, pronto para um passeio pela escola?
- Quer dizer que vamos fazer isso agora? - perguntei.
- Você achou que íamos ao cinema? - disse ele, sorrindo enquanto levantava.
- Você não me contou que faríamos um passeio - reclamei para minha mamãe.
- Hazz... - começou ela.
- Vai ser legal, Harry - falou o Sr. Calum, estendendo a mão para mim - Eu prometo.
        Acho que ele queria que eu segurasse a sua mão, mas em vez disso peguei a da minha mãe. O Sr. Calum sorriu e começou a andar em direção ao portão.
         A mamãe apertou minha mão de leve, mas não sei se aquilo significava "eu amo você" ou " desculpe". Provavelmente era um pouco de cada.
          A única escola na qual eu já tinha entrado era a da Gemma, quando ia com a mamãe e o papai ver as apresentações da minha irmã nos concertos de primavera e coisas assim. A Comprehensive School era muito diferente. Era menor. Tinha cheiro de hospital.
-X-
Seguimos o Sr. Calum por alguns corredores. Não tinha muita gente, E os poucos que estavam por lá nem pareciam me notar, mas talvez não tenham me visto mesmo. Eu estava meio escondido atrás da mamãe. Sei que isso parece um tanto infantil da minha parte, mas eu não estava me sentindo muito corajoso naquele momento.
         Chegamos a uma sala pequena, com as palavras ESCRITÓRIO DO DIRETOR DO ENSINO FUNDAMENTAL II  escritas na porta. Lá dentro havia uma senhora, que parecia legal, sentada atrás de uma mesa.
- Esta é a Sra. Maura - disse o Sr. Calum.
A senhora sorriu para a mamãe, tirou os óculos e se levantou. Minha mãe apertou a mão dela e disse:
- Anne Styles. É um prazer conhecê-la.
- E este é o Harry - falou o Sr. Calum.
       Mamãe chegou um pouquinho para o lado e eu dei um passo à frente. Então  aconteceu o que eu já tinha visto um milhão de vezes. Quando dei o passo à frente, os olhos da Sra. Maura bateram na minha saia plissada rosa e logo se desviaram por um segundo. Foi tão rápido que ninguém mais notou, porque o restante da expressão dela continuou exatamente igual. Ela abriu um sorriso muito animado.
- Muito prazer em conhecê-lo, Harry - falou, estendendo a mão para me cumprimentar.
- Oi - respondi baixinho, apertando a mão dela.
         Não queria olhá- la no rosto, por isso continuei concentrado em seus óculos, que estavam presos a uma corrente pendurada no pescoço.
- Uau! Que aperto de mão forte! - disse a Sra. Maura, que tinha a mão bem quentinha.
- O aperto de mão dele é matador - concordou o Sr. Calum, e todos riram, mas eu não entendi por quê.
- Você pode me chame de Sra. M - disse a Sra. Maura. Acho que falava comigo, mas eu estava olhando todas as coisas que havia em sua mesa. - É assim que todo mundo me chama. "Sra. M, esqueci a combinação do armário." Sra. M vou precisar chegar atrasado."
- Na verdade, é a Sra. M. quem manda na escola - falou o Sr. Calum, mais uma fez fazendo todos os adultos rirem.

- Chego todos os dias às sete e meia - disse a Sra. Maura, ainda olhando para mim enquanto eu mantinha os olhos fixos em suas sandálias marrons com florzinhas roxas nas fivelas. - Então, se você precisar de qualquer coisa, Harry, é só falar comigo. E pode me perguntar qualquer coisa mesmo.
- Tudo bem - resmunguei.
- Ah, que bebê fofo - disse mamãe, apontando para uma das fotos no quadro de avisos da Sra. Maura. - É seu?
- Não, meu Deus! - respondeu a mulher, abrindo um sorriso completamente diferente do sorriso animado. - Ganhei o dia com essa! É meu neto.
- Que fofinho! - disse a mamãe, balançando a cabeça. - Quanto tempo ele tem?
- Nessa foto tinha uns cinco meses, acho. Mas agora está grande. Tem quase oito anos!
- Uau! - exclamou a mamãe, assentindo e sorrindo. - Bem, ele é lindo.
- Obrigada - disse a Sra. Maura, balançando a cabeça como se fosse dizer mais alguma coisa sobre o neto. Mas, de repente, seu sorriso diminuiu um pouco. - Nós vamos cuidar muito bem de Harry - falou para a mamãe, ajeitando levemente os cachos que saiam da minha touca.
         Olhei para o rosto da minha mãe e então percebi que ela estava tão nervosa quanto eu. Acho que eu gostava da Sra. Maura - quando ela não estava com aquele sorriso animado.

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