XIX

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       O que sempre gostei mais na escola no ensino fundamental é que aquele era um mundo à parte, diferente de casa. Eu podia ir para lá e ser Olívia Styles - não Gemma, que é como minha família me chama. Gemma era como me chamavam na pré-escola também. Naquela época, todo mundo sabia de tudo sobre nós, é claro. Minha mãe sempre me buscava levando Harry no carrinho. Não havia muitas pessoas preparadas para cuidar dele, por isso papai e mamar o levavam a todas as peças, apresentações e recitais da minha escola, todos os eventos, fossem para levantar fundos ou uma feira de livros. Meus amigos o conheciam. Os pais dos meus amigos o conheciam. Meus professores o conheciam. Até o zelador o conhecia. " Ei, como você está, Harry?", perguntava ele, e sempre trocava um High-five com Harry. Meu irmão era uma espécie de ornamento fixo da escola.
        Mas, no ensino fundamental, muita gente não sabia de nada. Meus antigos amigos, sim, mas os novos, não. Ou, se sabiam, não era necessariamente a primeira coisa que descobriam a meu respeito. Talvez fosse a segunda ou a terceira.
      " A Gemma? Sim, ela é legal. Você sabe que ela tem um irmão afeminando?"
        Sempre odiei essa palavra, mas sabia que era como as pessoas descreviam o Harry. E sabia ir provavelmente esse tipo de conversa acontecia sempre que eu não estava ouvindo, sempre que eu me afastava em uma festa ou esbarrava com grupos de amigos na pizzaria. Tudo bem. Sempre serei a irmã de uma criança diferente; a questão não é essa. Só não quero ser definida por isso sempre.
      A melhor coisa do ensino médio é que quase ninguém me conhece. Com exceção da Sophia e da Gigi, é claro. E elas sabem que não devem sair por aí falando sobre o assunto.
        Sophia, Gigi e eu não conhecemos desde o primeiro ano. O mais legal é que nunca temos que explicar nada umas para as outras. Quando decidi que queria que elas me chamassem de Olívia, em vez de Gemma, elas aceitaram sem me pedir explicações.
     Elas conhecem o Harry desde que ele era um bebezinho. Quando éramos pequenas, nossa brincadeira favorita era vesti-lo; nós o cobríamos boás de penas, grandes chapéus e perucas da Hannah Montana. Ele adorava isso, é claro, e nós o achávamos lindo a seu modo. Gigi disse que ele a fazia lembra da Barbie. É óbvio que sua intenção não era ser cruel (embora tenha sido um pouquinho.) A verdade é que há uma cena na série que a amiga de Hannah a ajuda com a peruca loura, e esse foi o estopim para nossa brincadeira de Miley Cyrus.
No ensino fundamental, Sophia, Gigi e eu éramos um grupinho fechado. Ficávamos entre superpopulares e simpáticas: não éramos nerds, atletas, ricas, drogadas, malvadas, boazinhas, altonas nem baixinhas. Não sei se nós três nos encontramos porque éramos muito parecidas em vários aspectos ou se nos tornamos parecidas por termos nos encontrado. Ficamos muito felizes quando todas entramos para a Hermitage High School. Foi muita sorte termos sido aceitas, sobretudo porque quase ninguém da nossa escola foi. Lembro como gritávamos ao telefone no dia em que recebemos as cartas de matrícula.
É por isso que não entendo o que vem acontecendo com a gente nos últimos tempos, agora que realmente estamos no ensino médio. Nada é como eu achei que seria.

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