VIII

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        Fui direto para a sala 301 no terceiro andar. Agora estava feliz por ter feito aquele passeio, porque sabia exatamente aonde deveria ir e não tive que levantar a cabeça nenhuma vez. Percebi que algumas crianças com certeza estavam me olhando. Então fiz o que sempre faço: fingi não notar.
Entrei na sala de aula e a professora estava escrevendo no quadro-negro enquanto os alunos começavam a se sentar nas carteiras, que estavam dispostas em um semicírculo de frente para o quadro. Então escolhi a carteira do meio, mais para o fundo, porque achei que assim seria mais difícil que os outros ficassem olhando para mim. Continuei de cabeça baixa, só tirei o cabelo da frente dos olhos o suficiente para ver os pés de todo mundo. Conforme as carteiras iam sendo ocupadas, notei que ninguém tinha se sentado ao meu lado. Algumas vezes parecia que alguém estava prestes a fazer isso, mas aí mudava de ideia no último minuto e ia para outro lugar.
- Oi, Harry.
Era o Niall, que acenou para mim quando se sentou em uma carteira na frente da sala. Não sei por que alguém escolheria ficar lá na frente.
-Oi- falei, retribuindo o cumprimento.
Então vi a Megan sentada algumas carteiras depois dela, conversando com alguns outros alunos. Percebi que ele me viu, mas não falou "oi".
De repente alguém se sentou do meu lado. Era Louis. O Louis.
- E aí? - disse ele, inclinando a cabeça.
- Oi, Louis - falei, acenando, e me arrependendo imediatamente porque isso não pareceu nada maneiro.
- Certo, crianças, vamos lá, pessoal! Sentem-se - ordenou a professora, agora olhando para nós. Ela havia escrito seu nome, Sra. Robin, no quadro-negro. - Vamos sentar, por favor. Entrem - falou para dois alunos que tinham acabado de chegar. - Tem um lugar ali e outro lá.
Ela ainda não tinha me notado.
- Agora, para começar, quero que todos parem de falar... - ela me viu - ...ponham as mochilas no chão d fiquem quietos.
        A professora hesitou por apenas uma fração de segundo, mas percebi exatamente o momento em que me achou. Como já disse, estou acostumado com isso.
- Vou fazer a chamada e dizer onde vocês vão sentar - continuou a Sra. Robin, sentando-se na beirada da mesa. Ao lado dela havia três fileiras bem-organizados de pastas sanfonadas.
- Quando eu chamar os nomes, cada um se levanta para receber sua pasta. Nela, vices encontrarão o horário de aulas e um cadeado, que vocês não devem tentar abrir até eu mandar. O número do armário de vocês está escrito no horário. Saibam que alguns armários não ficam em frente à sala, e sim no fim do corredor, e, antes que alguém pergunte, não, vocês não podem trocar de armário nem de cadeado. Depois, se sobrar tempo no final da aula, vamos todos nos conhecer um pouco melhor, certo? Certo.
Ela pegou a prancheta na mesa e começou a ler os nomes em voz alta.
- Então vamos lá: Megan Price - chamou, erguendo os olhos.
Megan levantou o braço e, ao mesmo tempo, disse:
- Aqui.
- Oi Megan - falou a professora, fazendo uma anotação no quadro de lugares. Ela pegou a primeira pasta sanfonada e estendeu para ele.
- Venha pegar - acrescentou, séria. Ela se levantou e pegou a pasta. - Carrie Hall?
Ela entregou uma pasta a cada criança que chamava. Enquanto prosseguia com a lista, notei que a carteira ao lado da minha era a única ainda vazia, embora houvesse dois alunos sentados juntos um pouco à frente. Quando chamou o nome de um deles, Carter Collins, um garoto grande que já parecia adolescente, a professora disse:
- Carter, tem um lugar vazio bem ali. Vá se sentar lá, certo?
Ela entregou lhe a pasta e apontou para a carteira do meu lado. Apesar de não olhar diretamente para ele, só pelo modo de como arrastou a mochila pelo chão ao se aproximar, como se estivesse andando em câmera lenta. Então ele pôs a mochila no canto direito da carteira, na vertical para que ela ficasse como muro entre nossas mesas.
- Marli Jones? - chamou a Sra. Robin
- Aqui disse uma garota sentada umas quatro carteiras depois da minha.
- Darwin Taylor?
- Aqui- respondeu o aluno que tinha dividido a carteira com Carter Collins.
       Enquanto Darwin voltava ao seu lugar, vi ele lançando um olhar de pena ao amigo.
- Harry Styles? - chamou a professora.
- Aqui - falei baixinho, levantando um pouco a mão.
- Oi, Harry - respondeu ela, abrindo um sorriso gentil para mim quando levantei para buscar a pasta.
Durante os poucos segundos em que fiquei de pé na frente da sala, senti os olhares de todos os alunos queimando nas minhas costas, mas quando me virei para voltar ao meu lugar, todo mundo olhou para baixo. Eu me sentei, e, embora todos os outros estivessem tentando abrir seus cadeados, me segurei para não mexer no meu, porque a professora tinha sido muito clara ao dizer que não fizéssemos aquilo. De todo modo, eu já era muito bom com cadeados, porque prendia minha bicicleta com um. Carter tentou várias vezes abrir o dele, mas não conseguiu. Estava começando a ficar frustrado e começou a meio que xingar baixinho.
A Sra. Robin chamou os últimos nomes. O último foi Louis Tomlinson.
Depois de entregar a pasta do Louis, ela disse:
- Muito bem. Quero que todos anotem suas combinações em um lugar seguro para que não a esqueçam, o.k.? Mas, caso esqueçam, o que acontece pelo menos 3,2 vezes por semestre, a Sra. Maura tem uma lista com todas as combinações. Agora tirem os cadeados das pastas treinem abri-los por alguns minutos, embora alguns de vocês já tenham começado a fazer isso, de qualquer maneira. - Ela me olhou para Carter ao dizer isso. - Enquanto isso, vou falar um pouco sobre mim. E depois vocês podem falar um pouco de vocês e nós vamos, hum...nos conhecer melhor. Tudo bem? Ótimo.
Ela sorriu para todos, embora eu sentisse que ela sorria mais para mim. Não era um sorriso brilhante como o da Sra. Maura, mas um sorriso normal, sincero. Ela era muito diferente das professoras que eu havia imaginado. Acho que pensei que seria parecida com a Dona Flora, daquele desenho, Jimmy Neutron: uma velhinha com um grande coque no alto da cabeça. Mas, na verdade, ela era igualzinha à Mon Mothma do Star Wars Episódio IV: corte de cabelo de menina e camisa branca larga, como uma túnica.
       Ela se virou e começou a escrever no quadro-negro. Carter ainda não tinha conseguido abrir o cadeado e ficava cada vez mais frustado quando alguém conseguia. Ele ficou bem aborrecido quando consegui abrir o meu na primeira tentativa. O mais engraçado é que, se ele não tivesse posto a mochila entre nós dois, eu com certeza teria me oferecido para ajudá-lo.

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