O Sr. Calum entrou em uma pequena sala depois da mesa da Sra. Maura, fechou a porta do escritório e se sentou atrás da grande escrivaninha sem parar de falar, mas eu não estava prestando muita atenção. Olhava tudo o que havia na mesa dele. Eram coisas legais, como um globo que flutuava no ar e um tipo de cubo mágico feito de pequenos espelhos. Gostei muito do escritório dele. Gostei do fato de haver todos aqueles desenhos e pinturas de alunos nas paredes, emoldurados e organizados como se fossem importantes.
A mamãe se sento em uma cadeira em frente à mesa do Sr. Calum e, apesar de ter outra cadeira ali, decidi ficar em pé ao lado dela.
- Por que tem sua própria sala e a Sra. M., não? - perguntei
- Você quer dizer por que eu tenho um escritório e ela não? - indagou o Sr. Calum.
- Você disse que é ela quem manda na escola - falei.
- Ah! Bem, eu estava brincando. A Sra. M. é minha assistente.
- O Sr. Calum é diretor do ensino fundamental II - explicou a mamãe.
- As pessoas chamam você de Sr. C.? - perguntei, e isso o fez sorrir.
- Na verdade, não - disse o Sr. Calum, balançando a cabeça. - Ninguém me chama de Sr. C., embora eu tenha a impressão de que sou chamado de muitas outras coisas que não sei. Vamos encarar os fatos: não é muito fácil conviver com o mesmo nome de um cantor australiano, se é que você me entende.
Tenho que admitir que eu ri, porque entendia completamente. Ele riu e balançou a cabeça.
- Então, Harry, o que eu pensei que poderíamos fazer hoje...
- Aquilo é uma abóbora? - perguntei, apontando para uma pintura emoldurada atrás da mesa do Sr. Calum.
- Hazz, querido, não interrompa - falou a mamãe.
- Você gostou? - perguntou o Sr. Calum, se virando e olhando para a pintura. - Também gosto. Eu também achava que era uma abóbora, até o aluno que me deu o desenho explicar que não, que é... você está preparado?... um retrato meu! Agora, Harry, eu lhe pergunto: realmente me pareço tanto assim com uma abóbora?
- Não! - respondi, embora estivesse pensando que na verdade parecia. Alguma coisa no modo como as bochechas dele estufavam quando ele sorria lembrava uma lanterna de Halloween. Assim que pensei nisso, achei a ideia engraçada, então comecei a rir um pouco. Balancei a cabeça e cobri a boca com uma das mãos.
O Sr. Calum sorriu, como se pudesse ler minha mente.
Eu ia dizer alguma outra coisa, mas de repente ouvi outras vozes do lado de fora do escritório. Vozes de crianças. Não estou exagerando: meu coração disparou como se eu tivesse participado da corrida mais longa do mundo. Minha vontade de rir passou na hora.
A questão é que, quando eu era pequeno, nunca me incomodava em conhecer outras crianças porque todas elas também eram pequenas. O legal de crianças pequenas é que elas não dizem coisas para tentar magoar você e, mesmo que as vezes façam isso, não sabem muito bem o que estão dizendo. Quando elas crescem, por outro lado... sabem muito bem o que eu estão dizendo. E isso, definitivamente, não é divertido para mim. Um dos motivos de eu ter deixado meus cachos crescerem no ano passado é que eu gosto do modo como a franja cobre meus olhos: isso me ajuda a tampar as coisas que não quero ver.
A Sra. Maura bateu na porta, colocou a cabeça no vão entreaberto e avisou:
- Eles estão aqui, Sr. Calum.
- Quem está aqui? - perguntei.
- Obrigado - disse o Sr. Calum à Sra. Maura. - Harry, achei que seria uma boa ideia você conhecer alguns alunos que estarão na sua turma este ano. Eles podem andar com você pela escola e fazer um reconhecimento da área, por assim dizer.
- Não quero conhecer ninguém - falei para a mamãe.
De repente o Sr. Calum parou bem na minha frente, com as mãos nos meus ombros. Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido:
- Vai dar tudo certo, Harry. Eles são legais. Eu juro.
- Você vai ficar, Hazz - murmurou mamãe, querendo muito acreditar no que dizia.
Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, o Sr. Calum abriu a porta do escritório.
- Entrem, crianças.
Então dois garotos e uma menina entraram. Nenhum deles olhou para mim ou para a mamãe: ficaram parados na entrada, olhando diretamente para o Sr. Calum, como se a vida deles dependesse disso.
- Muito obrigado por terem vindo, meninos. Sobretudo considerando que as aulas só começam no mês que vem! - falou o diretor. - O verão foi bom!
Eles assentiram, mas ninguém falou nada.
- Ótimo. Então, crianças, eu gostaria que vocês conhecessem o Harry, que vai estudar aqui este ano. Harry, esses alunos estão na Comprehensive School desde o jardim de infância. Na época, é claro, estudavam no prédio dos pequenos, mas já conhecem bem o programa do ensino fundamental. E,
como vocês estarão na mesma turma, achei que seria bom que se conhecessem um pouco antes de as aulas começarem. Certo? Então, crianças, este é o Harry. Harry, este é o Niall Horan.
Niall Horan olhou para mim e estendeu a mão. Quando eu apertei, ele abriu um sorrisinho e disse:
- Oi.
Depois olhou para baixo muito depressa.
- Esta é a Megan - falou o Sr. Calum.
- Oi - disse a garota e depois fez exatamente a mesma coisa que o Niall Horan: pegou minha mão, deu um sorriso forçado e olhou para baixo depressa.
- E o Louis - completou o Sr. Calum.
Louis tinha os cabelos mais sedosos e os olhos mais azuis que eu já havia visto. Ele não apertou minha mão. Em vez disso fez um aceno rápido e sorriu.
- Oi, Harry. É um prazer conhecer você - cumprimentou.
- Oi - falei, olhando para baixo.
Ele usava um vans verde-limão.
- Então - disse o Sr. Calum, juntando as mãos gentilmente, como se batesse palmas bem devagar. - O que acho que poderiam fazer é dar um pequeno passeio pela escola com o Harry. Por que não começam pelo terceiro andar? A sala de vocês será a 301. Eu acho, Sra. M...
- Sala 301! - gritou a Sra. M. do lado de fora do escritório.
- Sala 301 - repetiu o diretor, assentindo. - Em seguida podem mostrar ao Harry o laboratório de ciências e a sala de informática. Depois desçam até a biblioteca e o auditório, no segundo andar. E levem-no ao refeitório, é claro.
- Podemos levá-lo à sala de música perguntou o Niall.
- Boa ideia. Podem, sim - concordou o Sr. Calum. - Harry, você toca algum instrumento?
- Piano - respondi.
Eu adorava música, podia expressar meus sentimentos nas melodias das musicas que eu escrevia.
- Bem, então irá gostar de ver a sala de música - falou o Sr. Calum. - Temos uma bela coleção de instrumentos de percussão.
- Harry, você não queria aprender a tocar violão? - perguntou a mamãe.
Ela tentou fazer com que eu a olhasse, mas meus olhos estavam cobertos pelos meus cachos e miravam fixamente um chiclete velho colado na parte de baixo da mesa do Sr. Calum.
- Ótimo! Muito bem, então por que não vão em frente? - sugeriu o Sr. Calum. - Estejam de volta em... - ele olhou para a mamãe - ... meia hora, o.k.?
Acho que a mamãe assentiu.
- Tudo bem por você, Harry? - perguntou ele, mas eu não respondi.
- Tudo bem, Harry? - repetiu a mamãe.
Dessa vez olhei para ela. Queria que ela notasse como eu estava zangado. Mas então vi seu rosto e apenas concordei. Ela parecia mais assustada que eu.
As outras crianças estavam saindo, e fui atrás delas.
- Vejo você daqui a pouco - disse a mamãe.
Sua voz pareceu um pouco mais alta que o normal. Não respondi.
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Extraordinário|| Ls
Teen Fiction→ Larry Stylinson Fanfiction ← Harry (Hazz) Styles nasceu com gostos peculiares, ditos como "inapropriados"para seu gênero, o que lhe impôs diversos olhares curiosos e cochichos maldosos. Por isso ele nunca freqüentou uma escola de verdade ... até...