XVII

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Eu estava muito animado porque tinha sido convidado para a festa de Halloween do Jack.
  Ele provavelmente é o garoto mais popular da escola. Todas as garotas gostam dele. Todos os caras querem ser seus amigos. Foi o primeiro do quinto ano a ter uma "namorada" de verdade. Era uma garota de outra escola, mas eles terminaram e ele começou a sair com Meg Joplin, o que faz sentido, porque os dois parecem muito que já são adolescentes.
Embora eu não seja da turma mais velha, fui convidado por algum motivo, o que é muito legal. Quando falei com o Jack que tinha recebido o convite e iria à festa, ele foi muito gentil, mas fez questão de me avisar que não tinha chamado muitas pessoas, então eu não devia sair por aí me gabando por ter sido convidado. A Maya, por exemplo, não foi. Também fez questão de falar que não era para usar fantasia. Foi bom, porque é claro que eu me fantasiaria para ir a uma festa de Halloween — não com a fantasia de olaf que fiz para o desfile, mas com a roupa de gótico que tinha usado na escola. Mas nem isso eu poderia usar na festa de Jack. O único ponto negativo no fato de ter sido convidado é que agora não poderia ir ao desfile de Halloween, e a fantasia de olaf seria desperdiçada. Fiquei meio triste com isso, mas tudo bem.
A primeira coisa que aconteceu quando cheguei à festa foi que o Jack me recebeu na porta e perguntou:
— Cadê seu namorado, Louis?
Eu não tinha a menor ideia do que ele estava falando.
— Acho que ele não precisa usar fantasia no Halloween, não é? ​— acrescentou ele.
Então entendi que ele estava falando do Harry.
— Ele não é meu namorado — respondi.
— Eu sei. Estou só brincando!
Ele me cumprimentou com um toque (todos os meninos do grupinho faziam o toque sempre que se encontravam) e jogou meu casaco em um cabideiro na entrada. Então pediu para eu lhe seguir e me levou escada abaixo, até o porão, onde estava acontecendo a festa. Não vi os pais dele em lugar nenhum.
Havia umas quinze crianças lá: todas populares, do grupo do Jack ou da Megan. Acho que os dois grupos meio que se juntaram em um grande grupo dos populares, agora que alguns deles tinham começado a namorar.
  Eu nem sabia que havia tantos casais. Quer dizer, sabia do Jack e da Meg, mas Carly e Carter? E Gigi e Reed? Até eu tenho mais bunda que a Gigi. Cinco minutos depois que cheguei, Meg e Jack estavam ao meu lado, praticamente em cima de mim.
— Então, queremos saber por que você anda tanto com o garoto viadinho — disse o Jack.
— Ele não é um viadinho— falei, rindo, como se aquilo fosse uma piada. Eu estava sorrindo, mas não me sentia feliz.
— Sabe, Louis — começou a Meg —, você seria bem mais popular se não andasse com ele. Vou ser sincera: a Megan gosta de você. Ela quer convidar você para sair.
— Quer?
— Você acha ela bonita?
— Hum... acho que sim.
— Então tem que escolher com quem quer andar — disse a Meg. Ela falava comigo como uma irmã mais velha faria com uma criancinha. — Todo mundo gosta de você, Louis. Todos acham você legal e muito, muito bonito. Você com certeza poderia andar com a gente se quisesse e, pode acreditar em mim, um monte de meninas e meninos do quinto ano adoraria isso.
— Eu sei — falei, assentindo. — Valeu.
— De nada. Quer que eu diga a Megan para vir falar com você?
Olhei para onde ela estava apontando e vi a Megan nos observar.
— Hum... Na verdade preciso ir ao banheiro. Onde fica? – perguntei ao Jack.
Fui para onde ele indicou, sentei na beirada da banheira, liguei para minha mãe e pedi que fosse me buscar.
— Está tudo bem? — perguntou mamãe.
— Sim, só não quero mais ficar aqui — falei.
A mamãe não fez mais perguntas e disse que chegaria em dez minutos.
— Não toque a campainha — pedi. — Só me ligue quando chegar.
Fiquei no banheiro até minha mãe ligar, então subi as escadas sem que ninguém visse, peguei meu casaco e saí.
Eram só nove e meia da noite. O desfile de Halloween estava arrebentando. Toda a região estava lotada. Todo mundo fantasiado. Esqueletos. Piratas. Princesas. Vampiros. Super-heróis.
Mas nenhum olaf.

- X -

No dia seguinte, falei para o Jack que tinha comido um doce estragado no Halloween e passado mal, por isso havia saído mais cedo da festa, e ele acreditou. Havia mesmo uma virose rolando, então foi uma boa mentira.
Também disse a ele que gostava de outra pessoa, e não da Megan, para que ele me deixasse em paz com relação a isso e dissesse a ela que eu não estava interessado. É claro que ele quis saber de quem eu gostava, mas falei que era segredo.
O Harry faltou à aula no dia seguinte ao Halloween e, quando voltou, notei que algo tinha acontecido.
Ele estava agindo de um modo tão estranho no almoço! Não falou praticamente nada e ficava olhando para a comida enquanto eu conversava com ele. Como se não quisesse me encarar.
Por fim, perguntei:
— Hazz, está tudo bem? Você está chateado comigo?
— Não.
— Uma pena você não ter se sentido bem no Halloween. Fiquei procurando por uma Elsa nos corredores.
— É, eu passei mal.
— Pegou aquela virose?
— Acho que sim.
Ele abriu um livro e começou a ler, o que foi meio grosseiro.
— Estou tão empolgado com o projeto do Museu Egípcio... — falei. — Você não está?
Ele fez que não com a cabeça, ainda mastigando. Desviei o olhar. Pelo modo como ele estava comendo, quase como se estivesse sendo mal-educado de propósito, e o modo como seus olhos estavam meio fechados, havia uma energia muito negativa vindo dele.
— Qual vai ser o seu projeto? — perguntei.
Ele deu de ombros, puxou um pequeno pedaço de papel do bolso da calça jeans e me entregou por cima da mesa.
Todos os alunos do quinto ano receberam a tarefa de criar uma peça para o Dia do Museu Egípcio, que aconteceria em dezembro. Os professores escreveram os temas em papeizinhos, depois os puseram em um pote e em seguida pediram que cada aluno pegasse um. Desdobrei o papel do Hazz.
— Ah, que legal! — falei, talvez um pouco empolgado demais, porque estava tentando chamar a atenção dele. — Você pegou a pirâmide de degraus de Saqqara!
— Eu sei! — disse ele.
— Peguei Anúbis, o deus da vida após a morte.
— Aquele que tem cabeça de cachorro?
— Na verdade, é cabeça de chacal — eu o corrigi. — Ei, quer começar a fazer o projeto comigo depois da aula? Você pode ir para minha casa.
O Harry pousou o sanduíche e se recostou na cadeira. Não consigo nem descrever o olhar dele.
— Sabe, Louis, você não precisa fazer isso.
— Do que você está falando?
— Não precisa ser meu amigo. Sei que o Sr. Calum falou com você.
— Não tenho a menor ideia do que você está falando.
— O que estou dizendo é que você não precisa fingir. Sei que o Sr. Calum conversou com alguns alunos antes do início das aulas e lhes disse para serem meus amigos.
— Ele não falou comigo, Harry.
— Falou, sim.
— Não falou nada.
— Falou.
— Não falou! Juro pela minha vida!
Ergui as mãos para que ele visse que eu não estava cruzando os dedos. Na mesma hora ele olhou para baixo, então tirei os sapatos para mostrar que os dedos dos pés também não estavam cruzados.
— Você está de meia — disse o Harry, em tom acusador.
— Dá para ver mesmo assim! — gritei.
— Tudo bem, não precisa berrar.
— Não gosto de ser acusado, tá?
— Tá. Sinto muito.
— Tem que sentir mesmo.
— Ele não falou com você, de verdade?
— Hazz!
— Certo, certo. Sinto muito mesmo.

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