Confissão

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Fernando

-Por favor filho , desista dessa maluquice toda, e tome seu lugar por direito na empresa. - bateu com as mãos na mesa.

Não acreditava que deixei a paz do meu consultório, para enfrentar a fera a minha frente chamada de pai.

-Por favor pai , entenda...

-entender o quê? Que quase foi preso ontem ? - esbravejou em sua cadeira

-Não foi isso que aconteceu. - disse perdendo minha paciência .

-Bom , sendo ou não , é o que está estampado nos jornais , e o nosso nome está sendo jogando na lama.

-Ora não exagere, sua maior preocupação é o nome a se zelar ? Eu não vou trabalhar com pessoas mesquinhas , eu sou totalmente independente de você, não preciso me preocupar com o que você quer ou não. - respondi entre dentes de saco cheio.

-Pois bem então ... Achei que não precisasse chegar a este ponto, mas você é o único filho que tenho e o amo muito por mais que duvide , meu filho... - olhou para suas mãos - Fernando estou... Morrendo.

Senti um baque me atingindo , e como se o mundo parasse naquelas frases repetindo como se fosse um disco arranhado 'morrendo'

'Morrendo'

'Morrendo'

até eu cair em si do que elas significavam ,'morrendo ' significa 'morte'.

-que piada é essa pai? - disse com a voz embargada mesmo sabendo que ele não era para brincadeiras.

-Quem dera que fosse. -Olhou para mim- Meu filho , descobri que estou... Com câncer - retirou seu olhar, como se tivesse algo além de mim.

Câncer ... Mas como ? a ficha não caiu diante daquelas palavras, sempre considerei meu pai o mais autoritário possível , que poderia controlar até os terremotos , e agora escuto suas palavras 'morrendo ' 'câncer ' , olhei para sua face sem consegui dizer algo.

-Pa...pai , mas como? Quando descobriu .

-faz um mês , até hoje me recuso a acreditar , mas infelizmente já está alastrado, não há nada do que possa fazer , além de adiar a morte a procura de algo - parou seu olhar em mim - é por isso meu filho, você é meu herdeiro , por favor essa é minha vontade trabalhe na empresa, não largue tudo que nos construímos para manter isso aqui de pé, e deixar nas mãos de qualquer um.

Mantive meu olhar sobre o seu , primeiro a traição , e agora iria perder meu pai ? A vida estava me pregando uma peça , o que diria com esse pedido ? Não pai , que morra mas não irei trabalhar na empresa?

Olhei em todos esses anos que fui seu filho, nunca me tornei seu orgulho, talvez essa seja a hora de deixar sua alma em paz.

-Tudo bem pai - sua expressão se suavizou- irei voltar a empresa, contudo não abandonarei o consultorio.

-Ora meu filho isso já é o bastante, um dia irá gostar de ter tudo isso, e verá que sempre quis o melhor pra você . Bom tenho uma reunião para daqui a dez minutos se não se importa peço para que se retire - e esse era meu pai educado de sempre.

-Claro , já estava de saída... Pois bem pai , amanhã começarei...- procurei palavras para expressar o que estava sentindo diante de sua doença mas o que saiu de minha boca foi duas palavras:- até breve .

Sai de sua sala inerte sobre o que estava acontecendo  , e me deparei com a pessoa que eu menos queria encontrar na face da Terra.

-Olá Fernando - disse me analisando.

-Olá Fernando - disse me analisando

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-Olá Christina .

-Soube que estava aqui e vim ver se...- interrompi -a

-não se preocupe Christina , não disse nada ao meu pai e nem vou dizer, seu emprego está salvo, agora se me der licença.

-Fernando por favor, precisamos
conversar.

-Adeus Christina - sai dali passando por ela , entrando no elevador.

Mas que droga , havia me esquecido dela , agora que aceitei voltar, provavelmente iria me encontrar com ela, não sei se conseguiria conviver meus dias com ela .

Que merda Christina , Por que fez isso comigo, olhar para sua cara todo dia , só iria me relembrar do quão idiota fui.

Sai do elevador bufando de raiva, acho que só posso ter jogado pedras na Cruz, ah meu pai... Minha conversa com ele , ainda estava ecoando na minha cabeça, ele não era o maior exemplo de pai , mas era o meu pai, e isso não diminuía o efeito de suas palavras em mim.

Caminhando rapidamente sem prestar atenção , esbarrei em um corpo frágil e pequeno.

Admirei seus cachos , e o seu olhar de alguém de que já iria me xingar, mas se conteve.

Por um tempo me esqueci do que estava fazendo ali e observar aquele rosto de anjo me acalmou de qualquer sentimento de raiva, observei seu olhar descendo até minha boca , e aquele gesto estava fazendo algo erguer em mim.

Acho melhor tomar cuidado - me pronunciei quebrando aquele momento.

-Ora... Era só você...quer dizer a culpa foi minha , nem vi que você estava no caminho - respondeu com o olhar em meus olhos  .

-Bom Srta.Dark , me desculpe pelo incomodo...

-oh... Tudo bem.

Ficamos mais alguns instantes mantendo o olhar firme um no outro. Até ela quebrar dessa vez o silêncio.

-ergh... Uhum... Bom Dr.Fernando não sei o por que o senhor está aqui, e se estiver vindo para me levar embora saiba que tudo não passou de um mal entendido, e que eu peço desculpas para você e para a lagarti... Lissy, e que peço gentilmente uma nova consulta para você ver que não estou maluca . Pronto é isso, que tenho a dizer - falou rapidamente desviando seu olhar de mim.

Ela ficou esperando minha resposta, e achei encantador seu constrangimento, ah pensam que não ? Mas escutei bem ela quase chamar minha recepcionista de lagartixa , sorri por suas palavras sem filtros.

Finalmente ela me encarou de volta.

-Bom Susany, acho que aqui não é lugar para falarmos sobre isso, se não se importa gostaria que fossemos em outro lugar para conversar. - agora era hora de ter uma conversa séria com ela .

-Bom... poderia ser no seu consultório  ? Acabei esquecendo meus documentos ontem, por causa ...por causa do...do... - engasgou-se com suas palavras e senti pena a interrompendo .

-Já entendi Susany,  tudo bem então , assim que puder pode passar por lá , hoje não terei mais nenhum compromisso marcado, assim poderemos conversar sobre esse 'mal entendido' de ontem - respondi com ironia, e falaria outras mais mil ironias , se todas elas a fizessem corar daquele jeito.

-ok , estarei lá Sr. Fernando.

-por favor Susany me chame de Fernando , ouvir você me chamar de 'senhor ' me faz sentir como se fosse um homem de 50 anos . - por Deus detestava que me chamavam de senhor me sentia tão velho , olha só ainda não tenho ruguinhas ora.

-Ah sim, claro me desculpe senh... Fernando. Bom até mais . - despediu-se

-Até Susany.- me despedi.

Foi então que me cai em si, o que ela estava fazendo ali ?

Meu Inimigo ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora