All Star Azul

Capitulo Dois

“Seu All Star azul combina com o meu preto de cano alto...”

Eve parou em frente ao espelho e ajeitou sua camisa xadres vermelho e preta por cima de seu vestido rosa claro, seu all star preto cano alto só destacou ainda mais seu look “ousado” e chamativo.
Ajeitou a peruca castanho  claro e colocou os óculos de grau terminando de vez de se arrumar.
Ela se afastou do espelho e pegou sua mochila e seu celular que estava em cima da cama, assim que se afastou seguiu na direção da porta e saiu do quarto indo pelo corredor em direção às escadas.
Eve desceu as escadas sem pressa indo até a cozinha. O rádio estava ligado e a música alta do Ramones ecoava por todo o espaço. Sua mãe Pegg arrumava a mesa do café da manhã e Louise, sua segunda mãe preparava suas famosas panquecas:
- Bom dia filhota -Pegg foi até Eve e a beijou no rosto sorrindo para ela. - Dormiu bem?
- mais ou menos, tive uns enjôos de madrugada mas passou rápido.
- já tomou o remédio?- Louise perguntou.
- tomei -Eve puxou a cadeira e se sentou deixando sua mochila de lado. Ela pegou um copo e encheu com suco de maracujá tomando um pequeno gole.
- não quer ficar em casa hoje?- Pegg perguntou encarando a filha. -Você me parece meio abatida...
- eu tô bem mãe, eu só estou assim por causa dos enjôos mas já passou.
- isso é o que você diz -Pegg colocou o bolo de laranja na mesa e serviu um pedaço para Eve.
- da última vez que você disse que estava bem passou mal na escola. - Louise falou sem tirar a atenção das panquecas no fogo.
- Aquele dia não conta, eu tinha esquecido de tomar o meu remédio.
- você quer dizer que os seus “Colegas” fizeram você esquecer de tomar os remédios.
- A culpa não é deles...- Eve tentou falar mas foi interrompida por Pegg que puxou uma cadeira e se sentou de frente pra ela.
- Você não pode defender eles, sabe que está errada fazendo isso.
- Sem contar que aqueles viadinhos dos seus colegas só trataram você mal, não sei como ainda consegue ser boazinha com eles -Louise colocou mais massa na frigideira e olhou para Eve - Um dia eu vou naquele colégio e vou dar uns tapas na bunda de cada um que te fez sofrer.
Eve olhou para Louisa e sorriu balançando a cabeça:
- quem sabe eu viva pra ver isso.
Eve se levantou e pegou sua mochila junto com o celular:
- Eu tenho que ir- ela disse pegando o fone de ouvido - não quero chegar atrasada de novo nessa semana.
- eu posso te levar -Pegg falou se levantando.
- não precisa, eu não estou totalmente morta mãe. Acho que posso chegar sozinha no colégio sem morrer no caminho.
- Não brinque com isso querida...
- OK- Eve foi até Louise e deu um beijo em seu rosto -Tchau mãe.
- tchau amor.
Eve se afastou e deu um beijo no rosto de Pegg antes de sair da cozinha e ir embora.
..............................................
Eve colocou os fones de ouvido e seguiu pela calçada aumentando o volume da música no máximo.
A trilha sonora do dia era Fools -Troye Sivan - uma de suas músicas favoritas.
O caminho de sua casa até o colégio não era tão longo apesar de ultimamente Eve estar se cansando com mais facilidade, por conta dos “adoráveis ” sintomas do câncer.
Ela podia ter deixado o colégio que por anos odiou profundamente mas, não queria deixar de aproveitar seus últimos meses naquele lugar que mesmo parecendo um absurdo, de alguma forma aquele colégio fez grande parte de sua vida. É claro, que nessa grande parte incluí ela sendo zoada, humilhada, “as vezes” trancada pra fora da sala (“só as vezes”), a maioria das vezes sendo excluída por todos (TODOS!) os alunos do colégio, mas tirando tudo isso, ela ainda achava que era bom aproveitar seus dias no colégio.
Pouco depois de uma longa caminhada Eve finalmente chegou no colégio.
A área de entrada estava dominada por grupinhos de alunos de todos os tipos, desde o grupo dos esquisitos até o grupo dos rapazes populares que até então era quem estava acima de todos ficando apenas abaixo dos veteranos que até onde Eve sabia todos daquele grupo já devia ter acabado os estudos a tempos.
Eve por mais que tentasse nunca conseguiu fazer parte de nenhum daqueles grupos. Nem mesmo os esquisitos queria ela por perto. Todos alí temem o grupo das Populares, as garotas que dominavam todo aquele lugar e que por azar adoravam a companhia de Eve, ou melhor, adoravam fazer da Eve a piada de todo o colégio.
Eve sempre se perguntou como seria se todos alí soubessem que ela tem câncer e que tem apenas alguns meses de vida. Será que eles teriam pena? Ou aquele seria apenas mais um motivo para trata-la  ainda pior? Bom, de qualquer ela nunca saberia.
Eve colocou o capuz e respirou fundo antes de seguir pelo pátio de entrada. Aquela área não era tão grande mas com todas aquelas pessoas juntas a olhando com indiferença Eve se sentia bem pequenininha tendo que atravessar dois grandes campos de futebol.
Ela tentou ignorar os olhares que caíram sobre ela e tentou ainda mais ignorar os risinhos e até piadas que com certeza estavam fazendo com ela.
Depois de encarar tudo aquilo ela passou pelas portas de entrada e ficou um pouco aliviada ao entrar no corredor.
Ela tirou os fones de ouvido e desligou a música. Havia alunos por toda a parte indo e vindo pelo corredor o que só a fez se atrapalhar ainda mais com as coisas.
Um grupo de quatro garotas passou próxima a ela e a empurrou a fazendo cair no chão e derrubar o celular e os fones de ouvido:
- Saí do caminho aberração - A loira mais alta falou o que fez as outras rirem.
Eve tateou o chão a procura dos óculos mas parou assim que viu um belo par de All Star azuis, acima deles um jeans escuro surrado. Olhando mais acima Eve se deparou com talvez o cara mais lindo que já tinha visto em toda sua vida, não era como nos contos de fadas onde o príncipe aparecia usando um traje elegante como num sonho. Aquele era totalmente o contrário de qualquer príncipe que já existiu, era como um príncipe sombrio e rebelde com cabelos alaranjados e pele clara, havia poucas sardas em seu rosto e mesmo que aquilo parecesse fofo o jeito Bad Boy que ele tinha fazia com que toda aquela fofura sumisse.
De um minuto para outro Eve se viu encarando um par de olhos verdes claros que a fitava com curiosidade.
Seria um anjo? Ela pensou, Ou talvez um demônio?
Ele entendeu a mão para ela que aceitou a ajuda e se levantou. Ambos permaneceram se encarando por um pequeno minuto até que então Eve deu as costas e saiu correndo o mais rápido possível daquele que seria seu salvador...