"Em um minuto eu segurava a chave. No outro as paredes estavam fechadas contra mim..."
Foi só quando tudo em sua cabeça parou de dar voltas e voltas que Eve conseguiu se controlar um pouco.
Seus olhos ainda estavam lacrimejando mas pela primeira vez ela estava certa em se negar a chorar pois não conseguia mais aguentar tudo aquilo.
O pátio estava vazio, os alunos haviam entrado e agora estavam em suas salas de aula. O último sinal havia tocado e mesmo querendo entrar para fingir que estava tudo bem Eve não conseguiu.
Sua cabeça infelizmente dizia uma coisa, mas seu corpo expressava outra. Mesmo que tentasse ignorar tudo não estava adiantando, ela sabia que se continuasse ali parada ia pensar e se pensasse ia se lembrar do Beijo e...
Ela afastou os pensamentos e respirou fundo.
Não podia chorar, ela não ia chorar.
Mesmo que aquilo doesse não valia a pena.
Ela se levantou e pegou sua mochila. Se tivesse sorte- e ela sabia que não teria- chegaria a tempo de pegar o final da aula.
Já era tarde demais para se arrepender do passado, já era tarde demais para ela se arrepender de ter pensado em ter uma relação com Dexter.
Ela limpou as lágrimas e seguiu pelo pátio em direção ao prédio. Tudo estava silencioso naquela área, assustador e silencioso; duas coisas que Eve odiava muito apesar de gostar em momentos como aquele onde a única coisa que importava era as várias formas que ela teria que encontrar para evitar uma depressão profunda.
Um sorriso tomou seus lábios no momento em que a palavra "Depressão" passou por sua cabeça. Era irônico só de pensar que mesmo tendo um tumor no cérebro ela ainda não tinha tido uma depressão profunda e assustadora como os médicos diziam que ela teria.
Apesar de tudo, ela não acreditava que teria tempo ou ânimo para encarar uma depressão. Seu médico deixou claro que o que ela tinha eram poucos meses de vida.
Se ela se preocupasse com uma possível depressão ia morrer antes de ser presa pela primeira vez o que não era nada legal.
Havia metas que ela queria mais do que tudo cumprir e tendo ou não um amor com ela sem dúvidas ela faria:
- Eve!
Eve parou poucos centímetros à frente da porta de entrada mas não ousou se virar. Ela fechou os olhos e contou até dez acreditando ter ouvido coisa pois não tinha certeza de que a voz que a havia chamado era a dele.
- Eve, espera.
Ela se virou lentamente e estremeceu ao ver Peety. Seria mais fácil ter acreditado que era mentira mas algo já lhe dizia que mais cedo ou mais tarde ela iria ter uma ótima conversa com ele, e com ótima ela sem dúvidas queria dizer "estranha".
Peety parou e a encarou. Por alguma razão algo nele parecia diferente. Sua aparência estava péssima, tinha olheiras bem visíveis em seus olhos como se não dormisse a dias. Seria sua consciência pesando? Eve sorriu com a possibilidade.
- Eu...- Peety parou de falar e a estudou por um minuto-... Estava chorando?
Eve deu de ombros:
- Você é só inteligente ou quis mesmo me perguntar o óbvio? - ela perguntou e sentiu um certo alívio tomar conta de sí assim que viu o quanto sua resposta pareceu atingir ele.
É, Kara realmente parecia estar errada. Era possível sim uma pessoa mudar de um dia para outro tanto que a tal pessoa radicalmente parecia se importa com o modo que era tratado ou não.
Eve sabia que estava sendo rude e talvez até estivesse exagerando um pouco por descontar sua raiva em Peety, mas, o que importava? Não foi ele que passou os últimos anos fazendo o mesmo com ela?
- eu... eu sinto muito - ele disse por fim mas Eve teve a impressão de que ele não estava falando da pergunta que havia feito.
Ela o analisou de cima a baixo tentando arrumar motivos para entender ele mas estava difícil. Ele estava tão mudado que até chegava ser estranho olha-lo como antes.
- o que você quer?- ela perguntou- Veio rir de mim? Por acaso essa é mais uma de suas pegadinhas? Se passar por bonzinho?
- não, Eve, eu só queria conversar.
- conversar?- Eve teve que sorrir- Desde quando você gosta de conversar comigo? Por acaso acha que eu vou cair na sua de novo?
Eve se virou mas Peety a puxou segurando seu pulso com firmeza. Ela voltou a encara-lo mas não se afastou do toque dele. Por que? Ela não sabia.
- me deixa tentar ok?- ele pediu mas não soube se pronunciar bem. Eve continuava o encarando como se ele fosse um louco e deve ter expressado isso pois Peety a soltou e deu um passo para trás.
Ela pensou em falar algo, pensou até em pedir desculpa por ser tão agressiva mas não daria a ele esse gostinho.
Para ela estava claro que Peety só estava fazendo mais um de seus joguinhos e ela tinha certeza que a qualquer minuto alguém ia sair de algum lugar gritando que ela é trouxa e que iria sofrer com humilhações pelo resto do ano.
Era uma puta de uma vida, ela pensou.
Só mesmo nascendo com muito azar para ter uma vida daquelas e nem mesmo a paciência estava ajudando.
Até que não era ruim ter alguém para distraí-la mas o Peety? Logo o Peety?
Ela suspirou e ajeitou a mochila no ombro. Se o destino a mandou um encosto ela teria que conviver com aquilo e sendo ele o Peety ou não já não fazia mais diferença. Sua vida já estava ruim demais para reclamar.
- sabe como sair?- ela perguntou.
- o que?
Peety a encarou confuso, Eve revirou os olhos:
- eu perguntei se sabe sair daqui. Sendo o mais idiota da escola deve conhecer alguma saída escondida, não é?
- você quer sair?- ele perguntou.
- não, eu só estou perguntando se tem uma saída pra mim ficar lá olhando.
Outra. Mas uma vez Peety parecia ter sentido aquela resposta, não devia ser comum pra ele que era o "Boy nariz empinado" receber uma resposta daquelas. Mas, foda-se, quem mandou ele ter sido um cretino por tantos anos.
- Eve eu não...
- você tem ou não tem uma saída? - ela perguntou sem paciência.
Peety abriu a boca para falar mas pensou um minuto pensando na resposta certa. Ele olhou envolta vendo se não havia ninguém por perto ou, vendo o porquê de seus tais capangas não ter chegado ainda gritando com Eve e então voltou a encarar ela:
- eu posso ter uma saída- ele disse- mas, se você for sair eu vou com você.
- não.
- então não tem saída.
- então sai da minha frente que eu dou meu jeito- Eve passou por ele mas antes que tivesse a chance de continuar Peety correu até ela e a parou novamente:
- ok- ele falou- eu levo você, mas por que quer sair?
- não é da sua conta.
- Eve...
- não me importa Peety. Seja o que for que quer dizer não me importa.
Peety se calou e por mais que tentasse entender o motivo dele a escutar sem abrir a merda daquela boca para discutir ela não conseguia e nem sabia se chegaria a conseguir. Pelo que parecia ele estava disposto a ajuda-lá, a escuta-lá mas nada lhe tirava da cabeça que ele poderia tentar algo como tentou no passado e como sempre estaria disposto a tentar.
Não era paranóia dela pensar e acreditar que ele não era confiável, da última vez que tentou confiar foi muito magoada, não tanto quanto estava agora mas que sim, a deixou muito triste.
- você vai vim ou não?- ele perguntou. Eve olhou para ele e viu que ele tinha se afastado. Havia uma certa irritação no modo como ele falou e na expressão dele, não que ela se importasse mas incomodou que um pouco.
Ela se apressou para alcança-lo e o seguiu sem falar mais nada.
Já era estranho demais estar conversando com ele, começar uma briga naquele momento ia ser mais maluco ainda.
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All Star Azul
RomanceTalvez ela não nasceu pra viver num conto de fadas, nem perderia seu sapatinho de cristal pra seu príncipe finalmente a encontrar. Eve nunca acreditou que teria um final feliz e depois da descoberta de um tumor no cérebro acreditou mesmo que sua his...