Capítulo Trinta e Três

38 3 3
                                    

"I just Ride"

De todas as vezes que acreditou que iria enlouquecer, aquela era a primeira vez que ela tinha certeza que estaria tudo bem se fizesse isso.
Não era como se o mundo estivesse contra ela, ou como se suas palavras a fizessem parecer estúpida a ponto de não ser digna de estar ali.
Eram poucos os momentos em que sentia que estava realmente segura com alguém desconhecido.
Eram poucas as vezes em que se sentia tão confortável ao falar tanto de si, sabendo que poderia ser julgada e que o mais provável era que sentiriam pena.
Eram poucas as vezes que desejava fazer de um momento tão simples, algo eterno.
Ele ainda não havia dito uma palavra, mas não precisou mais que um olhar, para Eve entender que poderia contar todos os segredos do mundo, nada importava. Ele escutaria sem julgar pois sabia do que ela precisava.
Um único ombro amigo.
Olhando rapidamente em seu relógio, Eve percebeu que havia se passado mais tempo do que parecia. Os minutos se transformaram em horas, horas de desabafo que poucas lágrimas jogadas ao vento.
Na varanda do quarto dele, encarando o céu nublado pela milésima vez, já nem parecia tão estranho estar sozinha com alguém que deveria ser safado.
Ainda não saia da cabeça dela a vez que ouviu a voz do irmão do diniz no bar em meio a toda aquela confusão.
Queria ter perguntado sobre o ocorrido, mas não achou que ele fosse responder.
Esse era o mais estranho, ele não sentia a necessidade de falar.
O silêncio sempre foi bom, mas estar perto dele a deixava intrigada. Queria fazer perguntas sobre quem ele era, seu nome, seus costumes.
Respostas que ela não teria tão cedo.
- sempre me perguntei se era só eu que me sentia deslocada nessa cidade. As pessoas parecem tão felizes aqui, me perguntava se estavam fingindo ou... Se eu simplesmente era a única infeliz.
Eve se apoio na grade de proteção da varanda enquanto analisava o rapaz, buscando um sinal de resposta:
- eu estava sempre procurando por algo, na verdade,- ela sorriu- acho que ainda procuro por isso. Só não sei bem o que é.
Silêncio.
Nem mesmo um suspiro vindo dele. Porque aquele garoto era tão misterioso?
Loiro de olhos castanhos, parecia fazer parte de um livro cliche, onde no final ele acabaria conquistando o coração da protagonista tendo seu precioso final feliz.
Era fofo, porém calado demais.
- você é mais novo que o diniz, né?- ela perguntou, ele assentiu mas continuou calado.- um ano ou dois talvez. Não deve ser muito imagino.
Ele abriu um pequeno sorriso, havia covinhas em cada lado de suas bochechas. Um desejo obscuro de Eve a fazia querer aperta-las.
-então...
Ela se virou e seguiu na direção do quarto, entrando no cômodo não muito grande, analisando os desenhos que haviam sido colados na parede.
Eram retratos de pessoas desconhecidas, se foi ele quem desenhou tem um talento incrível.
- lindos os seus desenhos- ela disse sem olhar pra Trás, sabia que ele a observava de onde quer que estava.
- quando eu era mais nova desenhava vestidos. Sonhava que um dia me tornaria uma estilista famosa e que faria roupas para celebridades.
Ela sorriu consigo mesma. Eram tempos tão bons:
- quando se é criança sonhamos poder ter o mundo nas mãos.
Ela se virou e sorriu para ele:
- é uma pena que somos programados pra crescer e seguir com vidas superficiais numa rotina chata e cansativa.
Ele assentiu. Talvez não soubesse o que falar. Eve entendia o lado tímido dele, também não sabia lidar bem com as pessoas.
- você não anda com o seu irmão, não é?- ela perguntou e continuou- também não te vejo com mais ninguém, achei que fazia parte do clube dos idiotas, digo, patetas.
Ele abriu a boca para falar, não saiu uma palavra. Por um momento parou e pensou no que ia falar.
Eve esperou a resposta, havia avançado.
- não...- sua voz era baixa-... Não, não tenho amigos.
- eu também não- ela falou e balançou a cabeça- na verdade tenho, não sei bem. As coisas andam confusas.
- não ligam muito pra pessoas como nós. É normal que nos chame de esquisitos, aberrações...- ele deu de ombros sorrindo-... Pau no cu deles né?
Eve sorriu, não sabia que ele diria tanto.
Ambos se encararam por um minuto. O que teriam pra dizer em seguida? Nunca foi fácil fazer amizades.
Era esse o momento em que ambos contavam seus estilos musicais? Ou a comida favorita.
Inseguro, o rapaz se aproximou dela, dando passos curtos até chegar perto o bastante para estender a mão.
Eve não sabia o que o gesto significava mas estendeu sua mão sorrindo e apertou a dele, as palavras seguintes não poderiam ser melhores:
- quer fazer algo legal? - um sorriso sacana tomou os lábios dele, Eve estranhou mas se manteve calma, não queria estragar tudo dando um tapa na cara dele.
- O-o o que seria?- ela perguntou, temia mais do que tudo a resposta.
- isso é algo que só pode ser feito a dois...- ele parou e repensou o que disse-... tecnicamente, pode ser feito por mais pessoas e até mesmo sozinho, mas de dois é bem melhor.
- sim- Eve assentiu rapidamente, não sabia o que dizer, não sabia o que fazer.
- ninguém pode saber que vamos fazer isso então se alguém perguntar, nunca aconteceu nada.
- mas-mas...- Eve soltou a mão dele e buscou as palavras certas para um belo e sonoro "não".
- tem que estar calma, não quero forçar você.
- não vai me forçar, acredite, mas eu nã...
- hoje a noite- ele disse a interrompendo- vamos fazer.
- mas eu não...
- shiiii- ele levantou o dedo indicador a pedindo silêncio- ninguém pode ouvir, vamos sair daqui, conheço um lugar perfeito pra gente ficar....

All Star AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora