Capitulo 2 - Revelações

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As 30 raparigas moveram os beliches de modo a fazerem um roda para estarem viradas umas para as outras.
Após estarem todas sentadas e confortáveis a Ana falou:
- Ok, começem.
Joana respirou fundo, olhou para Teresa que lhe fez sinal com a cabeça para que começa-se.
- No dia em que sai, encontrei um magoador e comecei a fugir. Durante essa fuga esbarrei com um rapaz, fugimos os dois e acabei por ir com ele. Ele era de outra clareira. Como já devem saber fazemos parte de uma experiência. - Elas acenaram afirmativamente - Havia duas clareiras. Uma so com rapazes, que era a deles, e outra só com raparigas. A nossa.
Joana deu-lhes um tempo para assimilar e depois continuou.
- Ambas funcionavam da mesma maneira. Há até correspondências.
Joana contou-lhes tudo desde o seu acordar sem memória até à noite anterior passando pela chegada de Teresa, o desaparecimento de Gally, as ideias de Thomas, a descoberta da saída com Minho, a ida à procura delas, pela fuga e até pela morte do pequeno Chuck.
Elas pareciam chocadas.
- E vocês? - perguntou Teresa quebrando o silêncio.
- Bem - começou a Vi - quando desapareces-te mudámos as horas das rotas para não corrermos  o risco de mais alguém desaparecer. Eu não obedeci e passei três dias à tua procura. Fiquei presa no labirinto com a Ana e com a Rachel e sobrevivemos e tal como o  vosso amigo Thomas ela tornou-se exploradora. Uns dias depois apareceu um rapaz na caixa, o Aris. Ele ontem estava aqui, dava-se muito bem com a Rachel.
O resto foi praticamente igual ao que me contaste. Descobrimos a saída e fugimos. A Beth matou a Rachel. Apareceram uns soldados que nos resgataram e trouxeram para uma espécie de ginásio onde ficamos durante três dias. Ontem trouxeram-nos para aqui. E hoje está tudo diferente.
- Como assim tudo diferente? - perguntou curiosa.
- As janelas têm tijolos e os nossos salvadores estão enforcados no refeitório a deitar um cheiro que não se aguenta. - disse Ana.
Joana apoiou a cabeça nas mãos para tentar assimilar tudo.
- Há saídas? - perguntou levantando a cabeça.
- Todas trancadas e impossíveis de abrir. - replicou Vi.
- Também não há comida. - completou a Harriet.
Vi levantou-se.
- Não aguento mais com o cheiro a cadáver vou fechar a porta!
Ela passou por detrás de Joana, fechou a porta e quando se virou ficou especada a olhar para as costas de Joana.
- O que foi? - perguntou a Annie, uma das clareirenses de quem Joana não se tinha esquecido.
- Tens aí algo escrito, desvia a trança.
Joana assim fez e ela chegou-se mais perto, baixou a gola da t-shirt de Joana e ficou em silêncio.
Joana já não aguentava com tanta curiosidade.
- Então? O que é que está aí?
Vi continuava sem responder.
- Deuses! Responde! - insistiu Joana.
- Propriedade da CRUEL. Grupo B. Paciente B5. A falha.
Ficaram todos em silêncio.
Joana não conseguia acreditar. Como é que era possível que nunca tivessem reparado naquelas tatuagens? Não podiam ter sido feitas durante aquela noite, ou podiam?
- Teresa vira-te! - pediu ela apressadamente.
Teresa afastou o cabelo e Joana baixou a gola da t-shirt da amiga.
Pouco abaixo do pescoço leu:

Propriedade da CRUEL. Grupo A. Paciente A1.
A traidora

- O que é que diz? - perguntou ela curiosa.
- O mesmo que a minha, mas é do grupo A, a paciente A1 e apelidaram-na como traidora.
- Eu nunca faria tal coisa. - disse Teresa tentando defender-se.
- Ninguém disse que farias. Não sabemos o que significam estas tatuagens, não vamos julgar ninguém por causa delas. - Disse Harriet.
Todas concordaram e Teresa sorriu.
Em menos de um minuto estavam todas a ver as tatuagens umas das outras.
- Eu sou B19
- És a B13
- Somos todas do grupo B!
Era o que se ouvia.
Pelos vistos nem todas tinham direito a um título, algumas tinham apenas um número antecedido por um B.
- Podes ver a minha? - perguntou Ana que tinha acabado de ver a da Harriet que era B3.
- B8. A líder. - Ana sentia um misto de orgulho e de confusão.
- Podem ver a minha? - perguntou a Vi virando-se de costas.
- B7. A companheira.
- Nada mau. - Comentou Ana.
Passados cinco minutos já estavam todas mais calmas junto à porta.
- Venham, vamos ver o que encontramos nesta espelunca. - disse Ana. Abrindo a porta.
- Tapem os narizes! - acrescentou.
Mas assim que alcançaram o refeitório não haviam cadáveres nenhuns. Estava limpo e não haviam vestígios de estes sequer lá terem estado.
- Como é que é possível? - murmurou Vi.
Estavam todas ainda mais confusas.
- Estivemos lá dentro assim tanto tempo? - perguntou Joana.
- Não o suficiente para terem limpo isto. - respondeu Vi desconfiada.
- Por enquanto não há nada que possamos fazer. Isto está a assustar-me, vamos mas é procurar mais. - Replicou Ana.
E assim fizeram.
Procuraram durante horas sem nunca encontrarem nada. Se fosse uma porta, estava trancada e nunca a conseguiam partir, só quando era a de um dormitório, que se encontrava sempre vazio. Não havia comida em lado nenhum e não sabiam que mais fazer.
Passaram-se dias e nada tinha acontecido.
Estavam a morrer lentamente à fome e não havia nada que pudessem fazer para mudar isso.
Apenas lhes restava esperar.
Afinal de contas, nunca estiveram seguros.

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