Havia se passado uma semana após a decisão que tomei e Chloe me ajudara com os preparativos para a viagem. Pedi as contas no emprego, mas garanti à meu chefe que iria voltar. Fui dormir cedo naquele dia, já prevendo que precisaria estar bem descansada para tudo que estava por vir.
Desperto às 6:30 e logo após escovar os dentes, tomar um bom banho e vestir as roupas escolhidas, tomo meu café da manhã e confiro a mala pela terceira vez para assegurar de que tenho tudo que preciso e concluo que estou pronta e vou ao encontro de Chloe para o tão infeliz momento da despedida.
Algum tempo depois, após fazer o check-in e aguardar ansiosamente a chamada para o vôo com destino à França, finalmente embarco e procuro meu assento.
Quando o encontro, me acomodo e observo enquanto o avião enfim decola, deixando para trás todas as dúvidas em minha cabeça e sei que estou pronta para enfrentar tudo que está por vir quando, após longas horas, dou boas vindas ao ar francês.
A capital francesa não é nada menos do que eu achei que seria, e sim, deslumbrante. Como estávamos no outono, várias árvores e plantas já apresentavam um aspecto alaranjado; O que atraia os olhares dos observadores no local. Decido me instalar em um hotel que encontrei em um guia e que aparentemente não ficava tão longe. Teria muito tempo para conhecer melhor o local depois.
40 minutos haviam se passado quando cheguei ao tal hotel, ele era grande e por fora, poderia dizer que ofereceriam quartos confortáveis, só queria que seus preços não fossem tão absurdos. Ao entrar, escuto o soar de um sino acima da porta. Que clichê. Afasto meus devaneios e me concentro na mulher loira e de boa aparência à minha frente, que com certeza não tem mais do que 34 anos.
- Olá, bom dia. Acabo de chegar e procuro um quarto para minha estadia, qual é o mais barato que vocês tem? - Ela me analisa furtivamente e digita algo no computador enquanto cruza e descruza as pernas. Acho que é algum tipo de tique, penso e logo dou um leve sorriso, o que por azar, não passa despercebido pela mulher que em minha análise, ao olhar o crachá, descobri que seu nome é Ângela.
- O mais barato que temos custa 180 por mês - Ela me informa enquanto observa em minha expressão algum sinal de aprovação. - Tudo bem - Respondo por fim e observo enquanto ela pega uma das chaves numeradas na parede e percebo que o número é 307.
- Seu quarto é o 307, aqui está a chave - Ela me entrega enquanto me direciona ao quarto certo por um longo corredor, viramos à esquerda, subimos um lance de escadas e, enfim, chegamos. Abro a porta com cuidado e dou de cara com um bom quarto. As paredes tem cores em branco e preto e uma maravilhosa cama king size ocupa o espaço central, ao lado, noto uma escrivaninha com um abajur.
- É lindo, obrigada Ângela - Quando pronuncio seu nome, a mesma assume uma leve expressão de estranheza - O crachá - digo, e ela sorri.
- Tenha uma boa estadia, senhorita. Caso precise, esse quarto conta com um interfone, em especial por ser mais afastado da recepção do hotel.
- Obrigada - Respondo, enquanto a observo sair do quarto e me deixar sozinha com minhas duas malas. Quando confiro o relógio, percebo que já está na hora do almoço e faço o caminho de volta à entrada do hotel. Trouxe comigo o meu guia e descubro que para chegar ao restaurante mais próximo, precisaria de um ônibus. Por sorte, as duas pessoas com quem falei desde que cheguei aqui falam a minha língua, então não precisei apelar para o meu francês enferrujado de quando ainda estava na escola.
Pego o ônibus enquanto observo a paisagem que passa por mim, no próximo ponto, um homem alto e negro entra e entrete os passageiros com sua música enquanto alguns ainda deixam algum dinheiro para ele. Chego no lugar desejado e não preciso andar muito, atravesso um cruzamento e me deparo com o grande estabelecimento em minha frente. O cheiro que sai de lá é divino, o que só aumenta minha fome.
Ao entrar, escolho uma mesa nos fundos e vejo as opções no cardápio. Quando percebo que não sei o que pedir, procuro pela tabela onde o prato do dia é oferecido e ele me parece bem convidativo. Chamo o garçom, e quando ele vem à minha mesa faço meu pedido.
Quando acabo o almoço, me dirijo ao caixa e deixo uma quantia generosa para a atendente. Ao sair e sentir o vento agradável em meu rosto, decido caminhar antes voltar ao hotel.
Passo por inúmeras lojas e, então decido que preciso de roupas novas. Consigo encontrar 3 blusas e 1 vestido que chamam minha atenção e felizmente eles não estão caros. Saio da loja e resolvo andar um pouco mais até que chega o fim da tarde.
Encontro uma praça e me sento enquanto observo as pessoas passarem apressadamente ao redor, os traços da noite já se fazem presentes e a grande lua paira no céu. É incrivelmente inacreditável quando paro para pensar nas circunstâncias e no que realmente me levou até ali.
Onde será que eles estavam? O que estavam fazendo nesse exato momento? Será que pensavam em mim do mesmo modo que eu pensava neles? A verdade é que, lá no fundo, eu estava extasiada, contava as horas para o encontro tão esperado que iria ter com meus pais, e divagava sobre a revira volta a que minha vida fora submetida em tão pouco tempo.
Estava esperançosa, acreditava que se realmente o motivo pelo qual me deixaram fosse grave, poderia dar a eles uma chance, tentariamos conviver todos juntos e poderiamos tentar uma relação saudável.
Já passa das 18:00 quando decido voltar, e não tenho pressa, presto atenção aos detalhes das ruas, seus restaurantes, lojas e nas pessoas conversando, é um bom lugar, definitivamente. Eu só esperava que ele fosse um alento para meu coração caso as coisas não saíssem como eu esperava, e foi pensando longe que eu derrubei todas as sacolas que segurava, Ao me abaixar para pegá-las, observo que um garoto de mais ou menos 20 anos que estava perto faz o mesmo. Quando levantamos, ele entrega as sacolas e sorri. Não posso deixar de notar o quão lindo é seu sorriso, após alguns segundos, enquanto nos observávamos, quebro o silêncio, o que vi que ele não faria e digo:
- Obrigada - Ele sai de seu transe, passa as mãos pelos cabelos e sorri.
- Qual é o seu nome? - Ele pergunta, me lançando um sorriso gentil.
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Escolhas Francesas
RomanceA vida de Amelie não foi facil. Viveu toda a sua vida em um orfanato e só aos 16 anos após uma chocante descoberta, fugiu para se estabelecer por conta própria e cumprir a promessa que havia feito para si mesma: Encontrar seus pais. Agora com 18 ano...