Capítulo 3

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- Você me ouviu? - Ele pergunta ao notar minha distração. - Meu nome é Amelie - Respondo, enquanto observo o garoto à minha frente. Ele é alto, esbelto, sua pele é muito bronzeada como quem toma muito sol, tem cabelos escuros e me vejo atraída pela intensidade e beleza de seus olhos verdes que contrastam perfeitamente com a camisa preta que está usando, o que também deixa sua tatuagem, uma frase em latim, à mostra. Definitivamente minha definição de atraente.

- Sou o Jordan. Acabei de voltar de um intercâmbio que fiz na Inglaterra, fiquei 1 ano por lá e voltei recentemente. Minha família é composta por militares e isso passou de geração para geração, agora querem que eu assuma o meu lugar e me aliste também. Você já sentiu como se vivesse a vida pelos outros, fazendo as vontades dos outros e nunca as suas? Que alguém apenas por capricho fizesse seus sonhos parecerem pequenos e errados? - Penso nessa questão quando uma frase do filme 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você vem à minha mente e sem pensar digo em voz alta:

- Nunca deixe alguém te fazer sentir como se não merecesse seus sonhos. - Ao ouvir a citação, ele parece recordar sobre o filme
e seus olhos parecem ter adquirido um brilho diferente. -Não vou, obrigado. E então? Me fala sobre você..... Mora aqui assim como eu ou veio conhecer o lugar?

- É uma longa história - Digo, tentando escapar do assunto. Eu acabei de conhecê-lo, não é certo que eu fale sobre toda a minha vida à um estranho que apareceu do nada para me ajudar com as sacolas. Mas, apesar disso, é estranho que em tão pouco tempo de conhecimento e conversa, ele tenha me passado uma certa confiança, como se nos conhecessemos há muito tempo. Ele disse que mora aqui, pode me ajudar a encontrar meus pais, ele com certeza sabe quem são. Pelo que me disse, sua família tem tanta influência quanto a minha, o que também está a meu favor. Respiro fundo e decido me abrir com ele.

- Meu nome é Amelie Charmont, ou pelo menos era. Eu cresci num orfanato na Holanda e nunca tive qualquer acesso às informações sobre quem eram meus pais verdadeiros ou pelo menos um pista. - Faço uma pausa e observo o semblante atento em seu rosto e ele assente, dando permissão para que eu continue. - Quando fiz 16 anos, já estava conformada de que nunca me adotariam. Aos poucos, a ficha de que eu teria realmente que viver sozinha foi caindo e tentei me acostumar à ideia sem cultivar mais falsas esperanças.

- Você não poderia perder as esperanças - Ouço ele dizer baixinho e continuo meu relato enquanto uma sensação de alívio e consolo toma conta de mim por finalmente tirar o peso que carrego nas costas há tanto tempo.

- Até quando percebi que poderia existir uma saída para mim. Eu era ajudada por uma simpática senhora naquele lugar, ela cuidara de mim como se eu fosse a filha que ela nunca teve, e ambas ganhamos com isso. Ela ganhou a filha e eu ganhei uma mãe pronta para me proporcionar o carinho e amor de que eu tanto precisava - Faço outra pausa e respiro fundo mais uma vez enquanto uma lágrima solitária escorre por meu rosto.

- Essa senhora, um dia, me fez ter outra pespectiva da minha vida, ela conseguiu as informações de que eu precisava e eu fugi de lá afim de me virar por conta própria para poder vir aqui e buscar respostas, então aqui estou eu.

- O que você descobriu exatamente? Quer dizer, além de nome do lugar onde eles moram, óbvio - Ele pergunta e analisa em minha expressão algum sinal de incômodo com sua pergunta.

- Seus nomes são Adeline e Maurice Beaumont, minha mãe até onde eu soube confecciona roupas, mas não soube nada que falasse sobre a profissão do meu pai. - Paro de falar e observo que ele não parece mais atento como antes, e sim incrédulo -.

- O que foi?

- O quê?

- Desde que falei os nomes dos meus pais você mudou, por que?

- Por nada - Jordan tenta desconversar mais o desconforto é perceptivel em seu rosto.

- Não é justo que quando eu conte a minha história de vida para você e chego na principal informação sobre o que me trouxe até aqui, você fique
estranho e tente mudar de assunto. É da minha vida que estamos falando aqui, se sabe alguma coisa, qualquer coisa, por favor conte-me.

- Tudo bem. Eu conheço seus pais, porque a sua e a minha família não se dão bem de jeito nenhum. E pelo que eu soube, essa richa é antiga, é a única coisa que eu sei. Nunca descobri o motivo pelo qual se detestam tanto. - Ele diz e passa as mãos nos cabelos, em sinal de frustração, o que acredito que seja por não poder me ajudar mais.

- Está ficando tarde, eu preciso voltar pro hotel - Digo, e ele se sobressalta. Então, se oferece para me levar, usando o argumento de que não é certo que eu caminhe sozinha em horas como aquelas.

- Tudo bem. - Digo, e começamos a caminhada de volta e ouço o roncar de meu estômago. - Parece que alguém aqui está com fome. - Ele diz, e começa a rir, o que me faz ficar envergohada.

- Já que você está acompanhada, a gente pode ir a um pequeno restaurante aqui perto, o que acha?

- Com certeza é uma boa ideia - Sorrio.

- Vamos, então - Caminhamos mais um pouco e percebo que o tal restaurante é o mesmo em que almocei mais cedo. O lugar não está muito cheio, devido ao horário, o que acho bom. Escolhemos uma mesa nos fundos e vemos nossas opções.

- Acho que podíamos sair um pouco das regras e pedir fast food - Jordan sorri, e concluo de que tem um sorriso de fazer cair o queixo de qualquer uma.

- Concordo - Pedimos nossos lanches e enquanto esperamos, começamos uma conversa sobre coisas banais, como por exemplo, sua cor favorita, que eu descobri que é azul, ele ama Jogos Vorazes e quando digo que não gosto, ele praticamente grita:

- O QUE FOI QUE VOCÊ DISSE? - Dou risada e observo quando ele respira fundo e diz que vai me fazer mudar de opinião. O resto do assunto foi tomado por ele, explicando do que se tratava, e disse que precisava explicar de novo porque para não gostar eu tinha lido/assistido as coisas errado.

Fizemos ma pausa na conversa para comer, o que pelo lanche gigante que pedimos, durou muito tempo. Quando enfim terminamos, ele estava sério, me encarou e disse:

- Voltando ao assunto de antes, pode parecer estranho, mas me identifiquei com você, com a sua situação. Não por ter crescido sem os pais, mas por você ter lutado pelos seus ideais e planos sozinha; assim com fiz, porque não tenho o apoio da minha familia para minhas próprias realizações. Eu quero te ajudar, para que encontre as respostas que procura e talvez assim finalmente se permita ser feliz - Ele coloca sua mão sobre a minha e tira o cabelo do olho.
- Isso também vai me ajudar a entender a richa que nossos pais tem uns com os outros, eu nunca entendi, mas com você aqui, sinto que posso começar. E já sei o que vamos fazer.

- O que seria? - Nesse momento, estou mais atenta do que nunca e a curiosidade toma conta de mim.

- Iremos até seus pais - Jordan simplesmente diz, como se fosse óbvio.

- Como vamos achá-los? Tudo o que tenho são seus nomes e nada mais - Ao constatar isso, a decepção toma conta de meu rosto.

- Eu sei onde encontrá-los - Ele diz, e sinto meu coração apertar diante da chance de que tudo possa dar certo.

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