Acordei bem cedinho, afinal, tenho que me acostumar com essa rotina de arrumar Sarah todo dia para ir à escola. Me surpreendi com meu pai que estava na cozinha com a xícara na mão e olhando pro nada. Eu sei que vai ser muito complicado mesmo ter que dar conta de ver todos aqui nesta casa em um mesmo pensamento "minha mãe que fazia isto", "minha mulher era incrível",
"nunca nos deixou com fome". Oh céus! Me ajude.Ainda bem que temos minha vó, ela sabe cozinhar pratos mais complexos, só sei fazer o básico mesmo. Mas eu não posso fazer isso todo dia, tenho que continuar seguindo minha vida. Quero muito abrir minha loja.
- Bom dia. -sorri e beijei sua testa.
- Bom...dia. -sorriu desajeitadamente.
"ajuda ele Senhor".
- O senhor quer que eu faça algo para comer? -perguntei.
- Não meu bem. -sorriu. -estou indo trabalhar, quero ocupar minha mente para não pensar na falta que sua mãe me faz. -explicou.
- está certo. -assenti.
- fique com Deus, mais tarde a gente conversa. -depositou um beijo em minha testa e saiu. Meu pai é subgerente de uma empresa de corretores de imóveis.
[...]
Já coloquei as duas para tomar café. O carro passou aqui na porta e elas já foram. Tomei um banho demorado, coloquei uma calça jeans e uma blusa soltinha, uma sapatilha que está na moda. Peguei minha bolsa e desci. Hoje eu não vou levar o violão.
[...]
- Safira eu...sinto muito pela perda de sua mãe, meus sentimentos. -disse o professor.
- Obrigada. -sorri.
- se caso não tenhas condições de assistir a aula, pode falar comigo OK?
- Pode deixar.
Tudo ocorreu normalmente, eu já estava bem melhor, apesar de que hoje seria o enterro. Não vi Gabriel na hora da entrada e muito menos Lucas. Estou muito magoada ainda.
O sinal bateu e eu já estava voltando a pé. Às vezes é bom andar, tipo, você consegue pensar melhor no que fazer, é como se estivéssemos num clipe e em nossa mente interpretando várias cenas.
- Safira! -ouvi alguém chamar. Mas eu estava com o fone de ouvido então... Devo ter confundido. "Aquieta minh'alma" meu Deus que música linda.
- Safira! -chamaram outra vez. Tirei o fone e olhei para trás.
- Igor? -fiz cara de confusa.
- Ufa! Pera, deixa eu recuperar o fôlego. -suspirou. - Nossa! Você anda muito rápido.
- antifurto, antiassaltos. -Brinquei.
- então...nossa! -disse tentando achar fôlego. - então você está cem por cento protegida.
- Os anjos do Senhor acampam ao redor dos que o temem. -sorri.
- Ata! É...meus sentimentos.
- obrigada. -sorri.
- Eu não sei como consegue...manter o sorriso no rosto com uma perda tão inesperada. Confesso que...quando eu perdi minha vó, fiquei uns meses sem ir pra escola. -comentou.
- Jesus disse que antes de voltar para o Pai, Ele deixaria conosco o Consolador. -sorri.
- Tem como você não citar o que está escrito na bíblia? -revirou os olhos.
- mas é por causa do que está "escrito na bíblia" que eu estou de pé, por que eu vivo a palavra de Deus.
- OK, tá. -colocou as mãos na cintura. -posso te acompanhar?
- claro.
[...]
Fomos conversando sobre a perda de minha mãe. Claro que eu não deixei de falar o que estava escrito na bíblia. Ele ficava calado, óbvio, que não queria ouvir, mas não deixarei de pregar a palavra do meu Deus por conta de certos "infiéis" nem que eu tenha que morrer.
- quer entrar? -perguntou.
- Não, hoje...tem o sepultamento. -sorri desajeitadamente.
- posso ir contigo? -perguntou.
- Você...você? - gargalhei.
- é... Euzinho.
- pode...
- Ótimo, me passa seu número...
- anota aí...
[...]
Cheguei em casa exausta, tomei um banho frio e procurei por um vestidinho preto que eu havia ganhado de minha vó. Coloquei uma sapatilha nude, fiz um rabo de cavalo e fui para o quarto de Sarah.
- Tudo bem por aqui? -perguntei já entrando.
- sim... -respondeu cabisbaixa.
- hum, que "sim" mais frio. -resmunguei.
- claro, eu não vou ver mais minha mãezinha. -olhou fixamente em meus olhos. Carreguei ela no colo e alisei seus cabelos loiros.
- amorzinho, sua irmã estará sempre aqui, eu prometo que farei o papel de nossa mãezinha aqui nesta casa. -sorri.
- vai me dar moedas para eu colocar no meu porquinho? - arregalou os olhos. A pergunta foi tão engraçada que eu ri.
- sim, Sarinha... Sim. -sorri e -depositei um beijo em seu rosto.
Deus é tão maravilhoso que além de ter confortado a mim, fez o mesmo com minha família. Foi sim uma perda inesperada, mas parecia que nada havia acontecido, que tudo estivesse no seu devido lugar.
- Safira visita! -ouvi Sophia gritar.
- Já vou.
[...]
Era Igor. Meu pai estranhou sua presença, mas logo expliquei o caso. Fomos todos de táxi. Gabriel estaria lá, não gosto de guardar mágoa de ninguém só que ainda estou sem entender. Prefiro não entrar neste assunto.
Uma multidão estava reunida naquele lugar, o pastor estava orando e Gabriel não parava de me olhar, aquilo estava me dando uma agonia.
Gabriel narrando.
O que Igor estava fazendo ao lado dela?
"Isso não é da sua conta"
"ah, me deixa"Odeio quando meu subconsciente me interroga. Parece meu irmão quando está discutindo.
- ai brother...
Falando nele!
- aquele cara que está ao lado de Safira, não é metidinho da faculdade? -perguntou desconfiado.
- é ele mesmo. -respondi frio.
- iii, qual foi? Está com ciúmes? -brincou.
- Argh! Será que nem mesmo num velório você se comporta?
- e eu estou fazendo o que de errado? -perguntou.
- Aff! -revirei os olhos. - esquece!
Continua....
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A Menina e o Violão
EspiritualLIVRO ANTIGO E SEM REVISÃO. Safira é uma Garota Cristã, esforçada, responsável, dada pra obra de Deus e ama tocar violão. Seus pais não são cristãos mas apoiam muito a sua vida com Deus e sua trajetória de sonhos. Mas ao decorrer desse caminho muita...