Capítulo 7

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  Dasha estava no telhado. Cada edifício já havia designado seusplantonistas de ataques aéreos, primeiro limpando os detritos dos sótãos,depois alternando-se em seus postos, de olho em aviões alemães.Dasha sentava sobre o forro de papel do telhado, fumando um cigarroe falando alto com os dois jovens irmãos Iglenko, Anton e Killiu. Juntodeles havia baldes de água e pesados sacos de areia. Tatiana queriasentar ao lado da irmã, mas não podia.Dasha levantou-se e disse:– Ouça, estou indo. Você fica bem aqui?– Claro, Dasha, o Anton vai me proteger. – Anton era o amigo maischegado de Tatiana.Dasha tocou os cabelos da irmã.– Não fique aqui em cima muito tempo. Está cansada? Você chegatão tarde. Sabíamos que Kirov seria muito longe para você. Por que nãoconsegue um emprego com Papai? Você estaria em casa em 15 minutos.– Não se preocupe, Dash, estou bem. – Ela sorriu como se quisesseprovar isso.Depois que Dasha foi embora, Anton Iglenko tentou animar Tatiana,mas ela não queria falar com ninguém. Só queria pensar um minuto, umahora, um ano. Tatiana precisava descobrir a si mesma, o que estavasentindo.Finalmente ela cedeu e entrou com Anton no vertiginoso jogogeográfico. Colocou as mãos sobre os olhos enquanto Anton a girava,parando de repente, e ela tinha que apontar na direção da Finlândia. Nadireção de Krasnodar. Em que rumo estavam os Urais? E a América?Tatiana então girou Anton.Eles brincaram muito na tentativa de achar o máximo de lugares e,quando terminaram, contaram seus acertos.Como vencedora, Tatiana podia pular para cima e para baixo.Hoje à noite Tatiana não pulou para cima e para baixo. Sentou-se,pesadona, no telhado. Só conseguia pensar em Alexander e na América.Anton, um rapaz loiro e magricela, disse:– Não fique tão triste. É tudo tão excitante.– É mesmo? – ela disse.– Ora, sim, em dois anos poderei me alistar. O Petka foi emboraontem.– Embora para onde?– Para o front. – Ele riu. – Se você ainda não notou, Tania, estamosem guerra.– Eu notei, sim, tudo bem – disse Tatiana, um pouco trêmula. – Vocêsabe alguma coisa do Volodya? – Volodya estava com Pacha emTolmachevo.– Não. Kirill e eu queríamos ter ido. Kirill está ansioso para fazerdezessete. Ele diz que o Exército vai aceitá-lo com dezessete.– O Exército vai aceitá-lo com dezessete? – disse Tatiana, levantando.– Tania, alguém vai aceitar você aos dezessete? – Anton sorriu.– Acho que não, Anton – ela respondeu.– Nos vemos amanhã. Diga à sua mãe que eu tenho um pouco dechocolate para ela. Que pode vir amanhã à noite.Tatiana desceu. Seus avós liam em silêncio no sofá. 

A pequenalâmpada estava acesa. Ela se acomodou entre os dois, quase no colodeles.– O que há, querida? – disse seu avô. – Não tenha medo.– Deda, não tenho medo, só estou muito, muito confusa. – E, elapensou, não tenho com quem falar.– É sobre a guerra?Tatiana ponderou. Contar-lhes estava fora de cogitação. Em vezdisso, ela perguntou:– Deda, você sempre me disse: Tania, há tanta coisa pela sua frente.Seja paciente com a vida. Você ainda se sente assim?Seu avô não respondeu na hora, e ela sentiu que tinha a suaresposta.– Oh, Deda – ela disse com tristeza.– Oh, Tania – ele disse, colocando o seu braço protetor sobre a neta,enquanto a avó acariciava o seu joelho. – As coisas mudaram da noitepara o dia neste mundo.– Assim parece – disse Tatiana.– Talvez você devesse ser menos paciente.– Foi o que eu pensei – ela concordou. – De todo modo, acho quepaciência é uma virtude superestimada.– Mas não seja menos moral – disse Deda –, nem menos correta.

 Lembre-se das três questões que eu lhe disse para perguntar a vocêmesma para saber quem é você.Ela não queria que Deda a lembrasse. Não tinha interesse algum emse fazer aquelas perguntas hoje à noite.– Deda, nesta família deixamos a correção para você – Tatiana dissecom um vago sorriso. – Nada fica para nós.Seu avô balançou a cabeça de espessos cabelos grisalhos e disse:– Tania, isso é tudo que fica.Deitada em silêncio na cama, Tatiana pensou em Alexander. Elapensava não apenas no fato de ele ter lhe contado sua vida, mas de tê-laafogado nela. Da mesma forma que ele próprio estava afogado naquilotudo. Enquanto o ouvia, Tatiana havia parado de respirar, a bocaligeiramente aberta, para que assim Alexander pudesse transmitir a suatristeza – de suas palavras, de seu próprio respirar – para dentro dospulmões de Tatiana. Ele precisava de alguém para suportar o peso de suavida.Precisava dela.Tatiana esperava estar pronta.Ela não podia pensar em Dasha.   

O Cavaleiro de Bronze Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora