Parque Obscuro

Três:Não deixe a toalha cair.

Sentia meu rosto inchado e dormente. Sentia-me exausto.

Preocupado com as consequências do humor sádico de Jean, olhei para meu lado esquerdo de esguelha. Apenas uma calça moletom sobre a cama bagunçada.

Sentei-me na cama e refleti por alguns segundos. Todos odiavam a tal mudança porém, eu podia ver algo de bom naquele lugar.

Sentia-me péssimo por esforçar-me tanto para que a relação entre eu e minha família mudasse, porém sempre insistia em tal ação.

Levantei-me da cama e arrumei-a.

Andei pelo corredor, fui até a minúscula sala e, percebi que, estava só.

Sentia-me bem quando só.

Entrei no banheiro estreito e fechei a porta.

Olhando para o reflexo do espelho via um garoto magro de aparência cansada. Os cabelos da figura, que retribuía o olhar para mim, eram de um castanho bem escuro, lisos e iam até o maxilar proeminente, parte do emaranhado de cabelos cobriam lhe um dos olhos cinza claros.

Afastei-me do garoto de aparência melancólica e despi-me.

Entrei debaixo da água quente e dei-me o prazer de sentir a água bater contra minhas costas e cabeça.

Pensava no que faria daquele ano. Estava ciente das atividades que o colégio oferecer-me-ia mas, queria afastar-me daquele furacão que chamava de família.

Após minhas abluções diárias pousei meus pés no chão frio. Agarrei uma das toalhas secas e enrolei-a na cintura.

Saí do cômodo cantando uma melodia animada.

Ainda cantarolando olhei para sala pequena e vazia, e ali estava Carrie.

- Carrie! - Gritei surpreso. Carrie tomou a cor púrpura para si.

Virei-me depressa em busca de um refúgio e, no meio de tal ato, a toalha que cobria-me caiu aos meus pés.

Entrei em meu quarto e bati a porta.

Troquei-me rapidamente, sentindo ainda meu rosto quente.

Ao sair do quarto todos estavam ali, menos Carrie.

- O que estava a acontecer aqui? - Gritou Ethan com a expressão fria.

- Oi, pai... er... Estava tomando um banho e, um de vocês, esqueceu de trancar a porta. - Comentei corando.

- Poderia pelo menos fingir que o real motivo de tanto entusiasmo com a mudança não era Carrie. - Comentou Jean com tom de deboche.

- Não! - Neguei. - Não é nada disso, foi apenas um acidente terrível! - Gritei em minha defesa.

- Crianças, preciso de um tempo com seu irmão. - Jennifer parecia envergonhada, escondia os olhos castanhos debaixo da cabeleira clara.

Meus irmãos saíram do sítio com olhares sádicos e risadas.

- Mesmo que sinta algo por Carrie, isto não é a coisa certa a fazer. Carrie é filha do dono deste hotel, ele que proverá um teto sobre nossas cabeças e tudo que precisamos para viver, então, pelo menos desta vez, não estrague tudo! - Mesmo que Jennifer tenha começado calma, agora gritava e balançava seus cabelos finos.

- Mas, mãe...

- Assunto encerrado, Aaron! - Gritou histericamente.

Saí do sítio com um misto de raiva e constrangimento.

Entrei no quarto, constrangido e, avistei Jean deitado sobre a cama.

- Nunca brinque com a filha do chefe, Aaron. Elas são as mais perigosas. - Gargalhou Jean com os claros cabelos sobre o rosto.

- Não brinquei com a filha de ninguém! - Rebati.

- Foi o que vimos. - Rebateu ele com as sobrancelhas arqueadas e os dentes brancos a mostra.

Peguei meu notebook e coloquei-o em uma mochila, jogando-a nas costas enquanto ignorava o humor sádico de Jean.

Caminhei até o saguão esperando que Carrie não estivesse ali mas, ali estava ela, que corou no mesmo instante em que me viu.

- Preciso falar contigo, Aaron! - Disse uma voz feminina.

Tentei ignorar pensando que a voz pertencia a Carrie.

- Aaron! - Gritou a voz histérica.

- Sim, Sra.Eleanor. - Disse assim que percebi sua proximidade.

- Você começa na próxima segunda-feira, mas preciso de suas medidas para mandar confeccionar seu uniforme. Poderia você ir até o mezanino, onde tiraremos as suas medidas? - Disse Sra.Eleanor distraída com o telefone celular.

- Desculpe-me, Sra.Eleanor mas, estou extremamente atrasado. - Falei dando passadas rápidas até a entrada. Olhando por alguns segundos para trás e a vendo as duas Wrights paradas no saguão, pasmas e envergonhadas.