Onze: Hematomas.

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Daniella e Jean afastaram-se de nós, Hugo revirou os olhos como de costume.

- Todos sabem que somos irmãos, ainda não entendo porquê eles têm tanta vergonha de entrar no colégio ao nosso lado. - Hugo arrumou os óculos grandes demais para seu rosto pequeno.

- Não preocupe-se com eles, logo verão o quão ridículo isto é. - Disse bagunçando-lhe os cabelos.

- Eles têm vergonha de mim. - Disse o menino com expressão tristonha.

- Hugo... - Disse parando no meio da calçada, Hugo virou-se para mim. Abaixei-me perto dele. - Eles não sentem vergonha de você, nenhum de nós sentimos. Você é um garoto brilhante, amigável e educado. - Arrumei-lhe os óculos. - Temos muita sorte de tê-lo como nosso irmãozinho. - Disse chacoalhando-o pelos ombros. Hugo mostrou os dentes metálicos

- Amina é mais nova que eu. - Rebateu ele arrumando os cabelos.

Subimos os degraus largos da escola. Hugo fitava os pés ligeiros enquanto recebia olhares de um grupo de alunos.

- Aquelas garotas estão olhando para você. - Cochichou Hugo.

- Não estão, Hugo. - Disse revirando os olhos. Olhei para o grupo e elas realmente observavam-me, dando risinhos nervosos e cutucando umas as outras.

Duas das garotas acenaram para mim.

- Aaron! - Disse a voz feminina porém, grave.

Joy subiu as escadas correndo, os cabelos compridos chocando-se contra o corpo curvilíneo.

- Oi, Joy. - Disse sorrindo para ela. As garotas fitavam a cena e cochichavam.

- Como está? - Disse ela beijando meu rosto.

O local onde ela selou os lábios aqueceu-se rapidamente, senti meu rosto formigar e observei-a confuso.

- Bem... - Disse desconfiado. Notei que ela dirigiu poucos olhares ao grupo de garotas, essas calaram-se e entraram na escola rapidamente. - Você?

- Na medida do possível, bem. - Disse ela descendo o olhar para o menino baixo ao meu lado.

- Este é Hugo, meu irmão. - Disse apoiando o braço sobre os ombros caídos.

- Olá! - Cumprimentou Hugo estendendo a mão.

- É o caçula da família? - Perguntou Joy olhando para a altura do garoto.

- Você não é muito alta também. - Rebateu Hugo contrariado.

- Não, ainda temos Amina. - Respondi rindo da cena.

- Vejo-o mais tarde, Aaron. - Disse Hugo já afastando-se. - Até outra hora, Joy. - Disse ele com um sorriso estampado no rosto.

O sinal soou, vários alunos continuaram estáticos enquanto conversavam, outros correram para a porta de madeira.

- O que foi aquilo ontem, Joy?

- Não lembro-me de nada fora do comum. - Disse ela com madeixas laranjas sobre um dos olhos.

- Você fingiu ser assistente de Riley, disse que ele era seu primo, e ainda elogiou-me para minha mãe. Mentiu para minha mãe. - Disse calmamente com os olhos arregalados.

- Contou-me sobre sua família e, eu, decidi ajudar. - Disse ela olhando para as botas.

- Mentindo para ela? - Perguntei abrindo o armário.

- Não menti. - Disse ela fazendo o mesmo há alguns armários de distância.

- Não? - Disse sarcasticamente, aproximando-me dela com meus livros em mãos.

- Não. Por que seria contratado com um currículo tão vazio? - Disse ela arqueando os sobrolhos e cruzando os braços.

- Não foi porque Riley gostou de mim, não é mesmo? - Perguntei desanimado.

- Não. - Disse ela mostrando os dentes brancos. Virou-se novamente para o armário, balançando os cabelo.

Achei que estava vendo coisas, aproximei-me e observei seu rosto mais atentamente.

- O que é isto em seu olho, Joy? - Perguntei apoiando a cabeça no armário ao lado.

- Nada, Aaron. - Disse ela fechando a porta e tentando afastar-se.

Puxei-a pelo braço e ela encolheu-se, coloquei suas costas contra o armário com delicadeza.

- Afaste-se, Aaron. - Disse ela jogando os cabelos para frente do rosto.

- Joy, o que é isto? - Disse pegando as madeixas que cobriam-lhe a face e prendendo atrás de sua orelha enfeitada de vários piercings.

Seu olho esquerdo estava de cor púrpura, com contornos verdes e um largo arranhão.

- Nada, Aaron. - Disse ela com os olhos marejados.

- Quem fez isto contigo? - Perguntei soltando-lhe os cabelos e tocando-lhe o maxilar.

- Ninguém. - Murmurou ela.

- Diga, irei atrás dele se for preciso. - Pronunciei as palavras sem pensar. Observei o olhar de surpresa dela.

- Sei cuidar de mim mesma, querido. - Disse ela passando por debaixo de meu braço e afastando-se. 

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