O SOM estridente ecoou pelos corredores amarelos, as portas foram abertas, enchendo os corredores com a brisa gelada que acariciou cada desenho que enfeitava as paredes da imensa escola, todas as crianças gritaram e empurraram-se até a porta larga no final do corredor, as professoras correram para garantir que nenhum dos alunos acabasse machucado.
De mãos dadas com o gramado do pátio da escola estavam as árvores melancólicas, que deixavam a cada dia um pedaço de si mesmas livrar-se de seu toque e fugir com o vento raivoso.
Esperando que os corredores ficassem vazios estava uma garotinha impaciente e irritadiça, sentada em sua cadeira, olhos azuis fitando a multidão de crianças imaturas e imundas.
- Moore, está na hora da recreação. – Indicou uma das professoras esguias e magricelas com tom rude. – Vá para fora e divirta-se com seus colegas. – Ordenou a mulher enquanto puxava um maço de cigarro do bolso de sua bata e respirava fundo com prazer antecipado.
- Não consigo divertir-me com nenhum deles. Todos são infantis e mal educados. – Rebatera a garota de seis anos e meio, tão indiferente quanto um bêbado de quarenta anos.
Srta. Macmillan era uma senhora que beirava os cinquenta anos, seus cabelos opacos e repletos de fios grisalhos e rebeldes irritavam a garota ruiva que fora ensinada a sempre manter-se limpa e impecável. A mulher tinha apenas uma função dentro da instituição: Manter os filhos de homens ricos onde deveriam, guiá-los até o pátio no bloco de recreação, certificar-se que estivessem no local certo e na hora certa.
Não estava em seu contrato que deveria ser doce ou educada. Para ela, jovens não mereciam respeito ou atenção. Respeito e atenção é para aqueles que tem poder, dinheiro ou benefícios a oferecer.
- Vamos, Moore. – Berrou com sua voz grave e rouca. – Não tenho o dia todo para vigiá-la. – Completara com uma ordem repleta de saliva fétida e um dos fios rebeldes pulando para longe do aperto do elástico gasto que prendia-os em um coque mais do que malfeito.
Mas, na verdade, Srta. Macmillan fora colocada naquela instituição para vigiar duas crianças em particular: Joy Layla Moore e Alexander Moore. Ela nunca entenderia a necessidade de vigiá-los. Sentia desgosto pelo jovem pai dessas crianças, que acreditava que seus filhos eram tão importantes quanto o resto das crianças naquela instituição, mas, para os funcionários e donos daquela escola, todas as crianças eram apenas uma alta quantia em dinheiro em suas contas bancárias.
Srta. Macmillan sempre abria um meio sorriso cético ao ouvir o diretor barrigudo discursar sobre a importância de cada criança para aquela instituição.
"Cada criança é um futuro diferente, cada uma merece atenção e aconselhamento particular para que sejam guiadas à um caminho que as leve até seus sonhos." Dizia o homem com um falso sorriso esperançoso no rosto.
A menina ruiva arrastou os sapatos negros e lustrosos pelo chão, indiferente aos comentários da professora sempre de mau-humor. Os caracóis brilhosos pulavam sobre sua cintura fina enquanto caminhava pelo corredor extenso, seus olhos sem sentimentos ou emoções carregavam um peso excessivo para sua idade.
- Olá, Moore. – Dissera uma voz fininha que vinha de perto da larga porta de madeira, quase invisível pelos papéis coloridos em forma de flocos de neve e bonecos de neve. – Srta. Macmillan não lhe avisou que brincos não são permitidos? – Cochichou com uma gargalhada falsa. A garota chacoalhou as longas tranças loiras e fitou os olhos azuis da garota. – Srta. Macmillan, Moore está usando brincos! – Berrou a menina de pele branca, mas não tão branca quanto a da ruiva.
A mulher marchou na direção da garota de sardas laranjas, a cor que entrava em destaque naquele imenso corredor.
- Está usando brincos? – Indagou com os sobrolhos de poucos pelos erguidos e perdidos entre suas rugas flácidas.
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Parque Obscuro
Misterio / SuspensoTodas as coisas tem seu lado cheio de luz mas, o que fazer se apaixonar-se pelo lado obscuro foi o caminho escolhido pelo seu coração? Aaron Carter tomou esse caminho e não arrepende-se. A vida deste garoto torna-se um verdadeiro caminho tortuoso a...