Vinte e quatro: Sra.K.

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Meu coração dançava sapateado dentro do peito, minhas pernas estavam molengas e, meu pulmão sugava todo o resto de oxigênio a minha volta. Estava em uma rua tão silenciosa que passei a questionar minha localização. Nunca havia estado ali e, muito menos sabia onde era ali.

Nada além da luz prateada da lua sendo refletida no asfalto cercava-me, nada além de casas e pequenos prédios já antigos, nada além de dois carros velhos e sem vida.

Um pequeno edifício de dois andares chamou-me a atenção, a sua volta um jardim com árvores altas e ainda repletas de folhas amarelas. Talvez fosse um bom esconderijo.

Empurrei o portão enferrujado e frágil, que queixou-se e ameaçou cair, empurrei a porta de madeira gasta e adentrei o apertado hall de entrada, sentei-me em um dos degraus da escada coberta por um carpete creme.

Ainda sentia o sangue em minhas costas, fitei minhas mãos por alguns segundos, desejando que pudesse tirar de minhas unhas o resíduo de sangue já seco, sentia uma forte dor em minhas pernas e pés. Fechara os olhos por alguns segundos, podia reviver cada segundo banhado de sangue.

- Está machucado, garoto? – Dissera com voz mansa uma senhora vestida em um roupão rosa bebê. Observou-me inclinando a cabeça e fechando a porta atrás de si.

- Desculpe-me, senhora. – Pronunciei levantando-me bruscamente e dando um passo para frente.

A senhora reagiu aos meus movimentos rapidamente. Sacou de suas costas uma arma prateada e brilhante, que obedeceu com estalos. Ergui os braços com cautela.

- Quem é você? – Indagara com rispidez. – O que faz aqui dentro? – Fitou-me com atenção.

- Meu nome é Aaron, senhora. Aaron Carter, senhora. – Gaguejei. – Não estou aqui para machucá-la, apenas estava fugindo de alguém. – Esclareci apressadamente com uma gota de suor frio descendo por minha testa.

- Fugindo de quem? – Questionara com sobrolhos contorcidos.

- Um homem que atacou-me no parque Hyde. – Contei com voz trêmula.

- Por isso está machucado? – Completara abaixando a arma, que olhara-me com seus olhos brilhantes e cheios de malicia.

- Não estou machucado. Apenas cansado. – Rebati abaixando os braços lentamente.

- Sabia que têm sangue em suas roupas? – Adicionara ela erguendo a arma novamente.

- Por isso que fui atacado. Acidentalmente esbarrei em sangue de um desconhecido, o criminoso viu-me antes que pudesse fugir.

- Esbarrou? – Repetira com desconfiança.

- Estava abaixo de uma árvore que, infelizmente, era a árvore manchada de sangue. – Esclareci desejando que pudesse convence-la.

- Está bem longe do Hyde. – Caçoara a velha com olhar zombeteiro, recolhendo sua arma e guardando-a em um dos bolsos do roupão.

- Tive que correr para escapar. Aquele homem realmente queria acabar comigo. – Disse limpando o suor de meu rosto com as mãos sujas de terra e sangue seco.

- Entre. – Oferecera a senhora abrindo a porta arranhada atrás de si. – Está péssimo para continuar correndo por aí.

Adentrei o pequeno apartamento. Repleto de enfeites de porcelana e porta-retratos cor de rosa e creme.

- Sente-se. – Indicara ela apontando para o gigantesco sofá creme, coberto por uma manta rosada de crochê e de almofadas com frases de motivação.

Senti meu corpo afundar na superfície macia quando a senhora voltou com um prato de doces.

- O sargento sempre dizia que doces são os melhores amigos de um soldado após a batalha. – Dissera com um sorriso maternal no rosto, onde suas rugas ganhavam destaque e, seus olhos brilhavam ainda mais. – Coma este pedaço de bolo e estes doces. Melhor sentir-se-á.

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