Um:Hotel Star.

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Chegáramos ao aeroporto municipal Petaluma há quinze minutos, todos os integrantes da família Carter olhavam-se com inquietação enquanto observávamos nosso pai discutir com o motorista da van que nos trouxera até ali.

O motorista, também herdeiro da pequena rede de aluguel de carros, pensava nas palavras que diria à seu pai, que insistia em oferecer seu filho como motorista quando os funcionários estavam ocupados demais para exercerem suas próprias funções.

Meus irmãos mostravam-se entediados em meio à discussão entre Ethan e o jovem responsável pela empresa que, ao rebater as exclamações do cliente insatisfeito ganhava a cor púrpura e tinha suas narinas dilatadas.

- Quando vamos sair daqui? - Perguntara Amina enquanto brincava com a ponta de seus cabelos compridos, sentada em um dos degraus da escada que dava acesso ao terminal dois, batendo a ponta de seus sapatos contra um pequeno desnível na calçada.

- Logo, Amina. - Respondera sua mãe, indiferente às reclamações da filha caçula.

Jennifer carregava pesadas bolsas arroxeadas abaixo dos olhos, a temporada de mudanças repentinas cansara-a por dentro e por fora. Não aguentava mais todas as discussões irrelevantes de seus filhos adolescentes e, muito menos, tantas responsabilidades apoiadas sobre seus ombros. Sua vida transformara-se em, no mínimo, exaustiva e, o sonho de ser uma boa mãe e ter uma família grande e unida estava distante demais do que era sua realidade hoje. Desde menina sonhara em conhecer seu príncipe, sonhava em ter um belo rapaz ao seu lado, que cuidasse e amasse-a de maneira incondicional. Hoje, perto de seus trinta e oito anos, via seu marido como um ogro cruel, que trancava-a em sua caverna cheia de jornais e discussões adolescentes, além de guerras por um horário no banheiro e disputas de território.

Se pudesse voltar aos seus dezoito anos escutaria sua mãe, que nunca olhara para Ethan como um rapaz digno de ter sua filha entre os lençóis de garoto irresponsável.

Seu marido perdera o corpo rígido, perdera o rosto bonito e os cabelos brilhosos. Hoje carregava fundos abismos abaixo dos olhos acinzentados, os cabelos castanhos escuros de que Jennifer tanto gostava abandonaram-no e migraram para a cabeça jovem de seu primogênito. Não gostava do que via ao acordar pela manhã, e fora avisada disto por sua mãe rabugenta.

Se pudesse voltar todos esses anos trocaria as palavras "Sei o que estou fazendo, mamãe." por "Será que consigo reembolso por este vestido de noiva, mamãe?''

Se tivesse feito isso, provavelmente, estaria trabalhando em um grande restaurante na França, ou na Itália, criando novas receitas e aperfeiçoando sua culinária. Conheceria o mundo e receberia elogios de belos rapazes, que implorariam para que pudessem levá-la para casa com eles. Mas, tudo isso, não passava de um sonho, perdera seu corpo modelado e desejado após sua gravidez precoce, perdera seu belo rosto após as noites mal dormidas e, perdera seu bom humor após discussões como: "É sua vez de ir à lavanderia." ou "É sua vez de trocar o garoto". Naquele tempo, achava que tudo ficaria bem, pois amava o rapaz quase bonito que dormia ao seu lado. Tudo isto não passou de uma ilusão.

Vinte minutos passaram por nós como o vento gelado que nos envolvia. Sentia que aquela tortura jamais acabaria.

- Apenas pague a ele, papai! – Dissera Daniella com tom autoritário.

Minha mãe dirigira um olhar discreto para o único filho que entendia a situação que a vida nos colocara.

Ethan Carter não tinha cem libras esterlinas sobrando, na verdade, todo o dinheiro que trouxera consigo, fora contado moeda por moeda. Talvez faltasse dinheiro para uma das refeições, mas seus filhos não precisavam saber disto. Diria que sentia-se enjoado e, por esta razão, não comeria no café da manhã.

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