Dezoito: Contêiner 1-7-4.

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Um gemido abafado ecoava através do corredor de caixas dentro do contêiner.

Joy olhou-me por alguns segundos com um traço profundo de surpresa e preocupação desenhado em sua testa.

Caminhei atrás de sua coragem, colado em seus calcanhares. O salto de seus sapatos batiam no ferro, ecoando no ambiente abafado.

O final do contêiner estava próximo demais. Joy olhou para o chão, coberto por algo viscoso, olhou-me com apreensão.

- Joy, acho que isto é uma espécie de parede. - Comentei tocando o muro de caixas de madeira.

Pousei as mãos na caixa que pousava no chão e empurrei-a com cautela, Joy apoiava as demais para que não caíssem.

Ao empurrar a pilha de caixas, encontramo-nos em uma câmara estreita.

Uma cadeira de madeira estava situada do lado direito, junto a parede de ferro. Joy aproximou-se e olhou para o objeto, deixando os braços caírem ao lado de seu corpo com olhos decepcionados.

- Mas... - Antes que pudesse dizer qualquer coisa, um gemido suplicante ecoou pelo recinto.

Viramos a cabeça depressa. Tão depressa que senti meu cérebro chacoalhar.

- Olá. - Cochichou Joy, aproximando-se da mulher amarrada em uma cadeira de ferro.

A mulher esperneava, balançava o corpo sobre a cadeira desconfortável, gemia e tinha seu grito abafado por um pedaço de pano sujo.

- Joy. - Chamei enquanto observava a perna ensanguentada da mulher.

Joy seguiu meu olhar até as pernas da mulher. Agachou-se e tocou o ferimento.

A mulher moveu-se com fervor, fazendo a cadeira balançar e bater contra o chão. Joy observava a substância pegajosa pregada em seu dedo.

- Dois ferimentos. - Concluí. - São os tiros que ouvimos.

- Eles machucaram você? - Indagou Joy com a voz melíflua.

A mulher assentiu com a cabeça emoldurada por caracóis negros, lágrimas grossas desciam por sua face arredondada.

- Aaron, preciso que pegue algo para mim. - Anunciou Joy. - Vá até a picape e busque uma bolsa vermelha. Está debaixo do banco do motorista. - Aproximou-se de mim e estendeu a chave prateada da picape.

Vacilante, assenti com a cabeça e afastei-me das duas mulheres.

Corri através dos corredores organizados até a rua deserta onde o carro estava estacionado.

O vento soprava com vigor, entrava pelo meu paletó enegrecido e tocava minha pele desbotada, gelando até o mais íntimo dos meus pensamentos. Bagunçava meus cabelos e instigava meus dentes a baterem uns contra os outros.

Aproximei-me do carro ofegante. Abri a porta do motorista e alcancei o chão coberto pelo tapete de borracha. Com a ponta dos dedos, alcancei o objeto avermelhado, sem preocupar-me em olhar seu conteúdo.

Senti o aparelho celular vibrar em meu bolso. Demorei vários segundos até ignorá-lo e continuar minha maratona até o contêiner um, sete, quatro.

- Sim, ele é um homem mal. - Dizia a voz cheia de melodia. - Ele queria ter matado-a, sabia? - Continuou como uma música de ninar. - É uma pena que ele não tenha feito. - Cochichou.

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