Ergo-me de minha cadeira e pego minha vela. - Não sei quem é o senhor, mas fui contratada pela condessa a cuidar de sua neta.
Ele cruza os braços contra seu peito largo. Não sabia quem era pois as sombras da casa projetava sobre ele e a pequena vela não facilitava nada, a não ser que ele conseguia ver meu rosto. A possibilidade dele saber quem eu era e eu não saber que é este homem era aterrorizante.
- A condessa foi? Hm...
Remexo desconfortável. - O senhor não disse quem é.
- E a senhora também não.
A pequena chama da vela tremeluz com minha respiração acelerada.
- Senhora? Acho que o senhor consegue me ver e na última vez que passei por um espelho não encontrei nenhuma ruga ou uma verruga despontada em meu nariz.
Ele troca o peso de pé e seu corpo parecia tremer. Estava rindo!
- Peço que pare de rir! Isso é extremamente deselegante!
Ele ri um pouco mais. - Desculpe-me, mas esta é a primeira vez que alguém me fez rir depois que voltei da guerra.
O neto da condessa. A guerra. Uma semana depois. Eles retornaram e o noivo de Alice deve estar em qualquer lugar de Londres. Ofego. Quais são as chances dele me encontrar na rua? Ele me reconheceria? Claro que não, ele nunca me viu, nem sabe quem eu sou. Bom, eu era tecnicamente a Alice, mas...
- Olá? Você está calada há muito tempo.
Pisco algumas vezes. - Oh! O senhor está aqui ainda. Se não for um incômodo, vou me retirar.
Avanço, mas esqueço que ele está na única porta da biblioteca que tenho acesso. Penso em vários palavrões indignos de uma dama, mas logo lembro que não sou uma.
- Com licença senhor. Preciso sair, mas você está impedindo.
Ele faz uma reverência exagerada demais e dá um passo para o lado.
- Além de silencioso, o senhor é cheio de gracinhas.
Ele sorri, e poderia jurar que vi seus brancos dentes. - Não sou engraçado, sou totalmente sério.
No corredor, o reflexo da luz da lua cheia batia em nós completamente e assim pude ver o rosto dele.
Loiro, olhos amendoados, uma barba escura e um pouco mais alta que o permitido pela moda e um rosto anguloso, sem contar com seu nariz alto e fino.
Descubro que fiquei tempo demais observando este homem que nem Michelangelo retrataria com tamanha perfeição. Seu lábios sobem em um sorriso atrevido.
- Olha olha. A senhorita não é tão feia como imaginei. - engasgo com sua depravação.
- O senhor tem cheiro de libertino. Fique longe de mim. - ele sorri mais uma vez e percebo que ao redor de seus olhos apareciam pequenas marcas de expressão, e junto com o sorriso ele fica mais deslumbrante ainda.
- Minha adorável dama, não seja tão rabugenta.
- RABUGENTA? - coloco a mão em minha boca quando percebi que falei alto demais. - O senhor deveria ir dormir, está tarde e... - respiro fundo - precisa de um banho. Cheira a putas, tabaco e cerveja barata.
Ele ergue uma sobrancelha. - Pensei que cuidaria somente de minha filha.
Franzo a testa. - Sua filha... Oh Deus, claro. Madalena é uma menina inteligente, bonita e perspicaz, características que não herdaram do pai.

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Cartas não Respondidas
Romansa2° LIVRO DA SÉRIE 'AMOR E GUERRA' PLÁGIO É CRIME! Helena Grainville era uma mulher diferente. Antes do pai falecer e da mãe gastar toda a herança com sua irmã, ela aprendeu a arte da medicina. Por ser proibido o ensino para mulheres, ela aprendeu co...