Reconciliação

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Minha mãe corou um pouquinho, mas rapidamente se recompôs.
- Apenas um jantar com as amigas - disse misteriosamente.
Bruna me olhou. Acho que estava pensando o mesmo que eu.

Adiantamos bem o trabalho. Quando percebemos já estava escuro.
- Melhor eu ir pra casa, já está tarde.
- Por que não dorme aqui. Depois aviso pra sua mãe . A Mel está tão sozinha ultimamente e...
- Mãe! - a cortei trincando os dentes.
- Só quero ajudar, meu anjo.
- Tá bom, Cláudia. Bom que podemos assistir a alguns filmes- Bruna disse me encarando.

O que essa menina tá aprontando? Será que tentaria me matar assim que minha mãe saísse? Me arrepiei. Espero que não, sou muito nova pra morrer e eu ainda nem plantei uma árvore.
- Boa ideia! Ainda mais que a Mel comprou alguns DVDs da série Academia de Vampiros. Sei que vocês assistem sempre juntas.
- Sério? Que amiga eu tenho - disse Bruna na ironia. Minha mãe nem percebeu.
- Que bom que se entenderam. Agora, acho melhor eu me arrumar, senão vou me atrasar. Se cuidem.
Ela saiu do quarto. Eu e a Bruna nos encaramos. Ficamos um tempinho paradas, esperando quem ia falar primeiro. Ouvíamos apenas o barulho das nossas respirações. Resolvi quebrar o silêncio
- O que está aprontando?
- Eu? Nada- revirou os olhos.
Olhei desconfiada pra ela.
- Vou preparar a pipoca, se quiser pode ficar aí escolhendo os filmes.
- Vou te ajudar. Não quero que coloque veneno- ela disse me acompanhando até a cozinha.
- Acha que eu teria coragem de fazer isso?
- Claro que não. Você tem medo até da sua sombra.
- Até parece.
Eu preparei a pipoca, enquanto ela me atormentava. Vezes ou outra, sentia que ela queria me dizer algo. Na verdade, eu também queria lhe dizer algumas coisas. Mas, faltou coragem de ambas as partes.

- Meninas! Como estou?
Olhamos para minha mãe. Ela estava deslumbrante. Seu vestido frente única, era vermelho cheio de paetês; seu cabelo estava em um coque frouxo. Usava uma sombra verde- escura que deixava seu olhar marcante dando um contraste com seu batom cor de pêssego bem claro. Por último um scarpin. Meu pai ia ter um ataque quando a visse assim. Era melhor deixar uma ambulância de prontidão.
- Maravihosa. - Bruna diz.
- Perfeita- completei.
Ouvimos uma buzina. Minha mãe despediu de nós e saiu rapidamente.
- Onde ela vai toda produzida assim? Acho que nesse mato tem coelho.
- Vai jantar com meu pai.
- Sério? Como você sabe?
- Hoje mais cedo, a Suzana, uma mulher que trabalha com ela; me disse que meu pai deixou um buquê de rosas na mesa da minha mãe e dentro tinha um bilhete a convidando pra sair. Que romântico né?
- Que brega, isso sim! Nem precisava disso tudo. Era só mandar uma mensagem no WhatsApp e pronto. Esse povo complica demais as coisas.

- Me... - dissemos em uníssono.
- Fale primeiro - disse ela.
- Me desculpe. Sinto muita a sua falta. Não fui uma boa amiga. Mas, como diz minha mãe: o importante é assumir o erro. Queria te pedir, no fundo do meu coração, que me dê uma nova chance para sermos amigas novamente.
Ela ficou emocionada, assim como eu. Queria minha amiga de novo. Cabia a ela se decidir.
- Olha Mel, também queria te pedir desculpas por aquilo que te falei...
- Eu precisava daquilo pra acordar pra realidade. Eu vivia em um mundo em que só via somente a mim e me esquecia das pessoas ao redor. Fui muito egocêntrica. Mas vou tentar mudar. Me perdoa por tudo?
- Perdoo, só se fizermos um pacto de sangue, para que nunca deixemos de ser amigas.
- Uai! Agora acredita nessas coisas. Parece que este tempo que estivemos separadas trouxe algumas mudanças a você, hein!
Fizemos o tal pacto. Estou tão feliz em termos refeito nossa amizade e por meus pais estarem se entendendo, que não cabe em palavras. As coisas estão começando a melhorar.
Assistimos à varios filmes, entre eles Ponte para Terabítia, que tem como tema principal, a amizade, é bem emocionante. No final, só se via nossas lágrimas de emoção.

- Gente, vai ter uma festa no clube domingo. Vocês vão né? - Carla fala.

Carla agora faz parte do nosso grupo de amigos. E a vida sempre nos pregando peças.
- Eu e a Mel já estamos dentro. - Bruna fala animada.
- Mas precisamos ir ao shopping, fazermos algumas comprinhas. - falo com a imagem do meu closet na minha cabeça.
- Nós três podemos ir amanhã, que tal? - indaga Carla.
- Pode ser, você vai com a gente Mel? - Carla questiona olhando pra mim.
- Claro!
Nós três nos tornamos inseparáveis desde sempre. Era muito bom ter amigas como elas. Quando uma precisava de ajuda, as outras já estavam de prontidão. Depois da reconciliação com Bruna, nossa amizade fortaleceu. Sua relação com sua mãe continuava a mesma, infelizmente. Eu queria fazer algo para ajudá-la, mas sabe quando queremos fazer algo e estamos de mãos atadas? Eu estou assim.

Os dias passaram num borrão, estávamos no shopping escolhendo nossas roupas, para a tal festa no clube.
- Que tal esse vestido gente?
- Não valoriza suas curvas Bruna; vamos escolher outro. - Carla fala.
- E esse verde aqui?- mostrei-a.
- Muito cheguei. - faz uma careta.
Resolvemos ir a outra loja. Carla já havia escolhido o seu. Era um preto bem simples, cruzado nas costas, tinha alguns detalhes em renda na lateral. Era perfeito pra quem não queria chamar muita
atenção.
- Esse é perfeito gente- disse Bruna abrindo as cortinas do provador. O vestido combinava perfeitamente com ela. Era rosa, todo bordado na frente, de frente única .
- Tá linda.
- Sempre fui Carla.
- Exibida. Agora me ajudem a escolher o meu gente. - falo desesperada.
Fomos em várias lojas, mas não encontrei nenhum que me chamasse atenção. Já estava quase desistindo.
- Adorei aquele ali na vitrine. É a minha cara.
Fiquei boquiaberta, era divino.
- Vamos entrar e você experimenta- Carla disse.
Entramos na loja. A vendedora veio até nós.
- Precisam de algo? - pergunta simpática.
- Não. Imagina! Estamos aqui para...
- Bruna- cortei-a.
- Na verdade queremos aquele vestido verde que está no manequim. - disse Carla educamente. A única sensata.
Bruna revirou os olhos. Ficou séria de repente quando olhou pro fora
- Que foi Bruna? Viu um fantasma?
Segui seu olhar. Jonas estava passando em frente a loja. Felizmente não me viu. Ignorei a dor. Prometi a mim mesma esquecê-lo. Eu merecia coisa melhor.

Decisão finalOnde histórias criam vida. Descubra agora