Capítulo dois

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LEONDRE DEVRIES

Mais uma semana se passou. Kennedy ainda pegava no meu pé, tentava a todo custo me fazer chorar e eu estava ficando impressionado com o meu autocontrole. Não que eu houvesse ficado forte, não, não é isso. É só que agora eu consigo disfarçar, fingir que eu não sinto tanta dor quanto ele quer que eu sinta, ou tanto medo quanto ele quer que eu sinta. Isso o deixava frustrado, irritado mas eu não parecia mais ser tão fraco quanto ele gostava. Ainda não consigo entender bem o porque dele me odiar, eu tenho o meu motivo pelo qual me odeio, mas para ele eu nunca fiz exatamente nada, esse era o meu motivo pelo qual me odiava .

- Senhor Devries está prestando atenção na aula? - A professora perguntou chamando a atenção toda da sala para cima de mim, encolho os ombros e aceno positivamente enquanto toda a sala solta uma risadinha. Depois disso o sinal do intervalo tocou, todos arrumaram seus materiais e foram para o refeitório. Eu guardei meu material calmamente, não tinha pressa alguma. Andei pelos corredores da escola indo em direção ao gramado. Assim que cheguei nele me sentei embaixo de uma árvore que havia ali. O tempo estava ameno, assim como a minha alma. Será que algum dia essas pessoas dessa escola já pararam para pensar quantos dias eles viveram e quantos a maioria deles só existiram? Eu sou da parte que existe e sobrevive, tem dias que eu só existo, esses dias são os dias que ninguém me nota nem mesmo Kennedy e seu grupinho de idiotas. Os dias que eu sobrevivo são os dias que Kennedy e os outros me notam que é quando eles me batem ou me espancam.
Suspiro com esse pensamento incoerente. Minha vida ou se é que posso chamar isso de vida não tem nada de bom. Fico sentado ali na grama por mais algum tempo escutando música, elas me fazem relaxar. Estava tocando sleeping with sirens better off death, a música me traduzia por completo. Eu estaria melhor morto, mas olha, quem eu estou tentando enganar nem vivo mais eu estou, não tenho vontade de sair, não sinto vontade de conhecer o mundo ou pessoas novas. Por falar em pessoas, todas me assustam, a maioria delas são tão falsas, ignorantes, manipuladoras, frias, fúteis... São tantas coisas ruins que se alguém parar pra pensar passa a ter medo. Mas eu sempre me mantinha calado em relação a elas. Eu tenho medo de me apegar a alguém, não que tenha alguém fora a minha mãe em que eu possa me apegar. Mas esse é o motivo pelo qual muitas pessoas se machucam, as pessoas nunca deveriam se apegar pois se te soltarem você cai, e a queda pode doer bem mais do que pensam. Eu era apegado ao meu pai até que um dia qualquer ele foi embora sem ao menos me dar um tchau, ele me soltou e a queda com a realidade foi tão forte e tão dolorosa que esse foi um dos grandes motivos da minha primeira depressão. Suspiro novamente. O sinal indicando que o intervalo acabou soou novamente então Levantei-me do gramado e segui para a sala. As últimas aulas passaram sem que ao menos eu percebesse, os professores nos mandaram embora. Todos saíram rapidamente e eu fiquei ali parado. O tempo pareceu parar quando a porta da sala foi fechada. Kennedy estava ali.

- Oi Leondrezinho. - Ele falou com um sorriso malicioso nos lábios. - Seus machucados já estão sarados? - Ele perguntou enquanto se aproximava, por dentro eu estava nervoso e com medo pois sabia que iria apanhar, mas por fora eu me mantinha calmo, meu rosto não demonstrava uma reação se quer. - Deixa de ser chata, o gato comeu a sua língua? - Ele perguntou assim que estava na minha frente, sua mão prendeu o meu maxilar com força. - Tem certeza que não vai me responder?

- Apenas faça o que você quer fazer! - Exclamei calmamente, minha voz saiu calculada e com certo tom de raiva. Seu rosto se contorceu em uma expressão de raiva, ele achou que iria me dar medo mas não me deu.

- Olha olha, da onde foi que tirou essa sua coragem? - Seu sorriso havia voltado, ele me perguntou com um tom irônico.

- Ah eu não sei talvez no mesmo lugar onde você conseguiu essa sua ironia irritante, você se acha tanto não é mesmo? Acha que alguém realmente gosta de você de verdade? As pessoas só te suportam pois elas tem medo de você. - Eu falei, não sei exatamente onde encontrei coragem, no final da minha frase soltei o sorriso mais frio e irônico que podia. Ele me olhou com ódio e gargalhou, sua gargalhada era fria igual a dos vilões dos filmes, eu não deixei transparecer mas senti um arrepio percorrer minha espinha.

- É para falar a verdade agora? Okay então vamos começar. - A voz dele exalava frieza. - Ninguém nunca vai gostar de você! E ah sabe o motivo do seu pai ter ido embora? - Ele me perguntou e eu neguei, neguei porque ele estava mexendo na minha mais profunda cicatriz. Foi nesse exato momento que me arrependi de ter o desafiado. - Ele foi embora pois não queria ter um filho perdedor como você, ele não aguentaria olhar para essa sua cara todos os dias, eu ainda me pergunto como a sua mãe consegue. - A cada palavra que ele falava era como se fosse um soco no meu estômago, eu estava engolindo em seco o que fez ele sorrir ainda mais. Foi então que o primeiro soco atingiu minha barriga logo seguido de uma joelhada no meio das pernas. A dor era crucial. Eu só não gritei pois o primeiro soco havia tirado o meu ar. - Cadê a sua coragem agora? - Ele perguntou enquanto me levantava da cadeira onde havia me apoiado.

- Você já me bateu mais forte do que isso, qual é Kennedy está amolecendo? - Minha voz pingava sarcasmo e ironia. Ele sorriu e recebi outro soco no estômago. Kennedy segurou nos meus cabelos me mantendo perto, para facilitar a direção dos golpes.

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