Primeiro capítulo

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LEONDRE DEVRIES

Então ele me jogou no chão e começou a chutar a minha barriga. Era quase como se estivesse tentando separar o meu corpo, me dividir em dois. Eu sentia muita dor mas não chorava, não mais. Eu não iria dar mais esse gostinho para eles, eles não mereciam me ver soltando mais uma lágrima se quer. Eu gemia de dor, eles distribuíam vários chutes entre minha barriga, pernas e costas. Kennedy mandou que seus seguidores parassem, eu ainda podia ouvir bem os insultos que praticamente cuspiam em minha cara. Senti alguém sentando-se sobre a minha cintura, tirei as mãos da frente do rosto o que não foi muito bom pois tive que encarar o olhos azuis bem de perto.

-... Você é um idiota sabia? não sei que milagre é esse que ainda não está chorando como a mulherzinha que você é. - Kennedy falou, era ele quem estava sentado sobre a minha barriga. A cada palavra pausadamente dita por ele eu recebia um soco no estômago, provavelmente eu já estava completamente roxo por baixo das roupas que usava. - Mas então, me diz Leondre como é que você está aguentando apanhar de cinco pessoas sem chorar sendo que quando apanhava só de mim há uma semana atrás já chorava? - Ele perguntou e eu não movi um só músculo, ele me olhou com um ódio quase que sólido, seus olhos azuis demonstravam o quanto ele sentia ódio de mim. Ele negou com a cabeça e levantou-se. - Apaguem esse filho da puta. - Kennedy deu a ordem e novamente começaram os chutes, eu tinha certeza que quebrariam algum osso meu, um dos chutes atingiu minha cabeça com força o que me fez morder o lábio inferior e infelizmente cortar ele que começou a sangrar e o gosto metálico tomou posse da minha boca. Eles evitavam o meu rosto, não queriam deixar nada visível. Eu apenas fechei meus olhos e fingi ficar inconsciente eles me bateram mais um pouco e saíram assim que o sinal tocou. Levantei-me do chão e fui direto na direção da pia do banheiro masculino, onde era o lugar que estava. Enchi as mão de água e lavei o meu rosto que não estava danificado. Por sorte eles eram espertos o suficiente para saberem que não teria como esconder se machucassem meu rosto. Eu não entendo o motivo dos garotos dessa escola me odiarem, mas eu estou começando a entender, até porque eu mesmo estou começando a me odiar. Encaro o meu reflexo através do espelho, meus cabelos castanhos claro estavam grande com uma franja jogada para o lado de um jeito bagunçado , meus olhos verdes não estavam mais vermelhos como sempre estavam desde a semana passada. Minha pele extremamente clara estavam cheias de hematomas e vergões mas nada que uma outra camiseta de mangas compridas não escondam. Eu sou baixo e sem rastros de músculos mesmo tendo quinze anos. Meu estômago doía, peguei minha mochila que estávam em um canto qualquer do banheiro e saí calmamente. Eu não ficaria para as aulas mesmo elas tendo acabado de começar, segui pelo corredor indo para o gramado da escola, passo pelo portão onde estava o porteiro e ele me olhou repreendedor achando que eu estava cabulando aula pela terceira vez essa semana. Meu caminho até em casa é tranquilo e silencioso de um modo ensurdecedor. Abro a porta e entro, meus pais ou minha mãe para ser franco não está em casa, já havia saído para trabalhar, tiro os meus tênis os deixando atrás da porta e subo para o meu quarto. Entro já jogando a minha bolsa de qualquer modo em qualquer lugar no chão do quarto, caminho calmamente até o banheiro do meu quarto e assim que entro nele começo a tirar as minhas roupas. Olhei novamente meu reflexo no espelho e odiei o que vi, essa era a questão, se até eu me odeio por que alguém gostaria de mim ou me amaria? Minha barriga estava cheia de hematomas que variavam em quase cinquenta tons entre preto, preto-arroxeado, roxo, roxo-esverdeado e vermelho. Aquela cena me fez querer vomitar, então eu corri na direção da privada e vomitei todo o meu café da manhã, assim que terminei voltei para a pia lavei o rosto e escovei os dentes. Estava morrendo de dor então tomei algumas aspirinas e um banho longo voltando para a cama logo em seguida. Passei a manhã toda e toda a tarde também dormindo e só acordei quando a minha mãe chegou e me chamou para jantar.

- Como foi seu dia meu filho? - Me perguntou enquanto eu remexia a comida em meu prato sem vontade nenhuma de comer.

- Foi normal Mamãe, o de sempre. - Respondi simplesmente e ela me encarou.

- Fez algum amigo? - Ela perguntou por perguntar pois já sabia qual era a resposta a seguir.

- Não.

- E os garotos da escola? eles pararam de mexer com você? - Ela perguntou novamente, eu podia facilmente distinguir a preocupação nos seus olhos. Ela tinha medo que eu tivesse uma nova recaída.

- Pararam! - Exclamei calmamente e ela assentiu com a cabeça.

- Que ótimo meu filho. - Ela disse simples e o assunto havia acabado.

- Bom se me der licença eu irei me retirar. - Disse levando-me e voltando para o meu quarto.

Essa noite foi diferente, eu não chorei como em todas as outras, eu não estava feliz por isso pois de alguma maneira eu precisava esvaziar todas as coisas ruins que faziam comigo para que na manhã seguinte caso eles me batam " O que eu acho que vai acontecer " eu não chore na frente do Kennedy e dos seus seguidores. Eu também não queria preocupar a minha mãe, ela provavelmente correria atrás de outra ou outro psicólogo para mim, ela diria que estou entrando em depressão novamente.

" Querido Angel eu sobrevivi a mais um dia, hoje eu não chorei na frente daqueles idiotas e o pior é que eu também não chorei quando estava sozinho no meu quarto . Para piorar minha mãe parece estar preocupada comigo novamente, ela me perguntou se eu estou bem. Sinto como se estivesse morrendo aos poucos, até quando essa nova máscara de "eu sou forte e não vou chorar na frente deles" vai durar? ".

Termino de escrever em um caderno qualquer e o escondo, não que precise disso mas, vai saber quando a minha mãe vai entrar aqui e se por acaso ela o encontra. Esse caderno é o que me ajuda a superar algumas coisas, ele que me ajuda a esvaziar o infinito oceano que há dentro de mim. Vou até o banheiro e pego um calmante o tomando para ver se consigo dormir. Deito na cama e sinto uma grande onda de sono me invadir e então adormeço.

Shelter // Chardre Gay Love Story Onde histórias criam vida. Descubra agora