Capítulo 4 - Parte II

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Respirando fundo enfiou a mão no bolso do casaco, que estava pendurado no braço, e de lá retirou o Ipod, precisava distrair os pensamentos e fazer aquela voz se calar ou acabaria mais uma vez explodindo. Com movimentos rápidos encontrou a lista com suas músicas favoritas, aquelas que eram como chiclete que grudavam na cabeça e era impossível não cantar. Só esperava que quando chegasse em casa sua mente continuasse distraída com as canções ou seria obrigada a tomar remédio para apagar.

Sabia que não era o caminho certo a seguir, porém havia descoberto que era o menos doloroso e isso era tudo o que a garota precisava no momento. Estava cansada de tentar ser tão forte e de usar diariamente uma máscara de que tudo estava bem, de que ela não estava sendo corroída por dentro pela falta que sentia de Noah. Só queria que toda a dor acabasse e sua vida voltasse a ser como antes... O que era impossível já que aquele maldito havia marcado-a a ferro, ele sempre seria uma lembrança presente já que tudo o que amava havia sido compartilhado com ele.

"Isto é para você aprender a nunca mais abrir tanto o seu coração." Pensou trocando a faixa para algo mais cheio de guitarra, bateria e gritos.

Quando as primeiras batidas de Make Me Wanna Die do The Pretty Reckless encheram os ouvidos de Abigail, ela finalmente se sentiu preparada para enfiar-se no meio daquelas pessoas e seguir seu caminho. O corredor ainda tinha uma boa quantidade de alunos, mas era menos que antes, sabia que deveria esperar um pouco mais, porém estava cansada, queria ir para casa e tentar esquecer-se de tudo o que havia acontecido durante a manhã. Pela primeira vez em meses ia quebrar sua "regra" de segurança, criada desde que a irmã e os babacas dos amigos dela haviam começado a persegui-la, não tinha cabimento esperar que mais da metade da escola resolvesse ir embora.

Seu dia estava ruim demais para continuar ali parada, com a sorte que estava tendo era bem capaz de que os amigos de Amanda aparecessem e resolvessem tirar sarro com ela cara ou pior, pregar uma das terríveis peças com as quais torturavam habitualmente aqueles que eles julgam perdedores. Por experiência própria sabia que as brincadeiras deles eram sempre pesadas demais para conseguir aguentar sem estar cem por cento bem. Era óbvio que não estava nada bem, pelo contrário estava tão sensível que acabaria chorando na primeira piada que jogassem na sua cara. Só de imaginar em ter que passar diariamente pelas brincadeiras e piadinhas deles já fazia o estômago se contorcer e as náuseas ameaçarem.

Já passara uma vez por uma dessas pegadinhas e por pouco não caiu naquele jogo egoísta que eles tanto adoravam. Por muito pouco mesmo não havia dado o que queria: vê-la chorar, implorar para que a deixassem em paz, mas foi graças a Noah que se manteve firme. Até hoje aquele dia ainda a assombrava.

Respirou fundo quando as imagens vieram como uma avalanche em sua mente.

Aquele havia sido um dos raros dias em que havia esquecido um livro na sala de aula e por isto dispensou Kate para que não atrapalha-la para o almoço de aniversario da mãe

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Aquele havia sido um dos raros dias em que havia esquecido um livro na sala de aula e por isto dispensou Kate para que não atrapalha-la para o almoço de aniversario da mãe.

Má decisão.

Eles usaram justamente o fato de que Abigail estava sozinha e a escola praticamente vazia para encurralá-la e levá-la até o armário do material de limpeza que ficava no último andar. O corredor ali era vazio, escuro e frio, ninguém andava por aquelas bandas por haver uma velha lenda sobre assombrações. O único que se aventurava por ali era o zelador, mas ele só aparecia ao anoitecer quando fazia a limpeza da escola.

Estava completamente perdida.

Sem dó nem piedade eles a trancafiaram naquele armário pequeno e escuro. A principio Abigail procurou se manter calma para tentar achar o interruptor que ligaria a luz e faria um pouco da maldita sensação de que as paredes estavam se fechando ao seu redor sumir, mas quando descobriu que a lâmpada estava queimada, aquilo apenas fez com que aquela falta de ar aumentasse deixando-a desesperada. A garota queria gritar por ajuda e até mesmo implorar para que a tirassem dali, mas seu orgulho era maior do que a claustrofobia que insistia em querer dominá-la, por isto sentou-se no único espaço onde não havia prateleiras e abraçou os joelhos enquanto mordia forte o lábio inferior para tentar conter o grito de socorro.

A cada minuto que passava Abigail tentava puxar com mais força o ar, porém nunca era o suficiente, era preciso de muito mais para preencher os pulmões e a deixar confortável. Seu desespero estava aumentando com o passar do tempo e a deixando sem espaço para pensar em uma alternativa que a tirasse dali sem que tivesse que entregar seu orgulho de bandeja nas mãos deles.

Se mantenha firme, uma hora o zelador vai aparecer. – sussurrou em meio a uma lufada de ar e repetiu a cada vez que estava ficando mais difícil de tragar o ar para os pulmões.

Era tudo o que podia dizer para tentar confortar a si mesma, mas ela não acreditava que pudesse conseguir manter aquela serenidade por muito mais tempo, ficava remoendo como estaria em uma hora ou mais. Talvez a beira da loucura. Será que desmaiaria? Abby já sentia a mente ficando mais leve e a fraqueza tomando conta do seu corpo, entretanto, antes que a sensação pulsante do medo e aflição pudesse dominá-la por completo uma voz calma que de alguma forma lhe trazia segurança se fez presente, mandando-a fechar os olhos e inspirar e expirar lentamente, imaginando-se em um local espaçoso e bonito.

Sem pensar duas vezes a garota seguiu o que havia sido recomendado. Apenas horas depois de ter sido resgatada pelo zelador, Abigail lembrou-se que aquelas palavras haviam sido ditas pelo ex namorado quando ambos ficaram presos no elevador do prédio dos pais dele.

Confie em Mim (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora