Paris

128 4 0
                                    


Paris na Primavera ...Nada podia ser mais lindo...

O despontar da vida nessas ruas maravilhosas sem deixar nenhum canto intocado. O cheiro das flores, o calor subtil que se fazia sentir e que roçava a minha pele suavemente. Os odores que me envolviam e me transportavam para um verdadeiro estado de êxtase de felicidade.

E acima de tudo estava no berço do romantismo, ou seja do meu mundo. Claro que a vida não podia ser uma série interminável de momento românticos, acabaria por ser muito chato, mas muitos momentos maravilhosos seriam sempre bem melhor do que se viver pouquinhos, e se pudesse ter uns só meus durante o próximo ano....seria mara. Uma recordação para me dar o alento que hoje já não tinha. Esperava sinceramente que acontecessem...mas não acalentava a esperança de viver um amor "de contos de fadas"....ri-me do meu próprio trocadilho...

Ser fada era fantástico quando se decidia usar os poderes em proveito próprio. Normalmente nunca o faria mas neste caso tinha sido necessário. O mundo dos homens não era o meu, era somente o meu lugar de trabalho e aqui não tinha nada, e tive de inventar tudo.

Depois de muito pensar...o que me levou um milésimo de segundo, o que para mim era um grande feito, porque normalmente agia por impulso. Optei por criar a vida de uma estudante francesa de artes, que vinha de um intercambio tardio e que vinha frequentar algumas aulas na Sorbone. Como casa decidi-me por uma linda mesanina, para quem não sabe é o nome que os franceses dão aos apartamentos das empregadas das grandes casas e que ficavam nos forrinhos. O meu tinha sido todo renovado, era pequeno mas lindo e ficava numa das ruas mais caras de Paris, o Quai d'Orsay. Eu sei que era presunção minha me fazer passar por uma estudante quando já tinha a linda idade de mil anos mas eu não parecia ter mais do que vinte anos pelos padrões humanos e seria bem estranho criar a vida de uma trabalhadora bem sucedida.

O que mais me custou na transição foi o facto de ter de deixar as minhas lindas asinhas para trás. Sei que eram pequenas mas fazem parte de mim como se de um membro se tratasse. Não eram elas que me faziam voa, podia fazê-lo mesmo não as tendo mas eram o símbolo do meu estatuto dentro da minha comunidade.

Vivíamos noutro plano do que o dos seres humanos, que não nos podiam ver a menos que assim o decidíssemos, mas partilhávamos o mesmo planeta e os mesmos problemas que eles enfrentavam. Nós coexistíamos e dependíamos deles para viver, precisávamos do seu amor, candura, gratidão e de todos os bons pensamentos para viver. Nós vivíamos de toda a energia positiva que eles emanavam. E o trabalho que eu desenvolvia como fada do amor era de uma grande importância e responsabilidade já que esse era o sentimento que mais energia soltava.

Comecei as minhas férias apenas alguns minutos depois de saído da sala do meu chefe.

Coloquei a minha melhor roupa francesa, saia preta, blusa as riscas e um lindo barrete vermelho, e com um simples pensamento já estava em Paris.

Depois de passar a minha primeira noite, melhorando e aprimorando a minha nova vida, ou não fosse eu uma perfeccionista, fui para a cama e dormi...dormi....e dormi como nunca tinha dormido....um sono solto e despreocupado....cheio de esperança.

Saber que acabava de criar a vida que sempre tinha deseja para mim e que durante um ano inteirinho podia desfruta-la sem que ninguém me incomodasse ....era....era...até me faltavam as palavras....era divinal...na falta de uma palavra melhor....ou talvez fosse essa a palavra certa ...divinal...

Deixei-me adormecer lentamente mas certamente para despertar por volta das nove da manhã. ....e acordei descansada e revigorada ...pronta...

Com um pulo sai da cama, não tinha um segundo a perder ...tinha de ir viver....

Meia hora depois prontinha para sair dirigi-me até a porta e... parei um segundo...respirei profundamente fiz uma prece e finalmente abri a porta para me aventurar na minha nova vida

O elevador demorou muito pouco a chegar e depois de eu entrar parou logo no andar seguinte.

As portas do velho elevador abriram-se devagar num solavanco barulhento, o que contrariamente a primeira vez não me assustou. Sabia que essa impressão de lentidão se devia ao facto de estar habituada a fazer as coisas acontecerem no mesmo instante. Agora o que eu não estava espera era que a porta quando finalmente se abriu me deixasse ver uma uma das obras mais lindas que os meus olhos tinham algum dia tido o privilégio de encontrar.

Um adónis com pele de ébano com um toque de creme de leite, com a cabeça rapada, um corpo de babar, musculado e bem proporcionado...e uns  olhos....mas que olhos....incríveis...verdadeiramente incríveis....

Eles eram verdes esmeralda, profundos, e quando os levantou e olhou directamente para mim pensei que nunca mais seria capaz de desviar o meu olhar....fiquei presa.

Graças a Deus que ele pareceu não se dar conta do efeito instantâneo que teve em mim. Com uma voz masculina bem profunda um pouco rouca, como eu gosto. Ele disse as palavras que iriam acompanhar-me pelo dia afora.

- Bom dia mademoiselle.

Sei que essa frase foi dia por pura cortesia e boa educação mas para mim naquele momento tiveram um significado bem maior..eram a promessa de algo...não sei do quê ...mas de algo.

Estar fechada no mesmo compartimento do que ele foi ao mesmo tempo desconfortável e ao mesmo tempo prazeroso.

Tentava evitar que o meu olhar fugisse para ele para o comer descaradamente, enquante o meu corpo parecia vibrar com a sua presença. Tive que obrigar-me a ficar quieta a não falar e esperar.

O elevador não parou mais e chegando ao andar térreo ele saiu e eu fiquei ali olhando-o partir até sair do prédio.

Nesse momento apeteceu-me ficar invisível e começar a segui-lo, mas não o fiz....o que tivesse de ser seria...como sempre...

Desses escassos segundos ficaram-me duas certezas.

1- Este homem tocou-me como nunca nenhum o tinha feito

2- Estava tramada ...

1, 2,3... Lá vou eu outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora