Esta é a minha vida

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Depois de combinarmos as coisas para a noite, cada uma de nós foi embora.

Passei na padaria e comprei uma baguete, pão tipicamente francês que eu tinha aprendido a amar e com o qual  fazia umas sandwiches maravilhosas. Estava com um humor bem duvidoso, e precisava de algo para me animar. Uma mistura de sentimentos borbulhava na minha cabeça. Estava infeliz pela possibilidade de um grande amor ter morrido, só porque tinha tido o azar de ser aluna da minha barrinha de chocolate, zangada com ele porque ele nem sequer procurou uma solução para nós, o que me  provou que ele não tinha um grande interesse. Humilhada porque num único o meu traseiro foi duas vezes ao chão. Supostamente as férias eram o tempo para descansar e ser feliz e nada disso acontecia para mim.  Mal coloquei a chave na porta senti a sua presença. O meu dia estava realmente cada vez melhor....

E lá estava ele sentado no meu sofá fumando o seu charuto predileto e vendo um programa qualquer de luta na televisão.

-Os humanos sabem mesmo como aproveitar a vida. 

-Boa tarde chefinho. Veio-me me fazer uma visitinha ou me  incomodar durante as minhas férias? Se é para voltar ao serviço desde já aviso.......esquece ...um mês não é um ano!  - Fulminei-o com o olhar, deixando-o saber que não tinha gostado nem um pouco da sua intrusão. Que direito tinha ele de invadir o meu refugio, sem aviso! Apenas entrou e instalou-se comodamente ocupando o meu espaço sagrado. Essa sua atitude veio definir de uma vez por todas o meu estado de espírito....estava zangada e muito.  

-Nada disso, para te dizer a verdade até estamos melhores sem ti. Não me tinha apercebido antes mas és bem chata....passas a vida a reclamar de tudo.-Respondeu ele com desdém.

O que ele disse não veio melhorar a situação e dei rédea a minha raiva.

-E sabes porque é que isso acontecia ...porque eu estava cansada de tudo. E deixe que te diga que também estou muito melhor agora...aproveitando a vida. Eu tinha dito que voltaria em um ano mas reconsiderando e querendo fazer um favor a todos nós que tal eu voltar....NUNCA MAIS!

-Faz o que entenderes. Compreendo que para os preguiçosos essa é realmente a melhor vida de se viver,  férias para sempre. Mas pelo contrário para os que tem responsabilidade e respeito pelos outros, e que trabalham para o bem da comunidade e não em prol do seu próprio bem estar,  essa vida para eles seria de uma completa inutilidade. Mas enfim cada um escolhe o que melhor lhe convêm. E se não quiseres voltar por mim tudo bem, apenas não te lamentes daqui a uns tempos de que a tua vida não tem nenhum propósito e que precisas de fazer alguma coisa para te ocupar, além do facto de que o nosso mundo ira-se ressentir da falta do trabalho de uma fadinha por muito insignificante que ela seja.

- Acabou por aí. Se vieste para me ofender podes sair já da minha casa. São muitos séculos de trabalho para a comunidade sem aproveitar nada da minha própria vida, ao contrario de ti, e não vou deixar que tu nem ninguém me diga que estou errada em tirar esse tempo de descanso tão bem merecido. Eu não sou insignificante e esse teu teatrinho não tem qualquer efeito sobre mim. Não te esqueças nunca mais que o teu teatrinho não me afeta mais. Agora diz-me o que queres e vai-te embora, como dizem os humanos tão bem "estás a cansar-me a beleza".- Nunca tinha sido tão rude e fria como o fui agora com ele. E vi no seu rosto, embora ele tivesse tentado disfarçar, que estava  surpresa e que não esperava esse tipo de reação ao seu comentário tão infeliz. Julgo que pela primeira vez ele percebeu que eu tinha mudado. 

-Ok, se é isso que queres, fica o ano completo de férias, não quero saber. O que não faltam são fadas que queiram ocupar o teu posto. Mas ainda preciso de te dizer porque é que vim cá hoje, e embora me custe muito,preciso da tua ajuda para resolver uma situação delicada. 

-Se é juntar um casal ...esquece...já te disse que estou de férias, não aceito mais nenhuma  missões. 

-Não sejas assim Paradis. - Começava antever um ligeiro receio na sua voz- É para o bem do nosso reino, do nosso povo,  e o que te vou pedir não é difícil para ti, em umas horinhas de trabalho resolves a situação.

-Já te disse que não! Eu conheço-te...hoje pedes-me um favor, que vai me custar uma hora de trabalho. Amanhã voltas e pedes-me outro favor que vai ser um dia de trabalho e daqui a pouco estou a trabalhar a tempo inteiro outra vez....por isso lê os meus lábios já que não queres entender os sons que saem deles ...NÃO.

-Paradis, por favor, e não imaginas o quanto me está a custar a pedir-te isso. Mas antes de tomares qualquer decisão definitiva ouve o que tenho para te dizer. Não te esqueças que estamos a falar da vida de duas pessoas que como tu merecem ser felizes.- A doce sonoridade da suplica fazia-se ouvir na sua voz. Era a primeira vez que a ouvia e não sem porquê mas ela foi tão saborosa e soube me tanto a vitória que considerei ouvi-lo, mas não sem antes o fazer sofrer um pouco mais...não ia encurtar o meu prazer ...seria um sacrilégio.

-Chefinho, não me poderás dizer nada que eu já não tenha ouvido antes e não tenciono fazer nada para te ajudar...a menos que eu ganhe algo com isso.

-Que queres dizer com "a menos que eu ganhe algo com isso"?

-O que acabaste de ouvir, se quiseres a minha ajuda por cada hora trabalhada terei direito a mais uma semana de férias. Se estiveres de acordo com isso podemos conversar, se não a porta da rua é ali e por favor use-a.

-Não pode fazer isso...

-Posso e faço-o

Levantando as mãos em sinal de rendição.- OK, ganhaste, mas só desta vez.- Sabia que ele não se iria render assim facilmente, conhecia-o bem demais para saber que ele estava a capitular mas que na sua cabeça já se desenhava um plano para tirar vantagem ou mesmo anular a minha barganha.Mas  de qualquer forma estava intrigada...que história de amor era tão importante que ele estava disposto a me conceder mais férias para a ver resolvida.

-Começa a contar para que precisas da minha ajuda.


1, 2,3... Lá vou eu outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora